O Índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), um sinalizador para o Produto Interno Bruto (PIB), apresentou queda de 0,77% em agosto, pior do que o esperado. As estimativas consensuais indicavam um recuo de 0,30%, enquanto o dado anterior foi de alta de 0,44%. No trimestre, a variação foi negativa em 0,65%.
Após um primeiro semestre de grande força do agronegócio, as commodities perdem fôlego no período seguinte, destaca Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Enquanto isso, os dados de agosto de comércio, serviços e indústria vieram piores, principalmente serviços. Um cenário com taxa de juros ainda em patamares elevados, assim como a alta inadimplência, pressiona os setores.
Assim, o terceiro trimestre deve ser mais fraco do que esperado anteriormente, em sua visão, o que reforçaria um PIB mais próximo de 3% para este ano, afastando as previsões mais otimistas de um indicador rondando 3,5%.
O economista Leonardo Mendes, estrategista-chefe da JB3 Investimentos, concorda que o setor de serviços foi o que teve pior resultado no período, afetado pelos juros altos.
—O número é significativo, mas essa queda foi bem acima do esperado e a segunda maior do ano. Além de maio, então muito concentrada, realmente no setor de serviços, a gente sabe que tem algumas sazonalidades dentro do IBC-Br também—.
Para Mendes, o resultado abaixo do esperado pode dar algum alívio nos juros no curto prazo, ainda que o mercado siga atento à política monetária do Federal Reserve. —A gente viu nos últimos dias nossos juros futuros subindo bastante, acompanhando um movimento internacional, principalmente norte- americano, de aumento dos bonds—.
Revisões por vir? O segundo semestre deste ano ainda será “relativamente positivo”, segundo Vale, pois terá efeito do programa de renegociação de dívidas do governo Desenrola no último trimestre. Ainda, a queda nos preços de alimentos e a diminuição na taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, ainda que modesta, tende a ajudar, dando um alento.
No entanto, Vale avalia que as instituições financeiras que revisaram para cima suas expectativas para crescimento para mais próximo de 3,5% devem ter que voltar atrás, com risco baixista.
Os dados indicavam um cenário em que a produção agrícola foi muito relevante, mas agora, não tanto. O primeiro semestre, teria sido “mascarado pelo resultado das commodities”.
O que esperar de 2024 — No ano que vem, as commodities tendem a demonstrar maior fraqueza, afirma Vale, mas o restante da economia pode ser impulsionado pela diminuição na taxa de juros, ainda que os cortes não sejam tão audaciosos. A MB estima crescimento de cerca de 2% em 2024, diante de um cenário internacional complexo, com guerras Ucrânia-Rússia, Israel-Hamas e atividade econômica da China com desaceleração no ritmo de expansão.
O El Niño é um risco para o ano que vem para a agricultura e a safra não deve ser espetacular como foi neste ano, com possível leve queda. —As commodities agrícolas não vão ajudar tanto no ano que vem quanto foi neste ano — conclui. | Investing