Desafios de implementação em grandes indústrias.
Num ambiente mercadológico em que a competitividade se mostra aguda em diversos aspectos, grandes indústrias devem estar preparadas aos riscos inerentes que podem atingir as atividades corporativas e operacionais e, assim, prejudicar a continuidade dos negócios. Nesse contexto, algumas metodologias são recomendadas para garantir a sobrevivência destas organizações, mesmo em situações consideradas ‘alarmantes’.
Um dos principais desafios das grandes indústrias está na complexidade da comunicação entre as unidades da empresa espalhadas nacionalmente. Neste caso, é importante entender que cada região possui uma cultura e, desse modo, possuem visões diferentes de riscos – assim também ocorre quando se fala de questões de continuidade.
Nesse sentido, existem orientações específicas para o negócio que ajudam a estruturar um sistema único, ao mesmo tempo em que se respeita as diferenças e as características de uma indústria deste porte. A atividade em questão é um ponto crucial e a existência de uma gestão segregada por unidade – porém, coesa corporativamente – pode trazer mais visibilidade aos riscos existentes para cada local, bem como possíveis ações em caso de rupturas.
Já para a cadeia de abastecimento, a matéria prima pode ser um fator crítico, devido à escassez de fornecedores – o que pode ser diferente para outras unidades da mesma empresa. A dependência de parceiros regionais específicos para a produção demanda uma adequação ao estoque em consonância com a disponibilidade da matéria prima no mercado e o histórico de ruptura na cadeia de suprimentos por parte dos fornecedores homologados. Dessa forma, é recomendado que o estoque mínimo de cada unidade atenda a produção programada durante um período de segurança, até a possível ruptura de fornecimento ser sanada.
Já no caso em que a estratégia de produção é verticalizada, é importante notar que há a aceitação dos riscos, tendo em vista que a prática leva a mais lucratividade, pois a empresa elimina uma etapa em que um ou mais terceiros ganhariam. Contudo, ações como estas levam ao questionamento sobre a compensação do lucro em cima dos riscos inerentes, que podem resultar em impactos preocupantes para as organizações.
Em contrapartida à decisão de verticalização, as estratégias de continuidade de negócios devem ser robustas e, possivelmente, onerosas, visto que a dependência interna da produção aumenta. Há, nesse aspecto, a concentração de fatores produtivos que, em caso de paralisação, gerará ruptura em toda a cadeia – que poderia ser contornada a partir do contato com um outro fornecedor.
Outro problema clássico na indústria é a interrupção dos maquinários. Neste caso, as estratégias desenvolvidas auxiliam na percepção de quais peças podem ser mantidas em estoque ou quais máquinas backup são vitais para atenuar os impactos da indisponibilidade. Por meio de uma análise de impacto ao negócio, é possível constatar quais linhas de produção são prioritárias e causariam mais efeito para a empresa.
Ainda no contexto de impactos das grandes organizações, as paralisações também podem deixar de ser somente operacionais e desdobrar em consequências à imagem e à reputação – podendo impactar até no nível das pessoas físicas. Para uma gestão efetiva desse tipo de situação, é orientado seguir estratégias de gerenciamento de crises, que contam com uma comunicação bem definida e executada para que, desta forma, o gerenciamento seja executado de forma plena e sem ruídos.
Sob esse aspecto, uma organização desse porte deve possuir um canal de comunicação difundido, para que os agentes envolvidos nos incidentes possam comunicar rapidamente ao responsável pela Continuidade de Negócios e, caso necessário, informar ao responsável pela Gestão de Crises.
Esse sistema implementado pode parecer complexo para profissionais que não atuam na área de Gestão de Riscos. Por isso, é recomendada a realização de treinamentos sobre a utilização dos documentos construídos e, assim, as partes atuantes possam agir adequadamente nessas situações. Além disso, é recomendada a realização de exercícios simulados de incidentes com o viés industrial, a fim de garantir a eficácia do sistema.
Essas ações devem ocorrer com periodicidade definida para assegurar uma melhoria contínua e prover o aculturamento da Gestão de Riscos e da Continuidade de Negócios nas unidades. Assim, será possível garantir mais habilidade para a correta atuação durante a materialização desses riscos – tanto no âmbito local, quanto corporativo. E, dessa maneira, assegurar perenidade para os negócios da empresa, afinal em empresas de tamanha complexidade, estar preparado pode ser a diferença entre a sobrevivência e a descontinuidade do negócio.
. Por: Alessandro Dinamarco e Bruno Siqueira de Oliveira atuam na área de Riscos e Continuidade de Negócios da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados.