marcelo-nardi

08/10/2024

A vida de um mineiro poupador

Em 1999, um jovem de vinte e poucos anos, morador de Belo Horizonte, encontrava-se em uma encruzilhada: o que fazer em um Brasil que começava a sentir os efeitos de uma economia estabilizada pelo Plano Real? Assim como muitos da sua geração, ele buscava um futuro promissor. Eu era esse jovem, cheio de sonhos e esperança de encontrar um emprego que não apenas me sustentasse, mas também me proporcionasse oportunidades de crescimento.

Foi assim que comecei a trabalhar como auxiliar de Tesouraria na Prosegur Cash, uma empresa de logística de valores e gestão de numerário.

Naquela época, o Plano Real, lançado em 1994, havia começado a estabilizar a economia brasileira. A inflação, que antes corria solta, parecia finalmente estar sob controle. O real, a nova moeda, circulava de mãos em mãos com uma sensação de renovação e esperança. Mas, se por um lado a sociedade estava começando a colher os frutos dessa política econômica, no meu pequeno mundo, na Prosegur, o processo de transformação estava apenas começando.

Isso porque, até então, na Prosegur, o dinheiro em papel era contado manualmente. Nosso único equipamento era uma calculadora com bobina de papel. Passávamos horas na Tesouraria contando notas, separando as cédulas por tipo e qualidade, agrupando em milheiros e armazenando-as em um caixa-forte. Uma visão muito diferente do imaginário das pessoas que assistem a desenhos animados e pensam que a nossa tesouraria é quase como a ‘Casa do Tio Patinhas’ onde o dinheiro forma pilhas enormes.

Na verdade, o ambiente era antiquado e, à primeira vista, um tanto desafiador para alguém que estava no primeiro ano de Engenharia Mecânica na PUC Minas. Naquela época, havia apenas um computador reservado ao supervisor do departamento.

Durante os períodos de alta inflação, que precederam o Plano Real, os preços dos produtos básicos subiam de forma rápida e imprevisível. Em alguns casos, os preços podiam dobrar em questão de semanas, ou até mesmo dias. A escassez de produtos essenciais era comum, pois os comerciantes preferiam estocar produtos em vez de vendê-los e enfrentar o risco de perdas devido à inflação. Isso levava a longas filas nos supermercados e a compras em grande quantidade para evitar os aumentos de preços. Imagine a dificuldade da Prosegur em transportar o dinheiro que passava por tanta variação e impactava o volume armazenado. O dinheiro tinha que ser coletado pelo carro-forte e depositado na conta do cliente rapidamente, antes que a inflação deteriorasse o valor arrecadado.

Assim como o Plano Real estava mudando o Brasil, a Prosegur também começaria a passar por transformações significativas. A comparação entre o cenário da época e o que viria a seguir é uma verdadeira jornada de evolução. Em 2002, a empresa adquiriu suas primeiras máquinas para validar e classificar cédulas. Elas eram importadas da Alemanha e do Japão, custando entre 22 mil e 300 mil reais cada, valores exorbitantes à época. Era um sinal claro de que a tecnologia e a automação seriam peças-chave no nosso cotidiano.

No entanto, essa jornada de transformação não foi isenta de desafios pessoais e profissionais. Em 2003, fui convidado a integrar a área de Operações em São Paulo, passando a atuar em nível nacional, deixando a tesouraria de Belo Horizonte. O desafio era auditar e recomendar melhorias nas filiais brasileiras da empresa. Eu hesitei em aceitar o convite, pois estava prestes a me formar e tinha planos pessoais de me casar. No entanto, a oportunidade foi tão significativa que decidi enfrentar o desafio e, assim, minha carreira e vida mudaram para sempre.

Chegando a São Paulo, encontrei um cenário muito diferente. A Prosegur era um ambiente dinâmico, e eu me tornei conhecido por todos como o “mineiro poupador”. Durante dois anos, viajei por diversos locais e, apesar das dificuldades e dos desafios, no auge dos meus 24 anos, aprendi a lidar com a resistência às mudanças e entendi a importância de inovar e da melhoria contínua.

Em 2005, a Prosegur assumiu a Tesouraria do Banco do Brasil no Rio de Janeiro e, com isso, veio uma nova era de eficiência. Introduzimos uma máquina americana inédita até então, capaz de contar 120 mil cédulas por minuto. A transformação tecnológica não apenas facilitou nosso trabalho, mas também ajudou a empresa a se manter competitiva em um mercado em rápida evolução.

Nos anos seguintes, a empresa continuou sua trajetória de crescimento e inovação, assim como o Brasil evoluiu com o Plano Real. Posso dizer que estou na empresa há quase o mesmo tempo que o Real existe no Brasil. Chegar à posição que ocupo hoje, de diretor de operações, foi desafiador, mas também uma jornada de descobertas, atualizações constantes e muito conhecimento adquirido.

A digitalização do dinheiro e o surgimento de novas formas de pagamento, como o Pix e as criptomoedas, foram sinais claros de que o mundo estava mudando. Entretanto, a importância do transporte de valores e do dinheiro em espécie ainda se mantém, especialmente em regiões afastadas ou em momentos de crises e calamidades, como recentemente nas enchentes no Rio Grande do Sul ou durante a pandemia de Covid-19, quando o dinheiro desempenhou um papel importante, sendo a única alternativa de pagamento em algumas situações para enfrentar a dificuldade momentânea. O dinheiro em papel pode parecer um vestígio do passado, mas a pandemia deixou claro que, para muitas pessoas, ele ainda é essencial.

As mudanças tecnológicas e econômicas que testemunhei ao longo da minha carreira foram profundas, mas uma coisa permanece: a necessidade de adaptação e inovação.

O “mineiro poupador”, ex-auxiliar de tesouraria, continua buscando novas formas de trabalhar e transformar vidas, dentro e fora da companhia. A jornada de um jovem sonhador vindo de Belo Horizonte reflete, de muitas maneiras, a evolução do Brasil e da Prosegur. E assim, entre cédulas e tecnologias, sigo em frente, sempre em busca de novos desafios e oportunidades, reinventando-me a cada novo ciclo.

Por: Marcello Nardi, Diretor de Operações da Prosegur Cash.