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16/04/2025

Saldo comercial registra US$ 8,2 bilhões em março, diz Icomex

Com a volta do superávit com a China que totalizou US$ 4,2 bilhões.

No Icomex de março o FGV IBRE já comentou acerca da imprevisibilidade da política tarifária de Trump e seus efeitos adversos sobre as decisões de investir e os fluxos de comércio. Desde então, a situação só tendeu a piorar e apresentamos algumas reflexões, após os dados da balança comercial. Observa-se, porém, que os efeitos dos tarifaços de Trump ainda não repercutem na balança comercial.

O saldo da balança comercial de março foi de US$ 8,2 bilhões, um bilhão maior do que igual período de 2024. Contribuiu para esse resultado, o superávit com a China de US$ 4,2 bilhões, após dois meses consecutivos de déficits. No acumulado até março, porém, o superávit de 2025 (US$ 10,0 bilhões) foi inferior ao de igual período em 2024 (US$ 18,5 bilhões).

Entre os meses de março de 2024 e 2025, o valor aumentou 5,5%, liderado pelo crescimento do volume em 5,1%. No entanto, esse aumento não compensou a queda no mês de janeiro e o crescimento de 0,9% em fevereiro, entre 2024 e 2025. Assim, na comparação entre as variações entre o primeiro trimestre de 2024 com o de 2023 e do primeiro trimestre de 2025 com o de 2024, observa-se a redução na variação do volume. Essa passou de um aumento de 6,3% (2024/2023) para um aumento de 1,4% (2025/2024). Esse resultado levou a um recuo de 0,5% no valor exportado em 2025. Os preços caem em ambas as comparações, mas a diferença é menos marcante do que entre os volumes.

Importações — Nas importações, houve aumentos no volume, de 3,0%, e no valor, de 2,6%, entre os meses de março de 2024 e 2025. E na comparação interanual do primeiro trimestre, o volume importado cresceu 17,0% em 2025 e 8,2%, em 2024. Ressalta-se, porém, que os dados de importações foram impactados pelas compras de plataformas flutuantes em fevereiro, que levou a um aumento de 33,5% em relação a fevereiro de 2024. O aumento de bens de capital nesse mês foi de 127,2%.

Exportações — As commodities explicaram 67% das exportações brasileiras em março e registraram aumento de 2,6% em volume, com queda de preços em 1,2%. As exportações de não commodities aumentaram 11,5%, com aumento de preços de 3,3%. Como mostra, na comparação dos primeiros trimestres de 2024 e 2025, a liderança é das exportações de não commodities, enquanto as commodities experimentam recuos no volume, de 2,2%, e nos preços, de 4,2%.

As comparações dos primeiros trimestres de 2024/2023 e 2025/2024. Enquanto no ano passado as commodities lideravam as exportações acompanhadas de recuo nas vendas de não commodities, esse ano o comportamento se inverteu: liderança das não commodities e recuo das commodities.

A análise por setor de atividade do volume exportado mostra aumento no volume da agropecuária (+14,4%), queda na extrativa (-11,3%) e aumento na transformação (+8,7%). Na comparação dos trimestres, a transformação lidera (+5,4%), seguida da agro (+2,9%) e recuo na extrativa (-8,6%).

A melhora no desempenho da agropecuária em relação aos meses de janeiro e fevereiro de 2025 está associada às exportações de soja, que cresceram em volume 16,5% e explicaram 70% das exportações da agropecuária, em março. No caso da extrativa, o petróleo bruto explicou 52,7% das vendas do setor em março e registrou recuos em valor, de 20,3%, de volume, de 25,5% e aumento de 7,0% no preço. O minério de ferro, com participação de 37,1%, recuou em valor 16,5%, aumentou o volume em 7,9%, mas os preços caíram 22,6%.

Na indústria de transformação, as exportações de carne bovina, com participação de 6,9% no total exportado pelo setor, aumentaram 40,1%, em valor e 29,6%, em volume, entre os meses de março de 2024 e 2025. O segundo principal produto foi o óleo combustível (6,6% de participação), com crescimento de 13,2% (valor) e 20,6% (volume), e o terceiro, a celulose (participação de 6,4%), registrou aumentos de 25,4% (em valor) e 28,8% (volume).

As importações por setor de atividade mostram, na comparação dos primeiros trimestres de 2024 e 2025, aumento em valor de 23,9% na agropecuária, recuo de 20,8% na extrativa e crescimento de 15,9% na transformação. Em termos de volume, a liderança é da agropecuária (+23,1%), seguida da transformação (+18,9%) e recuo na extrativa (-12,6%).

Na comparação interanual do mês de março, o mesmo comportamento se repete, mas com percentuais menores de variação para a agropecuária (+18,2%), para a transformação (+4,8%) e maior variação para a extrativa (-26,3%).

O comportamento das exportações e importações de petróleo bruto. Observa-se que tanto as importações como as exportações recuam em termos de volume. Na comparação dos trimestres, foi uma queda de 14,7% das exportações e de 12,1% das importações. Os preços recuam nas importações e aumentam 6,7% (comparação mensal) e 1,3% (comparação dos trimestres) nas exportações.

