Volume implica queda de 10,4% frente ao mesmo mês de 2024; receita, devido aos elevados preços internacionais, é recorde para meses de fevereiro. Os embarques de café do Brasil subiram para 33,452 milhões de sacas no acumulado dos oito primeiros meses da safra 2024/2025, a soma de US$ 9,723 bilhões, alta de 8,8% em volume e 59,8% em receita cambial na comparação com o intervalo de julho de 2023 a fevereiro de 2024.
De acordo com relatório estatístico mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), divulgado no dia 13 de março (quinta-feira), o país exportou 3,274 milhões de sacas de 60 quilos do produto no segundo mês de 2025, o que representa uma queda de 10,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em receita, contudo, a performance é 55,5% superior, rendendo US$ 1,190 bilhão ao país — montante recorde para meses de fevereiro —, refletindo as cotações elevadas no mercado global.
Com a performance no mês passado, os embarques de café do Brasil subiram para 33,452 milhões de sacas no acumulado dos oito primeiros meses da safra 2024/2025, proporcionando divisas de US$ 9,723 bilhões. Ambos os desempenhos são recordes para esse período e implicam altas de 8,8% em volume e 59,8% em receita cambial na comparação com o intervalo de julho de 2023 a fevereiro de 2024.
Ano civil — No primeiro bimestre deste ano, o Brasil embarcou 7,278 milhões de sacas de café, registrando declínio de 5,4% em relação aos 7,694 milhões aferidos nos dois primeiros meses de 2024. Acompanhando o desempenho mensal, a receita cresceu 58,4% no agregado de janeiro e fevereiro, saltando para US$ 2,516 bilhões, ante o US$ 1,588 bilhão aferido em idêntico intervalo no ano passado.
—Embora as bolsas internacionais tenham recuado das recentes máximas, os preços atuais e as cotações médias dos últimos meses são significativamente maiores daqueles praticados no mesmo período do ano anterior, o que justifica os recordes em receita— explica Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Contudo, ele recorda que o Brasil está em período de entressafra, o que faz com que, nos últimos meses e atualmente, os diferenciais de preço dos cafés conilon e robusta do país, contra a bolsa de Londres, não estejam competitivos frente aos de outras importantes origens produtoras, como o Vietnã, cujos cafés estão com cotações bem mais atrativas que as dos canéforas brasileiros.
Ferreira completa que, da mesma forma, também os arábicas nacionais estão mais caros frente aos diferenciais do produto de países da América Central na bolsa de Nova York. —Esses fatores devem seguir impactando o desempenho das exportações do Brasil, que podem seguir em menores volumes nos meses seguintes —relata.
Ainda em relação ao arrefecimento dos embarques, o presidente do Cecafé menciona uma eventual e pontual redução no consumo global da bebida. —Os recordes de preços registrados no cenário nacional e internacional estão longe do que já foi repassado pelas indústrias no Brasil e lá fora e mais distante ainda daquilo que os supermercados repassaram aos consumidores. Ainda que vejamos mais retrações nas bolsas, novas altas nos preços ao consumidor não devem ser descartadas, haja vista essa grande defasagem. Esses potenciais aumentos terão impacto direto na inflação das economias nos países consumidores, produtores ou não, e gerarão uma redução no consumo —analisa.
De acordo com o presidente, o squeeze financeiro, com redução de linhas de crédito, que não acompanharam a alta do café commodity em dólar ou em reais, também tem se tornado um “fator de enorme relevância” para a redução do fluxo de comércio.
—Essas alterações bruscas no preço, tanto interna, quanto externamente, têm gerado demandas recordes de recursos em dólares, para a cobertura de margens de variação jamais vistas nos mercados de futuros, o que pode ter impacto negativo nos preços, embora esses ainda devam ficar em níveis interessantes ao produtor, dado o apertado equilíbrio entre oferta e demanda. No caso do Brasil, maior produtor global, as respostas virão após a colheita, quando tivermos, com clareza, o rendimento da safra 2025/2026 —projeta.
Completando, ele cita que, passado o período futuro de inverno no Brasil, caso não ocorram significativas intempéries climáticas e venha o eventual retorno das chuvas em bons volumes, “gerando boa florada” à safra 2026/2027, será possível vislumbrar uma colheita que propicie a recuperação da produção nacional, já que, no geral, as lavouras estão bem-preparadas devido aos investimentos e bons tratos culturais, que foram possíveis em função dos bons preços obtidos pelos cafeicultores.
