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04/10/2023

O varejo mantido em banho-maria

E o País perdendo investimento, renda e emprego formal.

O tema é recorrente e a ausência de decisão e atitude do governo tem gerado perda de investimentos, vendas, salários e emprego por manter uma situação inaceitável de desigualdade competitiva, prejudicando de forma direta empresas varejistas e a indústria de consumo de itens de baixo valor unitário, em benefício de produtores e varejistas internacionais que podem vender no mercado brasileiro sem pagar Imposto de Importação.

Só para resgatar a origem do tema.

Já existia um mecanismo que autorizava a importação de itens de baixo valor – de até US$ 50 – sem pagamento de impostos, no espírito de que seriam produtos enviados por pessoas físicas para pessoas físicas como presente ou algo similar.

A expansão e evolução inevitáveis do e-commerce em âmbito global por meio dos marketplaces e do chamado cross border fizeram crescer de forma dramática o volume de entrada desses produtos no mercado brasileiro, só que de maneira diferente do espírito da concessão.

Empresas sediadas no exterior passaram a promover a venda de produtos de consumo de baixo valor no mercado brasileiro, com toda a força de sua reconhecida competência operacional e investimentos promocionais, sem pagamento de qualquer tipo de imposto.

Para complicar ainda mais, a ausência de um efetivo controle na fiscalização de entrada desses produtos fez com que o teto de US$ 50 fosse sistematicamente burlado, pois o sistema conseguia monitorar apenas 2% do que entrava.

Como resultado, o apelo de produtos vindos do exterior com baixo valor e com o benefício da isenção fez explodir as vendas em várias categorias, em especial no vestuário.

Alertado, o governo acordou e se comprometeu a fechar a máquina de inequidade competitiva.

No meio do processo, porém, o próprio governo foi internamente convencido pelo apelo populista de que dar acesso a produtos com preços mais baixos tinha forte adesão da população e recuou de sua intenção de taxar de forma equivalente essa concessão. Como resultado, definiu novos processos com o programa Remessa Conforme e estabeleceu a cobrança de um ICMS de 17%, tendo se comprometido com o setor de varejo a taxar também com o Imposto de Importação tão logo o sistema da Receita Federal estivesse operacional.

Ocorre que o tempo está passando e nada acontece, enquanto o duto de inequidade continua aberto e estimulando os que estavam operando de maneira formal a poderem também se ajustar para terem um mínimo de condições de concorrer.
É isso mesmo.

O governo está estimulando que mais empresas que operavam de maneira formal e recolhiam os impostos no País revejam sua estratégia e passem a operar aproveitando- se da brecha criada.

Não será estranho que em pouco tempo mais empresas abram filiais no Paraguai, por exemplo, e passem a trazer produtos produzidos na Ásia, com custos mais baixos, dentro da regra do Remessa Conforme, pagando apenas o ICMS e sem pagar taxas de importação.

Isso valerá para todas as categorias possíveis e limitado aos US$ 50, o que representa a esmagadora maioria de compras feitas no país.

A consequência direta e objetiva é que o varejo nacional diretamente afetado está deixando de vender, fechando lojas, reduzindo quadros e protelando investimentos. Funcionários dessas empresas estão deixando de receber comissões sobre vendas e reduzindo seus ganhos.

A indústria nacional desses produtos está deixando de produzir, reduzindo quadros e baixando a encomenda de matérias-primas e insumos, gerando consequências em toda a cadeia de valor.

Indústria e varejo nacionais, vendendo menos, recolherão menos impostos e outro setores, segmentos e categorias terão que pagar mais para fechar a conta dos gastos públicos.

Mas é verdade que os desempregados e funcionários com ganhos reduzidos poderão comprar produtos mais baratos pela não taxação da importação. Está institucionalizada a miopia tributária populista.

Enquanto muito se conversa e nada se impõe, diversos setores estão perdendo vitalidade e o varejo e a indústria estão sendo mantidos em banho-maria. O País segue orientado pela miopia do apelo popular de curto prazo destruidor do futuro. Bom para a próxima eleição e inconsequente com a Nação.

Vale refletir.

. Por: Marcos Gouvêa de Souza, fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem, com 18 empresas, 40 sócios e 350 colaboradores e 35 anos de atuação no mercado nacional e internacional. É membro do Conselho do IDV – Instituto para o Desenvolvimento do Varejo, do IFB – Instituto Food Service Brasil, do Ebeltoft Group, aliança global de consultorias especializadas em varejo presente em 25 países e do Conselho de Administração da BFFC/Bob’s. É também Presidente do
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