Nos últimos anos, os riscos climáticos têm ganhado destaque nas discussões globais, impactando não apenas a sociedade em geral, mas também a economia e, principalmente, as empresas. Esses riscos podem ser divididos em físicos e de transição, sendo que ambos apresentam desafios significativos para o setor empresarial, exigindo ações proativas para mitigar impactos e promover a resiliência das organizações.
Os riscos físicos são aqueles relacionados aos eventos climáticos extremos, como enchentes, vendavais e secas prolongadas, outros desastres naturais. Eles podem provocar perdas financeiras diretas, como danos à infraestrutura e à produção. Por exemplo, inundações podem destruir plantações, enquanto ventos fortes podem danificar fábricas e equipamentos. Essas perdas materiais têm consequências econômicas diretas para as empresas, diminuindo a produtividade e afetando o desempenho financeiro.
Já os riscos de transição se referem aos desafios enfrentados pelas empresas em adaptar suas operações para uma economia mais sustentável. À medida em que os governos e a sociedade impõem novas regulamentações ambientais e políticas de sustentabilidade, empresas que dependem fortemente de combustíveis fósseis podem enfrentar dificuldades em se adaptar. A transição para práticas mais sustentáveis pode envolver custos elevados, multas ou a necessidade de reestruturar operações inteiras. No entanto, ignorar essa mudança pode ser ainda mais prejudicial no longo prazo, expondo as empresas a sanções e à perda de competitividade.
O Furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos em 2005, é um exemplo emblemático sobre como a falta de preparação para cenários climáticos extremos pode ter consequências devastadoras. O furacão, inicialmente previsto como de nível 2, rapidamente escalou para o nível 5, causando danos massivos e sendo um dos piores desastres ambientais da história dos EUA. Embora houvesse alguma preparação, as medidas não eram adequadas para o cenário extremo que se desenrolou.
Um dos principais problemas durante o Katrina foi a falta de comunicação e coordenação entre as agências governamentais e as empresas privadas. O tempo de resposta foi atrasado e a evacuação em massa não foi adequadamente organizada, o que agravou a situação. A tragédia serviu de lição para a importância de prever cenários de maior gravidade e garantir que tanto o setor público quanto o privado estejam preparados para agir rapidamente e de maneira coordenada.
No Brasil, a frequência de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, têm aumentado. As enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul, por exemplo, mostram desastres naturais nos quais os bloqueios a estradas e aeroportos dificultaram o socorro às áreas afetadas. As empresas brasileiras costumam ser ágeis em responder a catástrofes, mas, muitas vezes, essa resposta ocorre de forma improvisada, sem um planejamento prévio adequado, o que resulta em maiores prejuízos financeiros.
A gestão de riscos ambientais no Brasil ainda está em estágio inicial. O conceito de riscos ESG (Environmental, Social and Governance) é ainda pouco integrado ao planejamento das empresas, deixando-as vulneráveis a perdas que poderiam ser minimizadas com um mapeamento adequado. A falta de um diagnóstico anterior impede que ações preventivas sejam implementadas, aumentando os danos quando os desastres ocorrem.
As previsões climáticas para o futuro indicam um aumento na frequência e na intensidade de eventos extremos. O relatório do National Centers for Environmental Information (NCEI) revelou que, enquanto a média de desastres naturais era de 3,3 eventos anuais até 2017, desse período em diante o número saltou para 17 eventos por ano. Esse aumento dramático reforça a necessidade de as empresas incorporarem os riscos climáticos em suas estratégias de negócios, a fim de garantir sua continuidade e sobrevivência.
Adotar uma abordagem proativa é essencial. As empresas precisam investir em mapeamento de riscos, identificando áreas vulneráveis e implementando medidas preventivas. Isso pode incluir desde a instalação de equipamentos resistentes a condições climáticas extremas, até a adaptação de cadeias de suprimento e logística para garantir que operações críticas continuem funcionando durante crises. Além disso, é fundamental educar funcionários e a comunidade sobre como agir em emergências, criando uma cultura de resiliência. Preparar-se para esses eventos não apenas protege as empresas de perdas financeiras, mas também garante a segurança das pessoas e a continuidade dos negócios.
As catástrofes climáticas são uma realidade cada vez mais presente e desafiadora, e tanto os riscos físicos quanto os de transição exigem atenção e preparo. Ignorar esses riscos pode resultar em danos irreparáveis, enquanto se antecipar a eles permite que as empresas se adaptem e prosperem em um ambiente em constante mudança. A chave para o sucesso é integrar a gestão de riscos climáticos ao planejamento estratégico, promover a resiliência organizacional e adotar uma postura proativa diante das adversidades.
• Por: Daniela Coelho, diretora de Gestão de Riscos e Continuidade de Negócios da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados.| A Protiviti é uma empresa global, com 85 escritórios em 25 países, e mais de sete mil profissionais que atendem a 60% das empresas da Fortune 1000®. Reconhecida como Great Place To Work e com faturamento anual superior a USD 1,5 bilhão, atua por meio de uma rede de subsidiárias e firmas-membro independentes. No Brasil ela é representada pela ICTS, uma empresa brasileira de consultoria empresarial que combina a ampla experiência e serviços especializados em gestão de riscos, compliance, ESG, cybersecurity, privacidade, auditoria interna e investigação empresarial.
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