Um dos grandes nomes da arte, com reconhecimento internacional, Vik Muniz mostra em Fortaleza quinze trabalhos da série “Dinheiro Vivo”, iniciada em 2022, feita exclusivamente com cédulas descartadas pela Casa da Moeda. A série compreende dois grupos de trabalhos: os que reproduzem os animais que estampam as notas, e as criadas a partir das pinturas de paisagens brasileiras dos chamados artistas viajantes, do século 19. Para a exposição na Multiarte, Vik Muniz criou especialmente a obra “Paisagem no interior da mata tropical no Brasil com figuras, a partir de Johann Moritz Rugendas” (série “Dinheiro vivo”, 2025). A pintura original de Rugendas, em óleo sobre tela, com 46 x 36 cm, feita em 1842, e pertencente a uma coleção particular de São Paulo, estará na exposição, ao lado da recriação de Vik Muniz. A exposição é uma parceria entre a Multiarte e a galeria Nara Roesler, que representa o artista. O artista, nascido em 1961, em São Paulo, e que divide seu tempo entre Nova York e o Rio de Janeiro, é filho de pai cearense, de Santa Quitéria.
— Dinheiro É Papel e É Moeda. É meio circulante e meio de comunicação. Dinheiro é princípio, meio e fim. Significado e significante, no verso e no anverso. Dinheiro é cifra e cifrão — o código cifrado que todo mundo no mundo inteiro entende. Dinheiro é cara e coroa, é efígie e emblema — e pode ser problema. Mas dizem que dinheiro na mão é a solução. E solidão.
Vik Muniz passou boa parte da vida correndo atrás do dinheiro, porém viveu mais tempo disposto a investigar a relação entre os objetos e a sua representação. Entre o signo e a coisa em si. E, no fim das contas, o que pode ser mais simbólico do que o dinheiro? Assim, eis aqui o dinheiro como meio, mensagem e representação de si mesmo. Picotado, recortado, repartido e aos pedaços — e depois colado e rejuntado, para revelar quanto vale o dinheiro quando já não vale nada. Sim, essa exposição nasceu de um saco cheio de dinheiro, cujo destino era o último lugar onde se supõe que o dinheiro vá parar: na reciclagem.
Após visitar os meandros invioláveis da Casa da Moeda, essa casa de papel onde o Brasil imprime seu real, Vik Muniz saiu de lá munido de sacos cheios de dinheiro. Dinheiro morto: eram mil folhas de notas descartadas que seriam recicladas. Tais cédulas Vik tratou de transmutá-las em células de novos organismos, já que em seu DNA de artista está o dom de transubstanciar. E, assim, imagem e objeto se desassociam, abrindo o espaço para discutir o valor não só do signo, mas das cifras: afinal, o dinheiro vale o quanto compra ou o quanto expressa? Vale o quanto pesa? E a arte, vale quanto? De quebra, qual o valor da vida selvagem impressa e imprensada na selva das cidades? Pois ao conferir vida nova às tartarugas-marinhas, aos micos-leões-dourados, aos lobos-guarás, às garças e às onças-pintadas das velhas cédulas de real, numa espécie de desembarque dos bichos pós-dilúvio universal, Vik ressignifica também a expressão “dinheiro vivo”, título da mostra que expõe nossa moeda corrente pelas matas, margens e mangues, a escorrer pelas águas e esvoaçar pelos ares sem sair do papel. E longe de ser criptomoeda.
Mas cabe lembrar que, se o próprio dinheiro está em extinção — pelo menos no papel —, perigos bem maiores rondam a fauna e a flora brasileiras. Até porque, há bem pouco tempo, o Brasil estava na mão daqueles que achavam que a floresta e seus habitantes não valiam um dólar furado e botaram o país à venda por 30 dinheiros. No entanto, essas colagens despontam como novo jogo do bicho, no qual Vik fez sua fé. E, assim como as árvores viram carvão no quadro clássico de Taunay, essas notas aos peda ços se reúnem e se reagrupam para conceder ao Brasil um sopro de vida e um sopro de imaginação. Afinal, Vik é louco, mas não rasga dinheiro. Só recorta e cola. E isso não tem preço— diz o texto do historiador Eduardo Bueno.
—Fui pesquisar. É interessante as pessoas entenderem que quando o artista trabalha ele não tem todo o conhecimento do assunto, e que ele continua aprendendo com a obra, mesmo depois que ele acabou—diz Vik. —Dinheiro, dentro de todos os veículos de troca simbólica que usamos, como uma imagem, é a mídia mais objetiva, mais direta. Ele significa algo que você terá. Você troca o dinheiro por alguma coisa física. Sempre vi o dinheiro como meio de comunicação— afirma Vik Muniz.
Exposição “Vik Muniz — Dinheiro Vivo”, até 30 de maio de 2025, de segunda a sexta-feira, das 10 às 18 horas, e aos sábados, das 10 às 16 horas, no Multiarte, Rua Barbosa de Freitas, 1.727, Fortaleza (CE) Telefones: (85) 3261-7724 | [email protected] | Entrada gratuita.