De acordo com o relatório desenvolvido, em 2019, pela Circle Economy, grupo apoiado pela ONU Meio Ambiente, apenas 9% da economia global é circular. Na prática, o planeta reutiliza menos de 10% das 92,8 bilhões de toneladas de minerais, combustíveis fósseis, metais e biomassa utilizados todos os anos em processos produtivos. É diante deste contexto que observamos que muitas empresas começam a olhar para as suas atividades e refletir sobre o modelo de atuação. Com o avanço das discussões sobre as práticas sustentáveis, a temática “economia circular” está ganhando cada vez mais força e vem sendo considerada uma nova forma das companhias se desenvolverem de maneira sustentável – vale destacar que a discussão já está impactando, inclusive, o setor intralogístico.
A economia circular nada mais é do que um sistema que minimiza o desperdício e promove o uso eficiente dos recursos naturais, priorizando o aproveitamento dos insumos no processo de fabricação. Neste sentido, é possível observar que as empresas estão substituindo os seus modelos atuais para uma atuação mais sustentável – e, para que a prática seja de fato efetiva, é preciso se atentar à cadeia de produção. Ao aderir práticas mais sustentáveis na operação, as organizações passam a olhar criticamente para todo o processo de fabricação, observando principalmente tudo o que é gerado de resíduos. Ou seja, os materiais e equipamentos que chegaram ao fim de sua vida útil principal e os resíduos precisam ser corretamente destinados para reutilização, reciclagem ou descarte (este último, caso seja feito, deve ser realizado de forma correta).
Outro pilar da economia circular, que pode ser adotado pelos negócios, é a utilização de produtos duráveis e sustentáveis. No setor intralogístico, por exemplo, as empresas podem optar por equipamentos elétricos que tenham sua construção baseada em eco-critérios, como é o caso das empilhadeiras, que entregam alta performance, possuem alta eficiência energética, consomem a menor quantidade possível de recursos naturais e utilizam a maior quantidade possível de materiais reciclados e não perigosos durante o processo de fabricação, tem alta durabilidade e fácil manutenção – possibilitando, assim, que permaneçam mais tempo disponível para seu uso primário, o que é um benefício direto para a empresa.
A preocupação com os eco-critérios construtivos, além de trazer benefícios diretos, ainda se conecta diretamente à circularidade do produto e ao ciclo de vida total da mercadoria, possibilitando que os produtos sejam facilmente reformados e trazidos para uma segunda ou até mesmo uma terceira vida. Desta forma, ao realizar a reforma dos equipamentos e aumentar seu ciclo de vida, 80% dos gases de efeito estufa que seriam gerados pela fabricação de uma máquina nova deixam de ser emitidos, além de não ocorrer a necessidade de uso de recursos naturais virgens.
O fato é que a indústria brasileira, no geral, ainda precisa se conscientizar sobre o tema e ter uma visão ampla de todos os impactos ao longo de todo o ciclo de vida de um produto. Precisamos começar a olhar para o custo total da operação, e não apenas o preço dos produtos para as empresas – assim como o impacto socioambiental – antes da tomada de decisão. Neste sentido, temos o desafio de convencer os stakeholders sobre a importância desse olhar macro, para que possamos começar, de fato, a observar mudanças no setor.
Pensando a longo prazo, acredito que é preciso mudar também a cultura das pessoas – ou seja, a forma como nós, enquanto sociedade, consumimos produtos no geral –, especialmente porque é necessário estimular escolhas mais conscientes. Mesmo que de maneira lenta, isso é algo que já vem acontecendo. De acordo com a pesquisa “Voice of the Consumer: Lifestyles 2022”, desenvolvida pela empresa Euromonitor International, 30% das pessoas da Geração Z tomam decisões de compra com base no que as companhias defendem e em suas políticas internas, e 25% boicotam aquelas que não compartilham de suas crenças. Ou seja, para aqueles que não querem se preocupar com sustentabilidade por altruísmo ou absoluta necessidade de sobrevivência, que olhem para a iminente perda de mercado e de rentabilidade de suas empresas caso não o façam.
Diante deste cenário, para aqueles que desejam introduzir a economia circular nos negócios, é importante começar por pequenas ações – o que é fácil, rápido e gera impacto positivo no dia a dia. Um bom exemplo disso é a substituição dos tradicionais copos plásticos descartáveis nas empresas por canecas cerâmicas. Pode não parecer, mas este tipo de mudança gera efeitos consideráveis para o meio ambiente. Na sequência, é preciso dar foco para a pauta, trazendo a temática para as conversas com a liderança, os gerentes e os colaboradores. Por fim, é interessante fazer benchmarking, conversar com os parceiros e fornecedores, com o objetivo de entender o que eles estão fazendo em relação às boas práticas sustentáveis (e se inspirar).
Não tenho dúvidas de que as companhias e colaboradores são agentes de transformação e, por isso, é imprescindível que todos criem um impacto positivo, tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente. Neste sentido, a adoção da economia circular se torna uma excelente aliada, já que não se trata apenas de uma escolha financeira, mas uma definição de propósito. É preciso tomar decisões baseadas no que acreditamos, como empresas e seres humanos.
. Por: Raphael Souza, Gerente Corporativo Comercial da Jungheinrich Brasil, uma das líderes globais em intralogística.