Biotech Biome4all identifica indicadores microbiológicos das seis áreas vencedoras no Desafio CESB.
Em parceria com o Comitê Estratégico Soja Brasil(CESB), a Biome4all, startup que analisa informações genéticas do solo para melhorar a eficiência produtiva, avaliou as áreas cultivadas das 6 campeãs na 15a edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja do CESB – Safra 22/23 – Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Irrigado — e identificou micro-organismos e indicadores microbiológicos que ajudam a explicar seu desempenho. Dentro de cada uma das 6 propriedades, foram analisadas as áreas auditadas campeãs, bem como as áreas de menor produção, a fim de comparar os contrastes de maior e menor produtividade.
—Para chegar aos resultados, utilizamos avançadas tecnologias para fazer o sequenciamento genético das amostras de solo coletadas e, em seguida, processamos e calibramos os dados obtidos, comparando com as informações do nosso vasto banco de dados do sistema de soja no Brasil. Esse processo garante uma análise baseada em ciência e tecnologia, que contribui para a tomada de decisão dos produtores —destaca Camilla Castellar, engenheira agrônoma e líder de produto da Biome4all.
A presença de cada um dos grupos de micro-organismos avaliados foi definida por meio de um índice criado pela Biome4all, que vai de 0 a 100, considerando o banco de referência. Para não haver distorções, o banco de referência usado é relativo a cada sistema de cultivo e região em que a amostra foi coletada.
—No CESB, nós sempre incentivamos e divulgamos a importância da qualidade física e química dos solos para que as áreas de cultivo entregassem a cada safra produtividades maiores. Nos últimos anos, temos visto um movimento tanto das empresas do setor, quanto dos próprios produtores, no sentido de dar mais atenção, também, ao incremento e manutenção da microbiologia do solo. Neste sentido, quando apresentamos as áreas campeãs de produtividade de soja no Desafio, nos faltavam análises que comprovassem a qualidade biológica destes solos. A parceria com a Biome4all nos auxiliou, neste último Desafio, a explicar as altas produtividades atingidas por estas áreas— afirma Lorena Moura, coordenadora Técnica e de Pesquisa do CESB.
Confira abaixo o detalhamento dos resultados de cada uma das propriedades campeãs. É fundamental destacar, porém, que a combinação dos grupos microbianos do solo é muito variável e particular de cada área analisada. Desta forma, os resultados obtidos não significam que solos em outras áreas que apresentem as mesmas frequências de grupos obterão a mesma performance dos casos mencionados.
Região Sudeste —A produção campeã da região Sudeste, de Nepomuceno (MG), foi também campeã Nacional do Desafio CESB e registrou a maior produtividade entre os competidores, com 134,46 sacas/ha. A área com maior produtividade se destacou por apresentar maior frequência de três grupos de micro-organismos que podem executar funções que ajudam na produção de soja: produção de ACC-deaminase, que proporciona maior tolerância ao estresse, e disponibilidade de fósforo e enxofre, que contribuem com a fertilidade do solo.
A área de menor produtividade da propriedade apresentou 85,84 sacas/ha, uma diferença de 48,62 sacas/ha. A comparação entre as duas revelou que, na área com menor produção, a frequência de micro-organismos patogênicos foi muito maior, com destaque para o gênero Fusarium, cujas espécies como o Fusarium solani, podem causar uma doença radicular que afeta bastante a soja. —Com essa informação, o produtor pode traçar estratégias de manejo que ajudem a reduzir as condições favoráveis para esses microorganismos, além de investir em produtos biológicos que possam fortalecer seu controle —destaca Camilla.
Região Sul —O campeão da região Sul, localizado em Clevelândia (PR), que apresentou uma produtividade de 132,83 sacas/ha, também revelou alta frequência de nove grupos que favorecem a produtividade de soja: produção de ACC-deaminase, produção de compostos voláteis, amenização de metais pesados e degradação de agroquímicos, que proporcionam tolerância ao estresse; controle de bactérias fitopatogênicas e controle de insetos-praga, o que representa alto controle biológico; e disponibilidade de fósforo e enxofre, contribuindo para a fertilidade do solo.
Na comparação com a área de menor produtividade, a diferença foi de 62,83 sacas/ha. Entre os principais contrastes observados na comparação entre as duas estão o controle de fungos e nematóides fitopatogênicos. A partir dessa informação, percebe-se que a área de menor produtividade pode ser tratada com foco na melhoria do controle biológico do solo.
Centro-Oeste —Na região Centro-Oeste, a maior produtividade foi encontrada em Itiquira (MT) e atingiu a marca de 106,01 sacas/ha. Nesta área, foram identificadas características importantes para a produtividade: produção de ACC-deaminase (maior tolerância ao estresse), disponibilidade de fósforo, enxofre e Zn, Mn, Mg, Cu e Ca (maior fertilidade do solo) e controle de bactérias fitopatogênicas, bem como de insetos-praga.
