E perde a chance de simplificar a aceitação pela população.
O anúncio do Banco Central (BC) da versão brasileira de uma “Central Bank Digital Currency” ou CBDC, as versões digitais de moedas, que vem sendo desenvolvidas em muitos países do mundo para facilitar as transações, permitindo inclusive o envio direto de moeda do governo para os cidadãos, vem levantando dúvidas. Hoje qualquer transação tem que ser intermediada por um banco, e no Brasil, quando o governo pretende enviar dinheiro aos cidadãos, como no auxilio emergencial, costuma usar a Caixa Econômica Federal.
A ideia é simples: um Real digital que é totalmente conversível em um Real físico, mas ele não é necessariamente algo simples de ser entendido pela população. Ele é uma moeda virtual, ou seja, é diferente dos Reais emitidos pela Casa da Moeda. Ele é baseado em blockchain (uma rede de negócios segura, na qual os participantes transferem itens de valor ‘ativos’), mas não é uma criptomoeda, pois não tem flutuação de valor – um Real virtual sempre terá o mesmo valor de um Real em papel moeda. E ele se chama Drex.
Assim como o PIX – a transação eletrônica que facilitou a troca de dinheiro sem a necessidade de papel – o DREX é uma iniciativa moderna e importante do Banco Central. Mas ele precisa, assim como o PIX, ser bem aceito pela população. E é aí que o nome pode complicar essa aceitação.
O PIX precisava ter um nome distinto, até para que as pessoas soubessem que era uma transação diferente das outras – como o DOC e o TED – e nesse caso, o uso de três letrinhas de uma forma simples de falar foi certeira. O PIX indicava uma paridade com os nomes já utilizados pelos bancos, ao mesmo tempo que mostrava ser diferente. A clareza da ideia, somada ao fato de o serviço ser gratuito, caiu como uma luva para qualquer tipo de transação, de pequenos à grandes volumes. Taxi, Uber, a conta da padaria e até os vendedores ambulantes de semáforo passaram a usar o sistema. Bom para a população, porque facilitou as trocas sem ter que pagar taxas ou tarifas.
Se tudo der certo, a moeda virtual deve seguir no mesmo caminho. Mas perdeu uma grande chance de facilitar o acesso e o entendimento da população ao deixar de chamar o produto simplesmente de “Real Digital”. Porque todo mundo no Brasil recebe e paga em Reais. Essa é a nossa moeda, que não muda – felizmente – desde 1994.
Ao tentar fazer algo inovador, optou-se pela criatividade do difícil. Drex é uma espécie de abreviação dos termos “real digital”, “eletrônico” e “transação” representado pelo X (de exchange, que ninguém fora da área financeira entende). Elon Musk parece que aprovou o nome!
Segundo Fabio Araújo, coordenador do Drex no Banco Central, “o time de marketing do BC criou o nome e juntou vários elementos de inovação. Com isso, damos um passo a mais na família do PIX, que a gente criou e já faz tanto sucesso”. O time de marketing do BC deveria ter se preocupado menos com a inovação e mais com a população.
Haverá dúvidas e demandas por explicações, dificultando a aceitação da moeda por parte da população. Mas, você vai fazer PIX, DREX ou vai de Real? Podemos começar a imaginar as dúvidas na cabeça do ambulante, do feirante, do lojista, além de confundir o consumidor que quer fazer um pagamento”.
Mas então, qual seria o ideal? Em “naming” – que é a estratégia de criar bons nomes para produtos e serviços – a escolha deve ser sempre pelo mais simples, o mais fácil, o mais rápido e o melhor. Então era só chamar de Real Digital e daria até para a gente usar o símbolo RD$. Fica fácil, simples e muito efetivo. Nome é para comunicar. Não é para inovar. E isso não vale só para o BC… Vale para qualquer um que queira ter uma aceitação rápida de produtos ou serviços no mercado.
. Por: Marcos Bedendo, professor de branding da ESPM-SP e sócio consultor da Brandwagon, empresa especializada em desenvolver conceitos de marca que trazem valor.