Ao contrário das expectativas, o Ibovespa não se animou o quanto se esperava depois da queda da taxa de juros acima do projetado.
Isso acontece porque o mercado, no geral, já estava em grande parte precificado, apesar de muitos analistas enxergarem um corte menor. O mercado já vem olhando para esse corte há bastante tempo, então, embora ajude o índice a se manter em um patamar estável, não foi uma grande novidade.
O grande medo da vez do mercado financeiro é que o pessoal que vai assumir venha a tomar uma linha de decisões diferente da equipe atual.
Sobretudo, é preciso ter moderação ao mensurar o impacto nesse curto prazo em relação à decisão do Copom. A medida precisa de mais tempo para incidir sobre os ativos de maneira mais transparente.
Além disso, é importante observar o impacto negativo que alguns setores tiveram sobre o Ibovespa no pregão, de maneira mais específica, mas que não refletem o desempenho da bolsa como um todo.
A resistência da semana a alguns nomes tanto associados com o setor financeiro, relevante no interior do índice, como também associados à curva de juros, que não tem o movimento trivial hoje, além de algumas commodities.
Apesar da surpresa positiva com os juros caindo mais que o esperado, ainda tenho desconfiança com relação à inflação em um longo prazo e, consequentemente, com os juros futuros. Isso amortece um pouco o Ibovespa, mas que tem uma semana muito boa em comparação com a realidade internacional, que foi predominantemente negativa.
Dólar — Enquanto o Brasil tem iniciado esforços para controlar sua inflação e tende a fazer cortes consecutivos na taxa de juros, países vistos como economias mais ‘fortes’, como os Estados Unidos, estão propícios a permanecer com juros elevados por mais tempo.
Em consequência disso, outras opções se tornam interessantes na comparação com investimentos de maior risco, como papéis de países emergentes como o Brasil.
A taxa de juros americana continua elevada para o padrão histórico. E um dos principais fatores do valor do real frente ao dólar é uma operação em que os investidores pegam emprestado em lugares com juros baixos e aplicam em países que estejam pagando bons juros.
A tendência do mercado mostra que o dólar deve terminar o ano entre R$ 4,90 e R$ 5,0 se mantendo em um ponto de equilíbrio até o fim do ano. Enquanto a Selic estiver em dois dígitos e os indicadores de inflação e atividade econômica derem suporte às decisões de política monetária do Banco Central, não acredito que o dólar possa ultrapassar a casa do R$ 5,00.
Em resumo, a decisão do Copom significa uma tendência de um menor fluxo de capital para o Brasil, visto que nos EUA e demais países os juros ainda sobem, mesmo que para níveis restritivos, não há previsão de um início de corte. Então, por ora deve-se manter a pressão forte no real.
O mercado também repercute a divulgação dos mais recentes dados de emprego dos Estados Unidos, que registraram um leve avanço em julho em relação ao mês anterior, mas que vieram abaixo das expectativas. Os dados mostram que o mercado de trabalho americano continua aquecido e pode pesar contra os mercados.
Importante salientar que a forte geração de emprego indica que a população continua com dinheiro na mão, o que pode seguir pressionando a inflação do país. Juros elevados na maior economia do mundo aumentam também o rendimento dos títulos públicos do país, que são considerados os mais seguros do planeta.
. Por: Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, uma das 15 maiores corretoras de câmbio do Brasil. O executivo também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.