Reduzir o impacto ambiental na produção de alimentos é um dos principais desafios do Brasil, especialmente diante das metas estabelecidas na COP 21, que visam descarbonizar o planeta e limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. De acordo com o Observatório do Clima, o agronegócio é responsável por 73,7% das 2,4 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa lançadas anualmente na atmosfera, desafiando o setor a reduzir drasticamente suas emissões de carbono.
Em um contexto de incertezas climáticas, que tem gerado grandes variações no preço da energia (com as bandeiras verde, amarela e vermelha), ou até mesmo, nos piores casos, escassez e interrupções no fornecimento, a adoção de sistemas de irrigação movidos por energia solar surge como uma solução eficiente, econômica e sustentável. Esses sistemas asseguram uma produção agrícola mais estável, além de contribuírem para a redução do desperdício de alimentos.
O uso de fontes limpas, como solar e eólica, tem possibilitado que as fazendas se tornem mais sustentáveis e energeticamente autossuficientes, enquanto adotam tecnologias que ajudam a aumentar a produtividade das safras, sem prejuízos ao meio ambiente, como sistemas de irrigação automatizados abastecidos por painéis fotovoltaicos.
Estudos recentes sobre a produção de grãos mostram que um hectare irrigado pode produzir até 230 sacas de milho, versus as cerca de 135 sacas colhidas em condições sequeiras. Com esse foco, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) traçou uma meta de ampliar a área com adoção de sistemas irrigados em 3 milhões de hectares até 2030. Esse movimento tende a impulsionar ainda mais o uso de energia solar, viabilizando o cultivo em regiões distantes das subestações de energia, que hoje dependem de fontes mais caras e poluentes, como as termoelétricas.
De acordo com o Atlas Brasileiro de Energia Solar, o Brasil tem uma irradiação solar média em torno de 5.153 Wh/m², o que torna o País ideal para a captação de energia fotovoltaica, e muitos agricultores já perceberam os benefícios de abastecer seus sistemas de irrigação com eletricidade renovável. Uma localidade que teve a paisagem modificada é o Cinturão Solar, que inclui parte do Nordeste, o Sudeste e do Pantanal Mato-grossense.
A região nordestina do cinturão solar engloba áreas de sertão como Bahia e Piauí, que antes castigados pelo sol passaram a ser beneficiadas por ele, transformando irradiação em energia. Hoje é possível manter fazendas totalmente autossuficientes em termos energéticos, operando off grid, independente das concessionárias. Mas todas as regiões brasileiras têm potencial de geração solar podem tirar proveito das matrizes renováveis. A região Sudeste concentra a maior participação no percentual de área irrigada, com 39,8%, seguida pelo Sul com 25%.
Implantar uma usina fotovoltaica depende de investimentos em placas solares, inversores, baterias e outros equipamentos. Menores e com maior vida útil do que os geradores movidos a gás ou diesel, os sistemas de energia fotovoltaica tem baixo custo de manutenção. No Brasil há diversos incentivos dos governos federal e estaduais para projetos de energia limpa, facilitando a aquisição da infraestrutura. Desta forma, o investimento se paga ao longo do tempo derrubando os gastos operacionais (OPEX) com fornecimento de eletricidade.
Olhando para o futuro, fica evidente que a adoção de energias renováveis, como a solar, é essencial para garantir a sustentabilidade da agricultura e a segurança alimentar em um cenário de mudanças climáticas e demandas crescentes por produção eficiente. No entanto, se nada for feito para expandir o uso dessas tecnologias e estimular práticas mais sustentáveis, corremos o risco de enfrentar uma escalada nos custos energéticos, maior impacto ambiental e a incapacidade de atender às metas climáticas globais. O agronegócio brasileiro, ao adotar soluções como a irrigação sustentável alimentada por energia solar, tem a oportunidade de se consolidar como um protagonista na transição para um futuro mais verde e próspero.
• Por: Abelardo de Sá, Diretor de Energia e Infraestrutura do Grupo Fictor.