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03/10/2023

Algodão: o pequeno notável ciro-rosolem

Neste 7 de outubro será comemorado, pela primeira vez, o Dia Mundial do Algodão. A data foi instituída pela ONU, em reconhecimento à importância da cultura, que sustenta mais de 100 milhões de famílias em todo o mundo. Então por que pequeno? Pequeno porque no Brasil tudo relacionado ao agro é superlativo. Cultivamos mais de 44 milhões de hectares de soja, 22 milhões de hectares de milho, mais de 8 milhões de hectares de cana-de-açúcar. E o algodão? Pouco mais de 1,6 milhão de hectares. E por que notável? Notável porque, neste ano, provavelmente o Brasil se tornará o maior exportador de algodão, ultrapassando os Estados Unidos. Só não exportará mais porque o consumo interno é grande. Estima-se que a indústria têxtil nacional, quase 30.000 empresas, empregue 1,5 milhão de pessoas.

Mas nem sempre foi assim. No final dos anos 1980 o Brasil chegou a ser um dos maiores importadores de algodão do mundo. Tudo vinha muito bem, até que a inflação, o imposto de exportação e erros do Mercosul quase mataram a cultura, que era feita principalmente por pequenos agricultores nos estados do nordeste, de São Paulo e Paraná. Além do polo têxtil, que empregava muita gente já naquela época. Políticas erradas causaram o sumiço de estimados 1.500.000 empregos na época.

Mas o custo da produção em grande escala ainda permitia o cultivo, que se deslocava para Minas, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Depois Bahia, Maranhão, Piaui e outros estados com produção menor. Com algumas modificações tributárias, mais a lei Kandir, que isentou a exportação do ICMS, mais um trabalho muito bem feito de toda a cadeia produtiva da pluma, ou do ouro branco, resultou no protagonismo de hoje.

Pesquisa que desenvolveu tecnologia nacional, possibilitando o cultivo do algodoeiro em segunda safra, depois da soja, associada ao arrojo e inteligência de produtores, fizeram com que nosso algodão, que sofria deságio nas bolsas mundiais, seja hoje produto premium. A Abrapa (Associação Brasileira de Produtores de Algodão) teve papel fundamental. Acionou os Estados Unidos contra os pesados subsídios praticados, e ganhou a causa, o que possibilitou a criação do Instituto Brasileiro do Algodão. Campanhas como, por exemplo, o Algodão Brasileiro de Qualidade, que permite o rastreamento completo da cadeia, com sustentabilidade e qualidade, e Sou de Algodão, que agrega empresas que utilizam e comercializam o produto, tem tido papel importante na divulgação do algodão brasileiro. A Abrapa, juntamente com a ANEA (Associação Nacional dos Exportadores de Algodão) desenvolveram um programa chamado Cotton Brazil, que tem inclusive escritório em Cingapura, para promover exportações. Há que se ressaltar ainda o papel do Mapa, com participação ativa e profissional nas últimas décadas.

Isso tudo apesar dos governos e desgovernos. Então fica a mensagem: tudo é possível com determinação, trabalho, organização, conhecimento e, lógico, investimento e marketing inteligente.

O pequeno pode ser notável.

. Por: Ciro Rosolem membro do Conselho Científico Agro Sustentável e Professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp. | CCAS — O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.

O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. | Website: http://agriculturasustentavel.org.br