Quando eu falava de diversidade nas empresas, na época em que trabalhei como consultora de ESG, o conceito se limitava dar atenção a variações de sexo, idade, ascendência e mais umas duas ou três características consideradas relevantes. De certa maneira, foi só quando comecei a conhecer e registrar as festas populares brasileiras que me dei conta do quanto esse país é realmente diverso.
Se pensarmos no Carnaval, por exemplo, temos dezenas de maneiras diferentes de celebrar a mesma data. Os desfiles das Escolas de Samba talvez sejam a “versão” da festa que primeiro vem à mente da maioria das pessoas. Em São Paulo há também o Carnaval dos bloquinhos de rua e dos bailes de salão.
Os paulistas também vão muito para o Nordeste curtir o Carnaval dos trios elétricos em Salvador ou o Galo da Madrugada no Recife. Mas o Carnaval brasileiro tem muito mais versões: em Pernambuco já fotografei o Maracatu de Baque Solto, com seus caboclos de lança e de pena; a Noite dos Tambores Silenciosos, uma festa em homenagem aos antepassados vindos de África; os Caboclinhos, que homenageiam os ancestrais indígenas.
No Rio de Janeiro, os Bate-Bola são uma atração única, com suas roupas exóticas e supercoloridas. E por aí vai… Cada cantinho do Brasil tem sua própria forma de comemorar esse momento, mas esta é apenas uma das festas que celebramos ao longo do ano.
E não podia ser diferente. O Brasil é um país diverso culturalmente: uma requintada mistura das ancestralidades africanas, indígenas, portuguesas-católicas e de uma multiplicidade de imigrações posteriores. Também é uma Nação de vasta extensão territorial e a diversidade geográfica e climática moldam a forma como os brasileiros vivem e veem o mundo.
As formas como expressamos nossas alegrias, medos, crenças e encantos é, obviamente, impactada por toda essa diversidade e é a ela que devemos o nosso magnífico patrimônio cultural.
Se entendemos que a nossa riqueza cultural está diretamente relacionada a essa diversidade, por que será que resistimos tanto em pensar nos benefícios dela em todos os ambientes sociais?
. Por: Andrea Goldschmidt, fotógrafa da cultura popular brasileira. Há dez anos viaja pelo Brasil para registrar e pesquisar sobre a riqueza e exuberância da cultura nacional. É também escritora, e assina o livro Do lado de dentro: na festa popular brasileira.