—No momento, a certeza para a safra 2025/2026 é de um volume bem menor (ante o ciclo 2024/2025) para o arábica e maior ao conilon. Com esse cenário, devemos ficar aquém dos recordes de exportação verificados no ano passado, mas, ainda assim, com uma participação representativa, mantendo o país como o maior produtor e exportador global, sem perdas do nosso histórico market share— conclui o executivo.
Principais destinos —Os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés do Brasil no primeiro bimestre de 2025, com a importação de 1,206 milhão de sacas, o que equivale a 16,6% do total, apesar de representar um declínio de 12,3% na comparação com janeiro e fevereiro de 2024.
A Alemanha, com 12,1% de representatividade, adquiriu 878.350 sacas (-29,4%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vieram Itália, com a importação de 531.260 sacas (+9,1%); Japão, com 478.844 sacas (+3,9%); e Turquia, com 354.904 sacas (+88,7%).
É válido salientar que, apesar de seus cafés estarem mais competitivos que os brasileiros no primeiro bimestre, Vietnã e Indonésia, segundo e quarto maiores produtores globais, seguem aumentando suas importações do grão verde (in natura) do Brasil. Os vietnamitas adquiriram 72.836 sacas nos dois primeiros meses deste ano e os indonésios 47.471 sacas, apresentado incrementos de 297,3% e 29,2%, respectivamente.
— Muitas dessas exportações para Vietnã e Indonésia são de contratos fechados ainda em 2024, quando nossos robusta e conilon estavam mais competitivos. Vale lembrar que esses cafés já deveriam ter saído de nossos portos se não enfrentássemos intensos gargalos logísticos devido à defasagem de nossa infraestrutura portuária, que gera inúmeros e constantes atrasos de navios, alterações de escalas e rolagens de cargas— explica Ferreira.
Tipos de café — Em janeiro e fevereiro, o café arábica, com o envio de 6,069 milhões de sacas ao exterior, permaneceu como o mais exportado pelo Brasil. Esse montante equivale a 83,4% do total embarcado, mesmo implicando leve queda de 0,7% frente ao primeiro bimestre de 2024.
Na sequência, com o equivalente a 640.996 sacas remetidas para fora do país, apareceu o segmento do café solúvel, que registrou um incremento de 16,5% na comparação com os dois primeiros meses do ano passado. Esse tipo de produto respondeu por 8,8% das exportações totais no período atual.
Os cafés canéforas (conilon + robusta), com 559.928 sacas – recuo de 45,5% e 7,7% do total –, e o produto torrado e torrado e moído, com 7.993 sacas (+63,9% e 0,1% de representatividade), completaram a lista.
Cafés diferenciados — Os cafés que possuem qualidade superior ou certificados de práticas sustentáveis responderam por 24,8% das exportações totais brasileiras no primeiro bimestre deste ano, com a remessa de 1,801 milhão de sacas ao exterior. Esse volume é 14,7% superior ao registrado em janeiro e fevereiro de 2024.
A um preço médio de US$ 398,47 por saca, a receita cambial com os embarques dos cafés diferenciados foi de US$ 717,7 milhões, o que correspondeu a 28,5% do obtido com todos os embarques de café no primeiro bimestre de 2025. No comparativo anual, o valor é 101,1% superior ao registrado nos dois primeiros meses do ano passado.
Os EUA também lideraram o ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados, com a compra de 351.205 sacas, o equivalente a 19,5% do total desse tipo de produto exportado.
Fechando o top 5, apareceram Alemanha, com 228.840 sacas e representatividade de 12,7%; Bélgica, com 179.510 sacas (10%); Japão, com 125.646 sacas (7%); e Holanda (Países Baixos), com 118.806 sacas (6,6%).
Portos — O Porto de Santos permaneceu como o principal exportador dos cafés do Brasil no primeiro bimestre, com 5,637 milhões de sacas e representatividade de 77,5% no total. Na sequência, vieram o complexo portuário do Rio de Janeiro, que respondeu por 18,2% dos embarques ao remeter 1,323 milhão de sacas ao exterior, e o Porto de Paranaguá (PR), que exportou 84.203 sacas e teve representatividade de 1,2%.
O Cecafé — Fundado em 1999, o Cecafé representa e promove ativamente o desenvolvimento do setor exportador de café nos âmbitos nacional e internacional. A entidade oferece suporte às operações do segmento por meio do intercâmbio de inteligência de dados, ações estratégicas e jurídicas, além de projetos de cidadania e responsabilidade socioambiental. Atualmente, possui 126 associados, entre exportadores de café, produtores, associações e cooperativas no Brasil, correspondendo a 96% dos agentes desse mercado no país.