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19/11/2024

Communiqué do U20

Prefeitos de todo o mundo discutem cooperação, sustentabilidade e governança durante o G20. Reivindicações feitas geraram um documento que estima que as cidades precisarão de US$ 800 bilhões por ano até 2030 para enfrentar desafios causados pelas mudanças climáticas.

Sob a recepção do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, o encontro do Urban 20 (U20) de  87 prefeitos e delegações de mais de 100 cidades ao redor do mundo aconteceu no Armazém Utopia, na no Boulevard Olímpico.

Tenho muito orgulho de ter sediado aqui no Rio de Janeiro uma Cúpula U20 tão bem-sucedida e inspiradora— afirmou o prefeito do Rio de Janeiro e co-presidente do U20 2024, Eduardo Paes.

Após quatro dias de debates o fórum do G20 terminou com a entrega do assinado por representantes 50 cidades integrantes do U20, mais sete observadoras e 25 convidadas ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao todo, mais de 100 estiveram representadas nos debates. O enfrentamento de problemas relacionados às mudanças climáticas tem destaque no documento, que ressalta que os governos locais precisarão de algo em torno de US$ 800 bilhões anuais, até 2030, para investimentos capazes de mitigar o impacto nas cidades.

A expectativa é que o texto seja levado pelo Governo brasileiro para os debates na cúpula principal do G20, que acontecem hoje e manhã no Museu de Arte Moderna (MAM), com a presença dos chefes de Estado e de Governo das maiores economias do mundo.

Ao todo são 36 itens que abrangem temas como inclusão social e luta contra a fome e a pobreza; e reforma das instituições de governança global, além de desenvolvimento sustentável e transição energética.

Ao receber o Communiqué do U20 do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, co-presidente do U20 2024. Lula afirmou que —as cidades não podem custear sozinhas—, o financiamento da transição climática e frisou que, além de investimento global, é necessária uma —governança multilateral adequada—. —Há milênios, os assentamentos urbanos atraem as esperanças de milhões de pessoas. Seus mercados e comércios são pontos de contato entre sociedades muitas vezes distantes. Em suas ruas e suas praças, ideias se tornam realidade. Os municípios são catalizadores de mudanças profundas—frisou.

—As cidades concentram desafios, mas nelas também encontramos as soluções que buscamos. Elas são o lar dos agentes da mudança que almejamos realizar—concluiu.

Fontes de financiamento — Anfitrião do evento, Eduardo Paes afirmou que o mundo vive uma era de transformações globais e defendeu uma mudança na governança mundial, com o objetivo de garantir que as cidades tenham acesso a financiamentos internacionais para implementar soluções climáticas.

— Nós, prefeitos, sabemos quão duro pode ser o nosso ofício. Pedimos que os governos se comprometam a oferecer 800 bilhões de dólares por ano para enfrentar as mudanças climáticas até 2030. A diferença e as desigualdades entre as cidades do Hemisfério Sul precisam ser enfrentadas — disse o prefeito do Rio.

A preocupação com a obtenção de fontes de financiamento para projetos que preparem as cidades para as mudanças climáticas e o impacto que a eleição de Donald Trump pode ter sobre os esforços para mudar a matriz energética americana foram temas da entrevista coletiva que encerrou o U20.

— De onde virão os recursos, essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. Nós entregamos ao G20 um manifesto porque eles que têm a resposta. A gente entende que eles (os países mais ricos) devem colaborar com recursos. As emissões colaboraram com o cenário atual em que sofremos com enchentes, deslizamentos, incêndios florestais e ondas de calor — disse Yonne Aki-Sawyerr, prefeita de Freetown,capital de Serra Leoa, e co-presidente do C40 Cities.

O prefeito Eduardo Paes observou que, independentemente de recursos governamentais, há entidades de fomento interessadas em oferecer crédito para cidades.

—As cidades são o palco onde a batalha climática será ganha ou perdida: novas pesquisas da ARUP e do GCoM indicam que a ação climática nas cidades poderia alcançar até 40% da redução da lacuna global de emissões entre os planos climáticos nacionais atuais e o caminho de 1,5°C.— disse Mark Watts, diretor executivo da C40 Cities.