Observa-se que o saldo da balança comercial do petróleo e derivados no primeiro trimestre é positivo: US$ 6,6 bilhões, sendo US$ 8,0 bilhões o saldo do petróleo bruto e um déficit de US$ 1,3 bilhões dos derivados de petróleo. Os demais produtos registraram um superávit de US$ 3,3 bilhões. O superávit da conta petróleo e derivados foi superior ao dos demais produtos.

Os saldos comerciais por principais parceiros na comparação dos trimestres mostram que a redução do superávit total de US$ 18,5 bilhões em 2024 para US$ 10 bilhões, em 2025, está associada, principalmente, a queda do superávit com a China, que passou de US$ 8,7 bilhões para US$ 745 milhões. No entanto, como mencionado anteriormente, após dois meses consecutivos de déficit, o Brasil registrou superávit com a China em março. Espera-se que nos próximos meses, com o envio da soja para esse mercado e possível aumento nas vendas de outros produtos da agropecuária, a depender, dos rumos da “guerra comercial” Estados Unidos e China, os superávits se acumulem.

Na comparação dos primeiros trimestres de 2024 e 2025, caíram o volume exportado para a China (-5,9%) e os preços (-8,2%), enquanto o volume importado aumentou em 43,4%, com recuo nos preços de 5,4%. Chama atenção o aumento do volume exportado para a Argentina (+54,4%). As exportações de veículos de automóveis de passageiros com participação de 20% nas vendas totais do Brasil para esse mercado aumentaram em 150%, na comparação dos primeiros trimestres de 2024 e 2025.

As perspectivas para a balança comercial em 2025 ainda dependem de um maior esclarecimento do cenário que irá prevalecer. Ganhos, se o Brasil tiver, seriam na área de agropecuária. Na transformação, se os países asiáticos, exceto China, continuaram com tarifas de 10%, os ganhos de calçados, vestuário, muitas vezes citados, podem não ocorrer.

A política errática de Trump — No Icomex de março comentamos a imprevisibilidade da política tarifária de Trump e seus efeitos adversos sobre as decisões de investir e os fluxos de comércio. Anúncio de tarifas recíprocas, uma invenção do governo Trump, que dependia do tamanho dos déficits das balanças comerciais bilaterais dos Estados Unidos com seus parceiros. A tarifa da China foi estimada em 67%, a do Vietnã, em 90%, e num “ato de boa vontade — segundo Trump, seria aplicada a metade da tarifa de reciprocidade estimada. Além disso, foi anunciado que a tarifa de importação mínima a ser aplicada pelos Estados Unidos seria de 10%. Na América do Sul, exceto Venezuela e Guiana, todos os países receberam a tarifa adicional de 10%. Isso foi no dia 02 de abril.

No dia 08 de abril (terça-feira), Trump suspendeu as tarifas recíprocas superiores a 10%, mas manteve a da China que, após anúncio de retaliação do governo chinês, passou para 125% e depois para 145%. O governo chinês divulgou que as importações dos Estados Unidos serão taxadas em 125% e que não pretende continuar com essa escalada tarifária. No dia 11 de abril foi anunciado que smartphones, computadores e outros produtos eletrônicos, semicondutores, painéis solares, entre outros ficarão isentos das tarifas recíprocas, inclusive a China. Posteriormente, Trump avisou que esses produtos poderão estar sujeitos à tarifas específicas.

A motivação da política comercial de Trump está descrita no Trade Act de 2025: restaurar a manufatura do país que é a fonte de riqueza da classe média americana. Diversos analistas já apontaram os erros da política comercial de Trump. Com o avanço da automação, a manufatura emprega pouco e os empregos são gerados principalmente no setor de serviços. Muitas cadeias de produção estão globalizadas e trazer todas as fábricas para os Estados Unidos não só seria uma tarefa para vários anos como o custo iria gerar aumentos de preços e queda de produtividade.

Outros efeitos da política Trump começam a impactar na área monetária e financeira, com percepção de aumento de risco nos títulos do governo e do porto seguro do dólar. São movimentos ainda erráticos, como a política de Trump. No entanto, se a postura de Trump pode agradar parte dos seus eleitores que identificam o resto do mundo como culpado pela situação de perda de mercados, desemprego e outros males, para o resto do mundo, os Estados Unidos está perdendo sua legitimidade. Não basta ser “o poderoso”, é preciso que os outros países reconheçam a legitimidade das ações de alguma forma. A política de Trump enfraquece o poder dos Estados Unidos na arena internacional.

Por último, é bom lembrar a assimetria das posições entre China e Estados Unidos. A participação da China nas exportações dos Estados Unidos é de 7,5% e nas importações de 17%. A participação dos Estados Unidos nas importações chinesas é de 6,6% e nas exportações de 16,2%, dados do Banco Mundial de 2022. Demora relativamente menos a China encontrar novos mercados para os seus produtos do que os Estados Unidos substituírem os seus fornecedores chineses.