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26/10/2023

O combate ao etarismo no mercado de trabalho

O “S” do ESG impõe às empresas um olhar social mais atento para incluir a população sênior.

Nos últimos tempos, o termo ESG ganhou grande visibilidade. As questões ambientais, sociais e de governança passaram a ser consideradas, colocando uma pressão positiva sobre o setor empresarial. ESG – sigla em inglês que significa environmental, social and governance -, são as práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. Corresponde a uma nova maneira de pensar nas companhias. O termo foi criado em 2004, em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar essas boas práticas no mercado de capitais.

Empresas preocupadas com questões ambientais, sociais e de governança se destacam em seus nichos, já que o consumo consciente é uma tendência mundial. Além disso, constroem um bom relacionamento com o governo e a população melhorando a reputação, pois reconhecem seu papel de agentes transformadores da sociedade.

Segundo o estudo dos professores da Universidade Harvard, Mozaffar Khan, George Serafeim e Aaron Yoon, pelo ponto de vista econômico, a adoção das boas práticas traz maior lucratividade, redução do custo do capital e melhora do valuation das empresas ao longo do tempo.

Mais importante ainda que isso, a maior consciência dessas empresas nos permite construir um mundo mais ético, saudável e justo.

Dentro da sigla ESG, o “S” aborda os relacionamentos das empresas com a comunidade, parceiros e empregados. Uma forte proposta ESG pode ajudar as empresas a atrair e reter colaboradores de qualidade, aumentar a sua motivação, incutir um senso de propósito e aumentar a produtividade. Estudos recentes mostraram que o impacto social positivo se correlaciona com maior engajamento dos funcionários, e intimamente atrelado aos retornos positivos dos acionistas. Neste ponto também são incluídas as boas relações de trabalho, diversidade e inclusão.

Nesse contexto, o envelhecimento da população deve estar na pauta das empresas, já que é uma das dimensões mais significativas da mudança demográfica global. A inversão na pirâmide etária, gerará um crescimento importante na população 50 +.

Espera-se que na próxima década os efeitos da Longevidade ativa e saudável provoquem uma mudança significativa na população trabalhadora, com a permanência de pessoas acima dos 50 anos no mercado de trabalho. As sociedades e as empresas devem adaptar suas políticas e serviços para responder às mudanças na estrutura etária.

Em pleno século 21 é inacreditável que os maduros continuem a enfrentar discriminação e exclusão como resultado de sua idade. Em momentos de turbulências sociais e econômicas, como o que o mundo vive, sem dúvida, um grande diferencial é a experiência e a prudência. Os maduros são bastante reflexivos e menos impulsivos na tomada de decisões, comparados, por exemplo, aos Millennials. O trabalhador maduro tem mais capacidade de pensamento crítico e são considerados mais tolerantes, estáveis, responsáveis e fiéis à empresa. Os anos também ajudam na capacidade de liderança, colaboração e relacionamento. Obviamente não podemos generalizar para todos os casos, entretanto, a inteligência emocional e o autoconhecimento se potencializam ao longo dos anos, beneficiando a população madura.

O que observa-se nos últimos dois anos, é uma mudança nas empresas em relação ao assunto. Pelo menos já é pauta de comitês e das áreas de Recursos Humanos das corporações. Ainda falta muito, mas já é um início. Como toda mudança social, vai requerer tempo.

Uma das formas para combater o etarismo é disseminar informações pertinentes ao tema, como artigos que desmistificam a relação dificultosa entre maduros e tecnologia. Além disso, é importante incentivar o recrutamento de candidatos acima de 50 anos e criar estratégias para evitar conflitos de gerações dentro da corporação. As empresas devem criar políticas claras para eliminar o etarismo, e devem contar com uma equipe diversa e multigeracional que traz diferenciais competitivos, como mais inovação, criatividade e propósito.

Contudo, há uma contrapartida por parte dos maduros, que impõe o desafio para continuar no mercado: eles precisam estar em constante qualificação e sempre estar procurando capacitação e treinamento, ou seja, aplicar o “lifelong learning” ou “aprendizado ao longo da vida” que nunca deve ter data para acabar.

Muitos deles também terão que continuar trabalhando para a complementação da renda da aposentadoria pela falta de emprego. Neste desafio, surgem alternativas como o empreendedorismo liderado por sêniores.

O importante é manter o aprendizado constante, independentemente da idade que se tenha. Mudanças sempre irão ocorrer e ter resiliência para perceber os novos processos torna-se essencial para o mercado de trabalho.

. Por: Cristián Sepúlveda, CEO da Silver Hub, especialista em Mercado de Longevidade, segundo a Fundação Getulio Vargas. Executivo com mais de 25 anos de experiência internacional (LATAM), ocupando cargos de direção em empresas multinacionais dos setores de Telecomunicações, BPO, Startup, Tecnologia e Serviços. Especialista na gestão das áreas de Transformação Digital, Inovação e Financeira. Também conhece as dores de empreender, já que co-fundou startups e, atualmente, participa de conselhos consultivos de algumas delas. | Silver Hub —A Silver Hub é uma aceleradora de startups que atua no mercado de soluções e produtos para o mercado da longevidade, aportando capital e mentorias para as agetech. Cofundada por Cristián Sepúlveda (CEO), ex-diretor executivo da Atento – Telefônica; Marcos Eduardo Ferreira, ex- CEO da Mapfre Seguros no Brasil e América do Sul, conselheiro e investidor e a executiva e empreendedora Arine Rodrigues, CEO do marketplace, Vida60Mais.

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