—Este Communiqué reconhece a necessidade urgente de uma maior colaboração entre líderes globais e as cidades em todos os níveis. Fiquei muito satisfeito em ver isso reconhecido formalmente na nova NDC do Brasil, por meio do apoio do presidente ao federalismo climático e ao entusiasmo que vimos pelo Programa Cidades Verdes Resilientes do Brasil—.

— Parabenizo os prefeitos das cidades do U20, que trabalharam incansavelmente para construir consenso entre as fronteiras e encontrar soluções comuns. Espero que os líderes do G20 ampliem esse multilateralismo renovado e se unam às cidades para enfrentar as crises interligadas de clima, pobreza e desigualdade—.

— A liderança e a ação decisiva de governos federais e municipais estabelecem um exemplo poderoso de colaboração necessária para enfrentar a crise climática e as desigualdades que ela agrava— afirmou

Antha Williams, Líder do Programa de Meio Ambiente da Bloomberg Philanthropies.

—Juntos, com os prefeitos do U20, estão traçando um caminho em direção a um futuro mais inclusivo e resiliente, mostrando ao mundo que a ação climática liderada pelas cidades é mais importante do que nunca—.

—Apelamos por uma ação acelerada dos governos do G20 para reduzir as emissões e implementar medidas de adaptação que fortaleçam a resiliência, ao mesmo tempo em que mobiliza diversas e distintas fontes de recursos para fechar a lacuna de financiamento climático urbano— afirma o Communiqué.

—Esta edição do Urban 20 apresenta uma oportunidade única de levar ao palco internacional um novo sistema multilateral que não separa as questões de fome, mudanças climáticas e financiamento urbano— declarou Emilia Saiz, secretária-geral da Cidades e Governos Locais Unidos (United Cities and Local Governments – UCLG, em inglês).

—As cidades, como esferas chave de governo, são o ponto de convergência das prioridades da população. Não podemos abordar esses desafios de forma isolada — eles estão profundamente interconectados, e é nas cidades que devemos desenvolver as soluções para enfrentá-los de maneira integrada, à medida que nos aproximamos da Quarta Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento e da Cúpula Social Mundial—.

A carta aprovada pelo U20 menciona que 56% da população mundial vive em áreas urbanas e que há expectativa de que esse percentual suba para 70% até 2050. O documento desta ainda que há atualmente mais de 50 conflitos armados no mundo que geram “impacto direto na cidade e nas suas populações” e consequências como aumento da inflação, da vulnerabilidade social, além de interferir também na segurança alimentar e energética.

Recomendações — O documento traz recomendações para os líderes globais. Entre elas, que o Brasil lidere o enfrentamento à fome e à pobreza, e a mobilização global contra as mudanças climáticas. O texto defende ainda a implementação, em escala global, de medidas para taxação fiscal progressiva, isto é, em que os maiores percentuais incidam sobre a parcela mais rica da população.

Proteção Social — Apoio global, nacional e local para proteger trabalhadores durante o processo de transição da economia e da matriz energética e enfrentar conflitos e crises provocados por desastres climáticos.

Alimentação e nutrição — O acesso igualitário à alimentação para todos como forma de combater a fome, especialmente com relação às crianças.

Igualdade — Reconhecer e garantir aos portadores de deficiências acesso igualitário à saúde, educação, empregos e acesso a serviços e infraestrutura digital de forma digna.

Direitos garantidos — Serviços públicos efetivos que garantam à população, água, saneamento, moradia e cuidados de saúde para se adequar às mudanças demográficas, inclusive de imigração.

Empregos verdes e sustentáveis — Investimentos em empregos sustentáveis, que devem ser feitos dialogando com os mais vulneráveis, inclusive com os que correm risco de perder postos de trabalho por conta da transformação digital.

Cultura — Compreender a cultura como elemento de criatividade, diversidade e transmissão de conhecimentos na agenda global do desenvolvimento sustentável.