A aprendizagem nos transforma, faz o mesmo que a alimentação, não só nos “conserva” (Friedrich Nietzsche. Além do bem e do mal).
Há muito que a humanidade se utiliza da natureza, absolutamente de tudo que ela nos oferece, principalmente no que é essencial a sobrevivência e perpetuidade da espécie, como, por exemplo, a água. Mas o que ocorreu ao longo do transcurso de tempo, notadamente em razão do avassalador crescimento populacional e, via de consequência, do aumento das necessidades já existentes e outras tantas descobertas, foi a promoção de forma desordenada do uso dos recursos naturais, dos quais, como dito de início, depende a nossa própria existência e sobrevivência e a de todos os demais seres vivos. Na busca pela qualidade e melhoria de vida não se tem o alcance e a distribuição dos benefícios decorrentes a todos de forma igualitária mas, ao contrário, em diversas situações somente impacta a todos quando se dá degradações ou danos provocados ao meio ambiente, com gradativa ou abrupta redução qualidade da vida natural principalmente quando irreversíveis.
Não se deseja ou se propõe abdicar do desenvolvimento que, desde os primórdios nos trouxe ao ponto onde estamos, ou seja, muito da qualidade de vida por nós usufruída hoje se deve ao desenvolvimento, notadamente das descobertas científicas, das ciências de um modo geral. A criação ou construção de algo pressupõe, regra geral, no uso, na modificação, na transformação de algo ou de alguma coisa, essa coisa, tecnicamente denominada de matéria prima provém, na sua absurda maioria, da natureza que é a nossa fonte primária de tudo. A ciência econômica trata da chamada lei da escassez, conforme ensinamentos trazidos por Leonel Charles Robbins, dispondo que os recursos são escassos e as nossas necessidades ilimitadas. As necessidades podem abranger a simples luta pela sobrevivência, bem como, conforme a concepção de vida moderna, a busca desenfreada pela realização social, desejos e escolhas pessoais, individuais, ou seja, com interferências que perpassam por questões de ordem fisiológicas, vida social, fatores psicológicos, defluindo daí a razão do ilimitado. Também não é errado dizer que “O Valor das coisas reside unicamente em sua relação com as nossas necessidades” (Karl Marx. O Capital).
Sabemos que os recursos são limitados, notadamente os recursos naturais, posto que sua renovação não se dá de forma imediata ou tendem a se esgotar por completo, como é o caso dos minérios. O desafio que se apresenta há muito é o de conciliar desenvolvimento com a preservação de toda a vida, o que se descreve como desenvolvimento sustentável ou uso racional de todos os recursos, naturais ou não, pois, como já exposto, a existência e sobrevivência de toda vida depende disso. Desenvolvimento sustentável implica em não abdicar do crescimento econômico, porém sem esgotar os recursos que são tão essenciais hoje como para uso futuro, ou seja, das próximas gerações.
Desenvolvimento sustentável não é algo estanque ou que se esgote em ação única, mas é processo de mudança que deve passar pelo uso racional dos recursos, abrangendo o direcionamento de investimentos naquele sentido ou em consonância com ele, com toda aplicação possível do desenvolvimento tecnológico voltado à mudança institucional e de consciência possibilitando a harmonização do que hoje dispomos e seu futuro uso potencial voltados a satisfação das nossas aspirações e necessidades. Ponto central é aliar desenvolvimento visando atender as nossa necessidades hoje, sem deixar de se pensar nas gerações futuras, incorrendo-se no comprometimento de suprir as necessidades das futuras gerações. Assim ele deve estar atrelado ao desenvolvimento econômico e, como consequência, ao desenvolvimento social sob a perspectiva de o ser humano ser sempre seu maior beneficiário. Nesse sentido necessárias são as ações em prol de uma sociedade mais justa, mais igualitária, consciente, de modo que todos, indistintamente, possam gozar dos benefícios gerados.
Mas, de modo inverso ao desejado, vê-se na atualidade, conforme mostram estudos e pesquisas, que o mundo no qual vivemos e conhecemos se apresenta, sob os mais variados aspectos, com enormes e sérias possibilidades de colapsar dada a incessante degradação do meio ambiente o que resulta em real ameaça da vida. Em diversas ocasiões, como de fato a história nos mostra, o descaso com a correta e efetiva gestão ambiental em razão da sobreposição de interesses econômicos, que, na maioria das vezes, só beneficia determinado grupo e de forma limitada.
Desde há muito o termo desenvolvimento é vinculado à outro termo que é transformar, alterar os meios de produção visando sempre maior capacidade de gerar bens e serviços, maior eficiência e maior geração de riquezas, o que, estruturalmente, atrela aquele termo ao progresso tecnológico, ao aumento de capacidade produtiva e do crescimento da economia, da modernização, do aperfeiçoamento e tantas outras expressões afins, até com troca de uma por outra como se fossem sinônimos. Todo o desenvolvimento acompanhado de incorporação de novas tecnologias se apresenta como ponto nevrálgico buscado pelos mais diversos países e gerando, inclusive, disputas acirradas e constantes por supremacia tecnológica e comercial. Como decorrência a melhoria geral da qualidade de vida, da erradicação da pobreza e das desigualdades regionais ficam sempre em segundo plano. Caso fossem efetivamente atreladas ao desenvolvimento as discrepância sociais e regionais poderiam ser dizimadas ou no mínimo fortemente atenuadas, promovendo-se crescimento econômico contínuo ao se disseminar suas benesses a todos e não como hoje ocorre, onde há concentração no cume da pirâmide social.
Na busca desenfreada pela realização de desejos e escolhas personalíssimas o coletivo é deixado de lado, havendo nisso tudo aparente ou subjacente egoísmo, ou sobreposição do Eu sobre o Nós. Immanuel Kant estudou e se manifestou acerca do egoísmo caracterizando-o como originário e assentado sobre três bases, segundo a visão ou ação daquele que age com egoísmo: a lógica; estética e a moral. No primeiro caso, da lógica, o egoísta age por crer que suas ações e atitudes não requerem submissão ao juízo do outro, mas a recíproca não é verdadeira, ou seja, os outros devem submissão ao juízo dele. No segundo caso, da estética, o egoísta busca contradizer e não se submeter aos gostos dos outros. Mas, ao contrário, os outros devem acato e submissão aos seus gostos; e, por fim, o terceiro caso, da moral, deve haver, segundo a visão do egoísta, prevalência do seu eu sempre em primeiro lugar e sempre com a visão de que o que não lhe traz satisfação, independente de que ou quem lhe é próximo, não tem valor, não tem serventia.
O desenvolvimento não pode extrair o ser humano de todo processo existente ou a ser criado, qualquer que seja o processo ou procedimento o objetivo central deve ser sempre o ser humano, ou seja, sempre o ponto determinante a justificar o desenvolvimento e a promoção da real valorização e melhoria na qualidade de vida, de todos e não apenas de determinada pessoa ou grupo de pessoas, seja por concessão de benefícios ambientais, sociais ou no atendimento de qualquer outra demanda essencial que vise suprir as necessidades desde as mais básicas até as mais complexas. Não se pode conceber, nos tempo atuais, que a expressão crescimento esteja atrelada apenas e tão-somente aos frios números da economia, como o PIB, mas que o resultado do desenvolvimento abarque os aspectos sociais, ou seja, qualitativos, vinculando-se obrigatoriamente ao desenvolvimento das pessoas e da qualidade de vida de todos.
. Por: Menildo Jesus de Sousa Freitas. Mestre em Contabilidade. Professor Universitário. Membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis. Perito Contador Aposentado do Ministério Público da União.