Em 2024, o G20, que congrega as maiores economias, representando 80% do PIB e 60% da população mundial, completará 25 anos desde sua fundação em setembro de 1999. Sob a presidência atual do Brasil, a agenda do grupo para o período é uma das mais relevantes de sua história, não apenas pelo transcurso do simbólico aniversário, mas sobretudo pela pauta eleita: o combate à fome, à pobreza e à desigualdade e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, ambiental e social).
Considerado o tema, é óbvio que o agronegócio ocupe posição de destaque nas reuniões preparatórias à Cúpula do G20 neste ano novo, prevista para 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro. Nessa jornada técnica, cujos encontros serão realizados em Brasília e em mais 12 cidades brasileiras, o Grupo de Trabalho da Agricultura é um dos protagonistas na Trilha dos Sherpas. Assim são chamados os prepostos dos chefes de Estado e de governo encarregados de supervisionar as negociações e coordenar a maior parte das ações.
Sem dúvida, uma aliança global contra a fome, a pobreza e as mudanças climáticas passa necessariamente pela agropecuária. Nesse contexto, a presidência do G20 é muito pertinente. Não há país mais apto do que o Brasil para conduzir esses assuntos, pois nosso setor rural, além de liderar e/ou ocupar os primeiros lugares em vários segmentos e ser estratégico para a segurança alimentar, é um dos mais avançados do mundo em produtividade, preservação da natureza e geração de empregos. Ou seja, é aderente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e ao conceito da governança ambiental, social e corporativa (ESG). Também temos progredido de modo rápido no aporte tecnológico no campo.
Cultivamos cada vez mais em áreas proporcionalmente menores, protegendo florestas nativas e mananciais hídricos. Um exemplo refere-se à cultura de grãos, conforme estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): o volume das nossas safras aumentou mais de 300% entre 1997 e 2020, enquanto a área plantada avançou apenas 60%. Para que isso fosse possível, a produtividade mais do que dobrou, atestando o crescimento sustentável do nosso agronegócio. Cabe lembrar que, nesse espaço de tempo, deixamos de ser importadores e nos tornamos um dos maiores exportadores de alimentos do mundo.
Em outra vertente temática prioritária do G20 – as mudanças climáticas –, o Brasil também exercita com absoluta legitimidade a liderança dos trabalhos técnicos, com forte respaldo do agro. Afinal, é imensa nossa capacidade de fabricar biogás processado a partir da vinhaça de cana-de-açúcar e outros resíduos agropecuários e biocombustíveis. Dentre estes, o segmento mais maduro e consolidado é o do etanol. Conforme a última projeção da Conab, deveremos produzir 33,8 bilhões de litros na safra 2023/24. Contribuíram muito para isso o Proálcool, lançado há quase 50 anos, e a tecnologia nacional dos carros flex. Tive o privilégio de integrar grupos técnicos que trabalharam para essas históricas conquistas.
É fundamental o êxito da Trilha dos Sherpas na preparação da Cimeira do G20 este ano. Seu trabalho é importante para que os chefes de Estado e de governo tenham subsídios consistentes e sejam sensibilizados quanto à premência de ações concretas de combate à fome, às desigualdades e às mudanças climáticas.
O nome dado aos líderes dos países nos encontros técnicos é referente aos sherpas, povo do Leste, antiga etnia do Nepal. São eles que guiam os alpinistas nas escaladas do Monte Everest. Sem suas habilidades, seria quase impossível chegar ao cume da montanha mais alta do mundo. Que seus homônimos sejam muito bem-sucedidos na condução do G20 pela tortuosa pauta da sustentabilidade e do futuro da Terra.
. Por: João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).