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17/09/2024

O papel da Índia na movimentação do mercado de óleo de palma

País é o maior importador do produto no mundo e se destaca pela alta influência nos preços globais.

O óleo de palma é o óleo vegetal mais consumido no planeta. É utilizado em alimentos como o chocolate e a margarina, mas também em cosméticos como sabonetes, shampoos e detergentes. Em 2022/23, o consumo mundial de óleo de palma chegou a cerca de 78 milhões de toneladas métricas.

Um dos motivos para o alto consumo e popularidade como matéria prima é o seu alto rendimento. Os dendezeiros produzem mais óleo por hectare do que qualquer outra planta com sementes oleaginosas (cerca de 45-55%). Apesar de ter um custo baixo, o óleo de palma tem uma excelente qualidade ao ser comparado a outras mercadorias da mesma classe.

A Índia é a maior importadora do óleo de palma no mundo e se destaca devido a sua alta influência nos preços globais, além do seu grande potencial como produtora. Neste artigo, analiso o papel da Índia na movimentação do mercado, dados sobre o consumo e importação do país e principais desafios da indústria.

Destaco, inclusive, que o consumo indiano de óleo de palma é tão significativo que impacta diretamente as economias da Indonésia e da Malásia, que dependem das exportações para a Índia. Está presente em uma vasta gama de produtos, atendendo a uma população de 1,4 bilhão de pessoas, o que representa aproximadamente 20% da população mundial.

A relação da Índia com o óleo de palma — A Índia é o segundo maior consumidor de óleo de palma no mundo, atrás apenas da Indonésia (que também é líder global na produção). O país tem uma alta demanda para consumo interno do produto, atingindo a média de 9-10 milhões de toneladas consumidas por ano, na última década.

Contudo, o país indiano alcança apenas o 13º lugar em produção mundial, de acordo com os dados do USDA. O órgão afirma que a Índia atingiu apenas 0,4% do total de óleo de palma produzido no planeta em 2023, com 305 mil toneladas métricas.

Devido à alta necessidade interna, a Índia se tornou o maior importador de óleo de palma mundial. A nação utiliza o produto de várias maneiras, inclusive como óleo comestível, em cosméticos e como biocombustível. Em 2022, o país asiático importou mais que o dobro do que a China, que foi a segunda maior importadora global. A influência do consumo de óleo de palma da Índia se estende além de suas fronteiras, desempenhando um papel crucial na estabilidade econômica dos principais países exportadores, como a Indonésia e a Malásia.

A Indonésia e a Malásia são os dois principais países que fornecem o óleo de palma para a Índia, seguidos pela Tailândia, Singapura e Papua Nova Guiné. Em junho de 2024, as importações deste produto aumentaram ainda mais devido à forte demanda das refinarias para os próximos festivais indianos. De acordo com a Forbes, houve um crescimento de 3% nas importações de junho, comparadas ao mês anterior. Isso significou o maior número nos últimos 6 meses.

A volatilidade dos preços do óleo de palma no mercado global está diretamente ligada às flutuações na produção e exportação de países-chave como Indonésia e Malásia, além das políticas de importação de grandes consumidores como a Índia.

Índia pretende fortalecer sua produção interna de óleo de palma — A alta dependência da Índia por importações tem influenciado o país a buscar maior autossuficiência na produção de óleo de palma. Uma das ações mais fortes lançadas pelo governo indiano foi a Missão Nacional de Óleos Comestíveis (NMEO, em inglês). O programa busca aumentar a área cultivada de óleo de palma no país, além de fortalecer a economia interna.

De acordo com o site do NMEO, apenas 370 mil hectares estão sob cultivo de óleo de palma no país indiano. Porém, o governo nacional estima uma capacidade de 2,8 milhões de hectares que ainda podem ser cultivados no território.

A meta de expansão nas lavouras de óleo de palma na Índia é alcançar a marca de 1 milhão de hectares até 2025, além de aumentar a produção para 1,12 milhões de toneladas no mesmo período.

Mapa divulgado pelo programa sobre as áreas que ainda podem ser aproveitadas para o plantio do óleo de palma:

Além disso, acordos entre a Índia e a Malásia buscam aumentar a cooperação bilateral no cultivo de óleo de palma. A Malásia contribui com 3 milhões de toneladas métricas do produto para a Índia todo o ano. Os países visam fortalecer seus laços para compartilhar conhecimentos na produção, pesquisas, reforçar acordos e mais.

A Índia é o maior comprador de óleo de palma do mundo, portanto, qualquer mudança de política terá um impacto imediato sobre os preços do óleo de palma. Os estoques de óleo comestível da Índia estão sob estresse, apesar dos fortes volumes de importação. E, isso deve-se à voraz demanda doméstica do país, à medida que os ganhos da classe média aumentam e as margens de refino permanecem atraentes. Quaisquer ajustes na política para limitar os influxos de óleo comestível poderão resultar em um aumento nos preços do óleo comestível no país, alimentando as perspectivas de inflação mais alta e, ao mesmo tempo, aumentando os estoques potenciais na Malásia e na Indonésia, o que reduzirá os preços.

A Índia continuará sendo um participante importante nas importações de óleo comestível por um longo tempo, portanto, qualquer conversa sobre mudanças na política de óleo comestível, especialmente perto do período do orçamento federal em fevereiro, provavelmente causará volatilidade nos preços.

Aumento das importações do óleo de palma na Índia e seus efeitos econômicos 0151Como maior importadora de óleo de palma no mundo, a Índia influencia os preços deste produto. O recente aumento nas importações, por exemplo, elevou a demanda global e impactou os preços internacionais. Países exportadores, como a Indonésia e a Malásia, também são pressionados em situações como essas e precisam ajustar sua produção e seus valores para atender a crescente demanda impulsionada pela Índia.

Conforme a The Economic Times, a Malásia tem negociado o óleo de palma perto do seu nível mais alto nos últimos meses. Essas flutuações nos preços não afetam somente o país indiano: várias nações importadoras também podem sentir o aumento nos valores.

A queda nas exportações da Malásia, combinada com o aumento na produção, pressiona os preços do óleo de palma, especialmente em um cenário de estoques elevados. A expectativa é que essa pressão continue a influenciar o mercado global a curto e longo prazo.

Além disso, um mercado mais competitivo também pode impactar outros produtos concorrentes. Em junho, por exemplo, as importações de óleo de soja caíram 16% (para 273.000 toneladas) e o aumento das importações de óleo de palma foi um dos fatores contribuintes.

Em contrapartida, o governo indiano também tem suas ferramentas para controlar os preços dos produtos, pelo menos temporariamente. Nestes casos, é possível reduzir as taxas de importação do óleo de palma para equilibrar os valores do mercado (como já aconteceu com os óleos refinados de soja e girassol na Índia).

. Por: Vipul Bhandari, Head of Desk da Hedgepoint EMEA. | A Hedgepoint Global Markets é uma empresa especializada em gestão de risco, inteligência de mercado, e execução de hedge para a cadeia de valor global de commodities, com larga experiência nos mercados agrícolas e de energia. Está presente em cinco continentes e oferece aos clientes produtos de hedge baseados em tecnologia e inovação, mantendo o cliente como ponto central de todos os processos. A companhia trabalha com mais de 60 commodities e mais de 450 produtos de hedge em sua plataforma.