O mês de fevereiro registrou a maior inflação para o período em 22 anos, conforme dados divulgados recentemente pelo IBGE. Entre os itens que mais pressionaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a conta de luz aparece como um dos principais vilões. Mas essa percepção, à primeira vista alarmante, não reflete exatamente a realidade.
A conta de luz não teve uma disparada em fevereiro. O preço da energia que chega às casas dos consumidores permaneceu no mesmo patamar do mês anterior. O que aconteceu foi que, em janeiro, houve um desconto excepcional devido ao chamado bônus de Itaipu — um abatimento tarifário, pago em parcela única, decorrente do excedente de geração da usina binacional ao longo de 2024. Com o fim do benefício, a fatura voltou ao seu valor normal, dando a impressão de aumento.
Isso, no entanto, não significa que a conta de luz não pesa no bolso dos consumidores. Pelo contrário: a tarifa de energia no Brasil é elevada, mas não apenas pelos custos de geração, transmissão e distribuição. Quase 40% do valor pago na conta de luz são tributos, encargos e subsídios, que ao longo dos anos transformaram a fatura em um verdadeiro “balaio” de custos adicionais, muitos deles destinados a benefícios específicos.
E o cenário pode piorar. No fim de 2024, ao aprovar o marco legal das usinas eólicas offshore, o Congresso Nacional incluiu no projeto uma série de “jabutis” — medidas sem relação direta com o tema central — que poderiam aumentar ainda mais as tarifas. Segundo estimativas da consultoria PSR, essas mudanças poderiam elevar as contas de luz em cerca de 9%, impactando o IPCA em aproximadamente 0,35 ponto percentual. Esse efeito inflacionário também pressionaria os custos de produção, refletindo no preço final de bens e serviços para a população.
Diante desse risco, o Presidente da República vetou as emendas que encareceriam a energia elétrica. No entanto, o Congresso ainda analisará em breve esses vetos e é fundamental que a sociedade acompanhe essa decisão de perto. Manter os vetos significa evitar mais um peso na fatura de energia e, consequentemente, no bolso de milhões de brasileiros.
• Por: Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).