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24/10/2023

RCGI mapeará potencial de produção de hidrogênio no setor sucroalcooleiro

Projeto com o Grupo de Pesquisa em Bioenergia da USP vai estimar a disponibilidade do combustível que poderá ser usado na aviação.

Um novo projeto do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) e do Grupo de Pesquisa em Bioenergia (GBio), do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), vai estimar o potencial que o setor sucroalcooleiro apresenta para a produção de hidrogênio no país. Os pesquisadores vão analisar os dados de todas as usinas de etanol no Brasil — há 358 de cana-de-açúcar e 21 de milho, segundo números atualizados em dezembro de 2022 — para calcular a quantidade de H2 que poderiam produzir com vistas a um futuro combustível sustentável para a aviação.

—O hidrogênio tem aparecido cada vez mais como vetor energético importante para a descarbonização de diferentes setores, incluindo o da aviação. O mais divulgado é o hidrogênio produzido a partir da eletrólise da água usando-se energia solar ou eólica, mas há também as rotas desenvolvidas a partir da biomassa, que são bastante competitivas — afirma a engenharia química Suani Teixeira Coelho, professora do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e coordenadora do projeto, ao lado do botânico Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP.

Entre os vários possíveis usos do hidrogênio estão a produção de fertilizantes, de combustível para ônibus e automóveis e Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês), explica a professora. Um estudo liderado pela organização não governamental Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), com sede na Suíça, em colaboração com a ONG brasileira Agroicone, informa que, da produção global de 390 bilhões de litros de querosene para aviação, apenas 14 milhões de litros são SAF. E que a substituição dos combustíveis fósseis por SAF de baixo carbono seria a forma mais eficiente para atingir o objetivo da indústria de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2050.

—Vamos analisar as usinas que temos no Brasil o quanto produzem de cana-de-açúcar, de etanol e o potencial que pode ser produzido de biogás a partir dos subprodutos do processo. A partir destes dados, vamos estimar a quantidade de hidrogênio que poderíamos produzir a partir de diferentes rotas: fazendo a reforma do etanol e do biogás, além da eletrólise da água utilizando a eletricidade excedente local— afirma a professora. —Estamos começando agora e essa primeira etapa deve durar aproximadamente um ano. Se conseguirmos financiamento adicional, mapearemos outras fontes de biomassa também—.

O estudo tem apoio do programa USPSusten e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do Bioetanol, cujas pesquisas são financiadas prioritariamente pelas agências de fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Dois alunos de pós-doc participarão do projeto, além dos coordenadores.

O estudo trabalhará com diferentes cenários, abrangendo a demanda por etanol pelo transporte rodoviário e incluindo na análise o etanol de segunda geração, considerado ainda mais sustentável que o de primeira geração por ser produzido a partir do bagaço de cana. —Sempre que se usa um resíduo de biomassa, como o bagaço da cana, para gerar energia, se tem um sistema mais sustentável— salienta Suani Coelho. —Primeiro, porque se dá um destino adequado a esse resíduo. E, segundo, porque não há necessidade de expansão de área. É um conceito que se enquadra no que chamamos de bioeconomia circular.”

Por enquanto, no país, há apenas uma planta de etanol 2G, situada no Bioparque Costa Pinto, em Piracicaba, no interior paulista, da empresa de energia Raízen. Outras duas usinas em São Paulo produzem biogás a partir de vinhaça e torta de filtro, resíduos da operação agroindustrial da cana-de-açúcar. —Hoje esses dois projetos — da usina Bonfim e da Cocal — usam biogás para produzir energia elétrica no motor elétrico ou para transformá-lo em biometano e usá-lo como combustível de automóveis e ônibus. Mas também podemos fazer a reforma do biogás para produzir hidrogênio— diz a coordenadora do projeto.

—Então vamos fazer cenários. Vamos supor, por exemplo, que todas as usinas estejam interessadas em produzir biogás e depois que façam a conversão dele para hidrogênio—.

Para o estudo, os pesquisadores usarão um banco de dados montado durante outro projeto do RCGI, que analisou o potencial de captura de carbono nas usinas, e informações disponíveis na publicação NovaCana.

A tecnologia de transformar hidrogênio em combustível de aviação existe por enquanto apenas em nível de laboratório e os pesquisadores acompanham de perto os avanços, por considerar significativa a perspectiva do uso de hidrogênio direto ou como precursor de combustíveis sustentáveis de aviação.

—É importante ressaltar que este é o primeiro projeto desse tipo que se tem notícia. Já fizemos outros mapeamentos, de potencial de biogás, de biometano, de eletricidade, mas esse de produção de hidrogênio, de forma ampla e para todas as usinas do país, é o primeiro —afirma Suani Coelho.

RCGI — O Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) é um Centro de Pesquisa em Engenharia, criado em 2015, com financiamento da FAPESP e de empresas por meio dos recursos previstos na cláusula de P,D&I da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) dos contratos de exploração e comercialização de petróleo e gás. Atualmente estão em atividade cerca de 60 projetos de pesquisa, ancorados em sete programas: NBS (Nature Based Solutions); CCU (Carbon Capture and Utilization); BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage); GHG (Greenhouse Gases), Advocacy, Innovation Power Systems e Decarbonization. O centro, que conta com cerca de 600 pesquisadores, mantém colaborações com diversas instituições, como Oxford, Imperial College, Princenton e o National Renewable Energy Laboratory (NREL), além de projetos de longo prazo com centros de pesquisa dos Estados Unidos por meio da iniciativa Center 2 Center (C2C), financiada pela FAPESP e pela National Science Foundation. Saiba mais.