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12/05/2024

Analistas comentam sobre a redução da taxa Selic em 0,25% pelo Copom

. Cassiano Jardim, diretor de investimentos da Barzel Properties — A recente decisão do Banco Central de reduzir a taxa Selic em 0,25%, alcançando o patamar atual de 10,50%, reflete uma abordagem mais cautelosa em resposta às influências do mercado externo e às condições econômicas internas. Essa mudança na política monetária, embora sutil, tem implicações significativas para o mercado de fundos imobiliários, que é sensível às flutuações das taxas de juros. Historicamente, existe uma correlação negativa entre a taxa Selic e os fundos imobiliários; quando a Selic sobe, a rentabilidade dos fundos tende a diminuir e vice-versa. A redução da Selic pode tornar os financiamentos imobiliários mais atrativos, potencialmente aumentando a demanda no mercado imobiliário. No entanto, é importante notar que os preços das cotas dos fundos imobiliários são mais diretamente afetados pelos juros futuros, que são utilizados nos modelos de precificação dos ativos, como o fluxo de caixa descontado (DCF).

A precificação dos fundos imobiliários e a expectativa de risco futuro são fatores cruciais que os investidores consideram ao tomar decisões. Com a redução da Selic, pode haver um aumento no custo de oportunidade, levando os investidores a buscar alternativas com retornos potencialmente mais altos. Além disso, a tendência de queda da Selic, mesmo que a um ritmo mais lento, sugere que o mercado imobiliário pode não experimentar um crescimento significativo nos preços ou na atividade de locação no curto prazo. Isso é particularmente relevante no contexto de um período eleitoral, onde os bancos centrais tendem a evitar ajustes drásticos que possam influenciar o processo eleitoral ou gerar debates sobre sua independência.

No segmento corporativo e logístico, a melhora gradual continua, com uma diminuição nas taxas de vacância e um aumento nas locações, embora sem grandes aumentos de preço. A região da Faria Lima em São Paulo, por exemplo, viu os preços por metro quadrado atingirem R$ 300, mas agora estão estagnados, e o preenchimento de espaços vagos está ocorrendo lentamente. No setor logístico, áreas próximas a grandes centros urbanos estão vendo um aumento nos preços, enquanto mercados mais distantes enfrentam desafios adicionais.

A decisão dividida do Banco Central sobre o corte de 0,25% reflete a complexidade das condições econômicas atuais e a necessidade de equilibrar o crescimento econômico com a estabilidade financeira. Os investidores em fundos imobiliários devem permanecer atentos às tendências macroeconômicas e às políticas monetárias, pois elas têm o poder de influenciar significativamente o desempenho de seus investimentos. A análise cuidadosa desses fatores pode ajudar a navegar pelas incertezas do mercado e a tomar decisões de investimento mais informadas. Parte votou pelo corte de 0,25%, parte votou por uma redução maior. Há uma dinâmica entre aqueles que preferem uma desaceleração da economia e acham que uma redução mais acelerada ajudaria nisso e os que defendem a cautela, considerando que a inflação responde, mas não na medida desejada. Ainda há alguma pressão nesse sentido.

. Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos — A decisão era considerada como mais provável pelo mercado, uma vez que as opções de corte de 0,25% encerraram o dia de hoje com uma probabilidade de 87%. Em comparação com o comunicado anterior, o Copom reconheceu que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado maior dinamismo do que o esperado”. O comitê mencionou a mudança de meta, reforçando que uma política fiscal crível era importante para a descompressão nos prêmios de riscos. Os eventos no Rio Grande do Sul não foram mencionados. A decisão foi o resultado de um placar apertado, com 5 votos a favor de um corte de 0,25% e 4 a favor de um corte maior. Além da divisão do comitê, vale a pena mencionar que todos os diretores nomeados pelo governo votaram a favor da continuação do ritmo de juros. Um ponto importante é que o Copom deixou em aberto a possibilidade de novos ajustes futuros na taxa de juros, afirmando que “a extensão e a adequação dos ajustes serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.” No momento atual, dada a diminuição da incerteza externa, acredita-se que seja mais provável mais um corte de 0,25% na próxima reunião. O Copom revisou suas estimativas de inflação, projetando agora uma taxa de 3,8% para 2024 (antes: 3.5%) e 3,3% para 2025 (antes: 3.2%) em seu cenário de referência. Observa-se que metade da deterioração para 2024 vem da alta para 4.8% dos preços administrados, o que pode ser difícil de entender. A previsão da Constância, considerada “pessimista”, está em 3.60%. Não mencionei um ponto importante: as expectativas são descritas como desancoradas (antes: parcialmente ancoradas).

. Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos — A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa Selic em 0,25% reflete uma abordagem cautelosa diante de um cenário econômico complexo. A divisão de votos dentro do Copom, com uma margem estreita de 5 a 4, sugere um debate interno significativo sobre o ritmo da política monetária. A postura dos diretores do Banco Central, indicados pelo presidente Lula, em favor de um corte maior, contrasta com a decisão final do comitê, que optou por uma redução mais moderada. Esta escolha pode ser interpretada como uma resposta às incertezas globais, particularmente em relação à política monetária dos Estados Unidos, que continua a exercer influência sobre as economias emergentes.

A comunicação do Banco Central durante o evento do Fundo Monetário Internacional (FMI) parece ter preparado o mercado para essa decisão mais conservadora, apesar das expectativas anteriores de um corte mais substancial. A relação entre as políticas monetárias do Brasil e dos Estados Unidos é complexa e, embora o Banco Central afirme que os eventos nos EUA não são determinantes para as decisões locais, é inegável que há um impacto que precisa ser considerado nos próximos meses.

A manutenção de uma taxa Selic restritiva, mesmo com os cortes recentes, levanta questões sobre se o Copom poderia ter aproveitado melhor as condições de mercado favoráveis no final de 2023 e início de 2024. A hesitação em acelerar os cortes naquele momento pode ser vista como uma oportunidade perdida para equilibrar melhor as taxas de juros com as necessidades da economia brasileira.

Olhando para trás, a comparação entre as metas de inflação e as taxas de juros durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma e o mandato de Alexandre Tombini mostra uma consistência na abordagem do Copom, apesar das críticas recebidas por não atingir o teto da meta de inflação. A expectativa de que o Copom mantenha um corte de 0,25% na próxima reunião sugere uma continuidade dessa política cautelosa. Argumentar contra a redução contínua dos juros pode ser desafiador, especialmente se o objetivo for manter a estabilidade econômica e a confiança do mercado.

Em resumo, a decisão do Copom reflete uma balança entre prudência e reatividade, buscando navegar por um ambiente econômico incerto sem comprometer os objetivos de longo prazo de estabilidade de preços e crescimento sustentável. A trajetória futura da política monetária brasileira dependerá de como essas variáveis globais e domésticas evoluem, e se o Banco Central conseguirá ajustar a taxa Selic para níveis que promovam a recuperação econômica sem alimentar pressões inflacionárias.

A classe política já se posicionou fortemente contra uma Selic tão elevada, a inflação está controlada em diversos aspectos e os empresários também são contrários a uma taxa tão alta. Assim, os diretores do Banco Central optaram por um corte menor para manter a Selic em patamares mais elevados. Eles ficarão cada vez mais isolados, especialmente considerando a iminente saída de Campos Neto e também de Carolina Barros e Otávio Damaso no final deste ano. Por fim, considerando todos esses fatores, acredito que para 2025 e 2026 o mercado deve precificar juros menores, pois já está claro que outros diretores indicados pelo presidente Lula têm uma visão de que a taxa deveria estar em níveis mais baixos.

. Túlio Menezes, gestor de recursos CGA do Grupo Fractal — Então, para dar um panorama mais abrangente do que ocorreu na noite de hoje com a decisão do Copom, é importante ressaltar que o comitê optou por reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, fixando-a em 10,50% ao ano. Este movimento era amplamente esperado pelo mercado, que vinha moldando suas expectativas em função do cenário econômico, tanto nacional quanto internacional.

No âmbito internacional, observamos nas últimas semanas um discurso mais enfático por parte do comitê americano, o que sinaliza a possibilidade de corte de juros nos Estados Unidos. Esse posicionamento impacta não somente a economia local, mas também outros países emergentes, podendo exercer pressão sobre as taxas de câmbio e as condições econômicas globais.

Ao analisar o cenário interno, percebemos que os dados de inflação têm sido mistos, gerando interpretações diversas. Alguns indicadores reforçam a necessidade de cortes na taxa de juros, enquanto outros apontam para uma economia mais aquecida e um mercado de trabalho resiliente. Além disso, a situação fiscal do país tem sido motivo de preocupação, com revisões das metas e incertezas em relação ao seu cumprimento.

Diante desse contexto complexo, o Copom adotou uma postura cautelosa ao decidir pelo corte de menor magnitude. Esta sinalização pode gerar volatilidade nas expectativas do mercado até a próxima reunião do comitê. É importante ressaltar que as projeções para a taxa Selic ao final do ano têm sido ajustadas gradualmente para cima, refletindo as incertezas e as mudanças no comportamento das curvas de juros no mercado futuro.

. Valter Bianchi Filho, sócio fundador e diretor de investimentos da Fundamenta Investimentos — Após analisar o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), pude constatar que a reunião foi bastante interessante. Acredito que terá grande repercussão, principalmente devido ao fato de a votação ter sido bastante apertada. Embora tenha havido uma redução de 0,25 pontos percentuais, baixando a taxa de juros de 10,75% para 10,50%, conforme era esperado pelo mercado, cinco votos foram a favor da redução de 0,25, enquanto quatro votos foram para uma redução de 0,50%. É relevante notar que os quatro votos pela redução maior foram dos recentes indicados pela gestão do governo Lula, o que levantará debates sobre interferência política.

A decisão acabou se alinhando mais com a posição defendida por Roberto Campos Neto, que foi o voto decisivo como presidente do Banco Central. No entanto, acredito que essa decisão irá gerar grande repercussão, especialmente no que diz respeito à interferência política, uma vez que o comunicado destaca as mudanças significativas no cenário desde a última reunião. A inflação nos Estados Unidos superou as expectativas, os juros norte-americanos aumentaram consideravelmente desde a última reunião em 20 de março, o dólar se valorizou e houve uma deterioração fiscal relacionada à divulgação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2025, na qual o governo acabou zerando a meta de superávit esperada.

Todas essas notícias parecem ter corroborado com a decisão de reduzir os juros em menor escala. Acredito que o fato dos quatro indicados recentes ao Banco Central terem defendido uma redução maior dos juros irá gerar muita polêmica. Além disso, percebo que até mesmo a ata da reunião foi mais incisiva e preocupada com todos esses pontos mencionados.

. Rogério Mori, economista-chefe da Davos Investimentos e professor da FGV-SP — Em uma decisão que não foi unânime no Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por um corte de 0,25 ponto percentual em vez de meio ponto. Este corte de 0,25 contrariou um pouco o posicionamento anterior do próprio Banco Central, que indicava a intenção de continuar reduzindo a taxa em meio ponto percentual a cada reunião do Copom. No entanto, este corte menor está mais alinhado com um cenário que se deteriorou ao longo dos últimos 45 dias, com a perspectiva de que as taxas de juros nos Estados Unidos permaneçam elevadas por mais tempo, devido à persistência da inflação na economia norte-americana em um contexto de atividade econômica aquecida. Além disso, na Europa também se projeta a manutenção das taxas de juros pelo menos até junho, o que leva as economias emergentes a adotarem uma postura mais cautelosa em relação aos cortes de juros.

No caso do Brasil, há alguns fatores agravantes, sendo um deles o quadro fiscal que se deteriorou nos últimos meses. Tornou-se evidente que o esforço fiscal do governo será menor do que inicialmente projetado, com redução tanto das metas quanto do esforço fiscal para os próximos anos. Em termos de atividade econômica, esta continua relativamente robusta nos primeiros meses do ano, com o mercado de trabalho apresentando desempenho relativamente positivo e pressões inflacionárias localizadas em diversos setores. É importante ressaltar também que os eventos ocorridos no sul do país devem afetar a oferta de produtos, especialmente no setor agropecuário, o que exercerá uma pressão adicional sobre os preços. Diante deste conjunto de fatores, o Copom e o Banco Central optaram por adotar uma postura mais conservadora neste momento, realizando um corte de apenas 0,25 ponto percentual na taxa de juros. Esta decisão é consistente e conservadora em um contexto de cenário mais incerto.

. Fernanda Melo, economista e planejadora financeira CFP pela Planejar — O corte de 0,25 já era antecipado pelo mercado, porém desta vez havia incerteza se o Banco Central mudaria sua previsão da Selic devido ao desastre climático no Rio Grande do Sul. Apesar da significativa representatividade econômica do estado e do impacto das chuvas na produção agrícola, a Selic não atua como freio para os aumentos de preços sazonais. Embora no passado tenham ocorrido aumentos de preços em certos produtos devido às chuvas e condições climáticas, a Selic tem sido utilizada recentemente pelo Banco Central como um instrumento para ancorar as expectativas de inflação. Este é um processo cauteloso conduzido pelo Banco Central como consequência da pandemia, visando reancorar as expectativas em relação à inflação futura. Além disso, esse processo é influenciado pelo ritmo de cortes de juros nos Estados Unidos, uma vez que a taxa de juros no Brasil precisa oferecer um prêmio de risco para investidores globais. Portanto, a Selic desempenha dois papéis: a ancoragem das expectativas de inflação no Brasil e uma resposta ao ritmo de cortes de juros pelo Fed nos Estados Unidos.