Em A Arte de Escrever, Arthur Schopenhauer aborda sua visão sobre vocação e distingue aqueles que seguem ciência ou arte por amor e prazer daqueles que o fazem por ganho financeiro. Assim que li o texto, meu cérebro automaticamente substituiu “ciência ou uma arte” por “carreira política”, o que me levou a fazer buscas nos escritos de Max Weber (1864–1920).
Weber diz que somos todos políticos ocasionais. Quando tomamos lado, seja por meio de algum protesto ou aplauso a determinado agente político, ou até mesmo nas democracias modernas, mediante o voto, agimos de forma política. De um modo ou de outro, influímos na ocupação dos espaços de poder nas estruturas políticas.
Há também os “políticos profissionais”, que, conforme Weber, surgem com o Estado Moderno. O modelo observado por ele contrasta com o “político diletante”. O texto de Weber confronta o modelo de carreirismo político, característico no Brasil.
Não levo a ideia de diletantismo para a política ao extremo, a ponto de imaginar que políticos devam trabalhar de graça, apenas por “amor”. Isso é utopia. Nas democracias modernas, políticos têm bons salários. Mas no Brasil, o carreirismo político tornou-se uma alternativa de sobrevivência – e esse problema dialoga com o conceito de político profissional de Weber.
Os adeptos a essa linha de vida geralmente não conseguem sucesso na iniciativa privada. Com isso, entram na política para sugar, não para somar. Surge assim um problema moral. O político carreirista, como não tem outro modo de sobrevivência que não a própria política, “vende a alma ao demônio” para manter seu cargo ou mandato.
O Brasil precisa sair do terceiro-mundismo e avançar em seu sistema político. Nossa Constituição, por exemplo, foi construída ao molde parlamentarista. Parlamentarismo com voto distrital puro seria ideal. A cobrança ao político eleito aumenta nesse sistema e isso causa desconforto ao político carreirista, aquele que não tem vocação política e pensa apenas na sobrevivência (ou até no enriquecimento).
Em seu livro “Cartas a um jovem político”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disserta sobre as motivações do indivíduo ingressar no meio político. Segundo ele, a vocação é princípio fundante para isso. Ele adverte que se “não for possível guardar um certo idealismo, então para que entrar na política?”. Sendo esta uma das atividades mais desmoralizadas do país, complementa, alguém precisa ocupar os espaços e a tarefa de governá-lo. Do contrário, sublinha – e com razão –, os medíocres ocuparão esses espaços.
Reafirmo que não é errado buscar uma carreira política, ou até mesmo (sobre) viver dela. O trabalhador é digno do salário. A questão é a vocação. Ou seja, almejar uma carreira na política e um sustento precisa ser subsequente à vocação e ao idealismo.
. Por: Ianker Zimmer, jornalista e autor do livro “A Mente Revolucionária” (Almedina Brasil).