A inflação de março de 2025, registrada em 5,48%, evidencia os desafios persistentes do Banco Central do Brasil (BC) em conter a alta dos preços, que avança pelo terceiro mês consecutivo. A narrativa predominante atribui a aceleração inflacionária a choques de oferta: em fevereiro, o fim do Bônus de Itaipu elevou as contas de energia; em março, a depreciação do real encareceu os alimentos. Contudo, culpar apenas “choques de oferta” mascara a real fragilidade do país em controlar a inflação.
O BC opera sob o regime de metas de inflação, com objetivo de manter o IPCA em 3%, permitindo variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Seu principal instrumento é a taxa Selic, que, desde setembro de 2024, subiu agressivamente de 10,5% para 14,25%, com projeções de alcançar 15%. Apesar disso, os aumentos têm tido efeito limitado. A política monetária, embora crucial, não é suficiente sozinha para domar a inflação.
O cerne da crise inflacionária está na política fiscal expansionista, que sabota os esforços do BC. Enquanto o governo amplia gastos públicos e crédito, alimentando a percepção de risco e pressionando câmbio, juros e preços, o BC tenta conter a economia elevando a Selic. Meu professor de política macroeconômica, Carlos F. Valdovinos, ex-banqueiro central e ministro da Fazenda do Paraguai, dizia que o Ministério da Fazenda pode ser o maior aliado ou o pior inimigo do BC. No Brasil atual, a descoordenação entre políticas fiscal e monetária agrava a inflação, empurrando o país para um perigoso cenário de estagflação.
• Por: João Victor da Silva, Especialista em Economia, Finanças e Relações Internacionais — Graduado em Economia e Relações Internacionais pela Universidade de Boston (EUA), Mestre em Finanças pela Universidade de Miami (EUA) e Mestre em Relações Internacionais (com honras) pela Universidade de Chicago (EUA), onde ganhou o Prêmio Morton A. Kaplan de 2022 pela melhor dissertação de mestrado no Comitê de Relações Internacionais. Consultor Estratégico da Orsitec Assessoria Contábil e Empresarial em Florianópolis (SC).