O transtorno do espectro do autismo (TEA) tem sido objeto de crescente atenção midiática e conscientização pública nos últimos tempos. Este distúrbio neurodesenvolvimental, caracterizado por déficits sociais, de comunicação e comportamentos restritos e repetitivos, tem levado à mobilização de esforços para aumentar a conscientização e promover a inclusão e aceitação das pessoas que vivem com essa condição.
A campanha Abril Azul, em particular, tem emergido como uma iniciativa chave nesse cenário, buscando não apenas aumentar a conscientização sobre o autismo, mas também promover mudanças significativas na forma como a sociedade percebe e apoia as pessoas com essa condição.
Mas o que exatamente causa o autismo? Quais são os principais fatores de risco para o seu desenvolvimento? Estas são perguntas que este artigo busca explorar.
Embora o assunto tenha ganhado destaque recentemente, especialistas têm investigado suas possíveis causas por anos, descobrindo que muitas delas podem ter início ainda durante a gestação. Entre os anos de 2002 a 2006, houve um significativo aumento nos casos de TEA. Nos Estados Unidos, as taxas de prevalência aumentaram em 57%, e no Canadá em 150%, entre 1998 e 2004. Esse repentino aumento despertou uma atenção maior para o autismo e levou a esforços intensificados para entender sua etiologia.
Evidências substanciais sugerem uma contribuição genética para o autismo, impulsionando ainda mais os estudos nessa direção. Além disso, diversos estudos têm apontado para o papel de fatores pré-natais nocivos na origem do autismo. Infecções virais, tabagismo durante a gravidez, nascimento prematuro, hipóxia fetal durante o parto e psicopatologia parental estão entre os fatores identificados como possíveis influências no desenvolvimento do TEA.
Pesquisas também indicam que o estresse materno pré-natal (PNMS) é um fator de risco estabelecido para distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo o autismo. Estudos sobre desastres naturais repentinos complementam essa pesquisa. Por exemplo: o Projeto Tempestade de Gelo, lançado em junho de 1998, recrutou mulheres grávidas durante uma crise de gelo no sul de Quebec. As crianças nascidas dessas gestações apresentaram maiores dificuldades maternas pré-natais e sofrimento subjetivo associados a traços mais graves de autismo aos 6 anos e meio de idade.
Os efeitos duradouros do PNMS relacionado a desastres na gravidade dos traços autistas foram explorados em um estudo posterior. Este estudo demonstrou que níveis mais elevados de dificuldades objetivas maternas, sofrimento subjetivo e/ou avaliação cognitiva negativa do desastre estavam associados a traços mais graves de TEA e maior risco de traços clinicamente significativos na prole adulta jovem.
Acredito que novas pesquisas continuarão a surgir, pois é imprudente limitarmos a explicação do autismo a uma única causa. É possível que o autismo seja resultado de uma combinação de fatores, como sugerem estudos que exploram o impacto da alimentação industrializada. Portanto, é essencial abordarmos o autismo com discernimento e mente aberta, reconhecendo a complexidade do fenômeno e a multiplicidade de influências envolvidas.
Em última análise, a campanha Abril Azul não apenas visa aumentar a conscientização sobre o autismo, mas também promover mudanças significativas na forma como a sociedade percebe e apoia as pessoas com essa condição. Ao educar e envolver a comunidade, espera-se construir um mundo onde todos, independentemente de suas diferenças, sejam valorizados e respeitados.
. Por: Manoel Augusto Bissaco, terapeuta integrativo especializado no tratamento de traumas de gestação e nascimento e referência nacional em terapia pré e perinatal no Brasil.