Quando comparada à área com menor produtividade, a diferença foi de 28,81 sacas/ha. Além dos diferenciais já mencionados, a análise ainda revelou alto índice de biodiversidade de fungos na área campeã, o que indica maior quantidade de espécies e equilíbrio.
—Essas informações podem nortear decisões de manejo para melhorar a área de menor produtividade, como a escolha de produtos biológicos. Adotar práticas que visem o aumento de matéria orgânica no solo é uma estratégia que pode ser interessante para melhorar a biodiversidade de fungos do solo —destaca Camilla.
Região Nordeste —A área campeã da região Norte, em Riachão das Neves (BA) registrou a produtividade de 119,71 sacas/ha e se destacou em três grupos de micro-organismos que podem executar funções que contribuem para a produtividade de soja, como produção de ACC-deaminase, que proporciona maior tolerância ao estresse, e disponibilidade de fósforo e enxofre, que contribuem com a fertilidade do solo.
Já o talhão de menor produtividade demonstrou um rendimento de 95 sacas/ha, ou seja, uma diferença de 24,71 sacas/ha em relação ao campeão. De acordo com a especialista, a propriedade apresentou um bom nível de produtividade, de modo geral, mas o trecho campeão também mostrou uma menores índices de grupos de micro-organismos que podem executar funções desfavoráveis quando em alta frequência, como produção de gás carbônico e oxidação do ferro.
Região Norte —A produção vencedora na região Norte é do município de Mateiro (TO) e apresentou produtividade de 108,6 sacas/ha. Na área auditada foi identificada uma alta frequência de três grupos que favorecem a produtividade: produção de ACC-deaminase, que proporciona maior tolerância ao estresse, e disponibilidade de fósforo e enxofre, que contribuem com a fertilidade do solo.
A área da propriedade com menor produtividade apresentou 82 sacas/ha, o que significa uma diferença de 29,75 sacas/ha. Comparando a microbiologia das duas, as principais diferenças encontradas foram a produção de ácido abscísico e o controle de fungos fitopatogênicos. Além de maior atividade metabólica, a área campeã também demonstrou maior ocorrência de micro-organismos benéficos, em especial do gênero Trichoderma, o que ajuda a explicar um maior potencial de controle de fungos patogênicos.
—Práticas de utilização de produtos biológicos específicos podem ajudar a resolver essas deficiências na área com menor produtividade. Na plataforma da Biome4All é possível conferir uma lista de produtos que podem auxiliar nesse processo— destaca Camilla.
Irrigado — O campeão da categoria de cultivo irrigado, de Itapeva (SP), apresentou uma produtividade de 111,75 sacas/ha. A área auditada se destacou, em relação a outras da mesma região, em quatro aspectos: produção de ACC-deaminase (maior tolerância ao estresse) e disponibilidade de fósforo, enxofre e Zn, Mn, Mg, Cu e Ca (maior fertilidade do solo).
Quando comparada à área de menor produtividade da propriedade, a diferença identificada foi de 29,75 sacas/ha. O comparativo de contrastes produtivos indicou que a área campeã possui uma maior frequência de espécies de micro-organismos distribuídas de forma equilibrada e maior ocorrência daqueles que são benéficos, em especial, do gênero Trichoderma.
A análise revela que a biodiversidade de fungos e a ocorrência de gêneros benéficos no solo pode ser melhorada. Algumas práticas de agricultura regenerativa que visam o acúmulo de matéria orgânica no solo e o uso de diferentes plantas durante os ciclos de cultivos são bons caminhos para isso, bem como o uso de produtos biológicos para acelerar o estabelecimento de micro-organismos benéficos.
Conclusã —Essas informações reforçam que as características químicas e físicas do solo, cultivares utilizadas e práticas de manejo impactam em muitas diferenças na microbiologia. Observar os micro-organismos que vivem no solo é mais um pilar a ser considerado na escolha de práticas de manejo, uma vez que a microbiologia tem um papel importante para um melhor aproveitamento do uso de insumos e na sustentabilidade dos cultivos, de acordo com Camilla Castellar.
Os resultados mostraram que, de modo geral, as áreas que apresentaram maior produtividade lançam mão de práticas que contribuem para um solo com alto potencial de diferentes funções microbianas. Entre elas estão, por exemplo,o uso de plantas de cobertura, sistema de integração lavoura-pecuária ou rotação; uso de produtos biológicos; nutrição equilibrada na primeira camada de solo (0-10 cm) e ausência de revolvimento do solo.
A adoção de tais práticas têm impacto positivo na microbiologia do solo e, consequentemente, na produtividade. De acordo com um estudo da B4A que comparou outras áreas que adotam práticas de agricultura regenerativa apresentam: 19% de aumento no número de espécies; 12% de redução de patógenos; 28% de aumento de gêneros benéficos para as plantas; 11% de aumento da resiliência do solo; 18% de aumento da supressividade e, 35% de aumento na sustentabilidade.