Do consumo à produção.
O diretor de Mercado Farmacêutico e Relações Governamentais na AGL Cargo, Jackson Campos, explica alguns dos possíveis motivos da dependência estrangeira no setor e como é possível fortalecer a indústria farmacêutica brasileira.
Em um país com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil ostenta o sétimo maior mercado farmacêutico do mundo. Entretanto, esta façanha contrasta com a realidade de um país que se encontra fortemente dependente da importação de insumos e tecnologia no setor. O cenário atual é um reflexo direto de décadas de políticas voltadas para a mera reprodução de medicamentos, em detrimento do estímulo ao domínio do processo produtivo. Atualmente, mais de 90% de todos os medicamentos acabados e princípios ativos de genéricos são trazidos de fora, principalmente da China e da Índia.
A vulnerabilidade do setor farmacêutico brasileiro foi evidenciada de maneira incontestável no início da pandemia, quando a União optou por zerar a alíquota de importação de produtos essenciais no combate ao coronavírus. Esta decisão ressalta a fragilidade da indústria nacional, especialmente no que se refere à produção de farmoquímica.
O Brasil, apesar de ser um grande consumidor de medicamentos, ainda não atingiu a autossuficiência na produção de insumos farmacêuticos. A dependência de mercados estrangeiros, principalmente da China e da Índia, expõe a economia a vulnerabilidades que podem comprometer o acesso contínuo a medicamentos essenciais. As oscilações no mercado internacional, as disputas comerciais e até mesmo eventos imprevisíveis como pandemias, tornam imperativa a necessidade de repensar as estratégias nacionais no setor farmacêutico.
— O que ocorre é uma defasagem pesquisa e desenvolvimento, que deixa de lado o estudo aplicado e a inovação industrial capazes de propiciar a produção doméstica de medicamentos mais sofisticados como os biofármacos. Embora o mercado no Brasil seja gigante, não há avanços criativos no setor. No entanto, observa-se uma lacuna significativa no progresso de inovações tanto pela indústria quanto pelo governo. Essa defasagem em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) negligência o estudo aplicado e a inovação industrial necessários para viabilizar a produção local de medicamentos, incluindo vacinas— destaca Jackson Campos, diretor de Mercado Farmacêutico e Relações Governamentais na AGL Cargo.
A busca pela autossuficiência na produção de medicamentos não é apenas uma questão econômica, mas uma estratégia vital para assegurar a saúde e o bem-estar da população, especialmente em tempos desafiadores como os que vivemos atualmente. Em uma análise, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) apresentou um plano de retomada do setor, delineando quatro missões estratégicas para impulsionar o desenvolvimento sustentável do Brasil: descarbonização da economia, transformação digital, defesa e segurança nacional, e saúde e segurança sanitária.
Ainda de acordo com a CNI, existe necessidade de mais investimentos em pesquisa e inovação na área da saúde, reconhecendo que o setor desempenha um papel importante na segurança nacional e na resiliência econômica. O plano proposto visa não apenas corrigir as deficiências evidenciadas pela pandemia, mas também posicionar o Brasil como líder na produção e exportação de soluções de saúde para enfrentar desafios futuros.
Saiba mais sobre Jackson Campos: diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo, autor do livro Venda por telefone sem precisar visitar: Um guia para serviços de comércio exterior, Campos atua com comércio exterior e relações governamentais há anos, o que o coloca em posição de destaque para abordar quaisquer desdobramentos relacionados à importação, exportação, comércio exterior e lobby dentro da logística farmacêutica internacional. O especialista que também é Fellow do CBEXs possui facilidade em explicar todos os processos e etapas que fazem parte do ciclo de vida de um determinado produto, desde a movimentação de seus insumos até a sua entrega no cliente, desvendando dados, estatísticas e revelando os percalços do comércio exterior. Saiba mais em: Jackson Campos