mauricio-takahashi

15/04/2025

A reconfiguração global de Trump não será gentil com quem adiar decisões

Enquanto os olhos do mundo acompanham os próximos movimentos de Donald Trump e Xi Jinping no tabuleiro, o Brasil assiste de um ponto privilegiado – mas ainda indeciso – uma das maiores reconfigurações geoeconômicas das últimas décadas.

A recente escalada tarifária imposta pelos EUA à China não é só mais um episódio de protecionismo, é uma jogada clara de reposicionamento estratégico. E seu impacto vai muito além dos contêineres. Ficar em cima do muro é uma estratégia inadequada para ser protagonista.

Ao elevar tarifas sobre veículos elétricos, baterias, semicondutores e painéis solares chineses, os EUA mandam um recado direto: querem desacelerar a supremacia tecnológica de Pequim e reestruturar as cadeias de valor em direção a países considerados “amigáveis” – ou seja, que não retaliam e não representam riscos geopolíticos.

A resposta da China também não surpreende. Diversificar rotas comerciais, aumentar a autossuficiência em inovação e acelerar a internacionalização de suas empresas por meio de terceiros países (como Vietnã, Indonésia ou Emirados Árabes) são apenas peças já conhecidas no tabuleiro de Pequim.

Chamar esse embate de “disputa comercial” é simplificar demais. O que está em curso é uma nova guerra fria estrutural, movida por chips, carbono, infraestrutura e inteligência artificial. O dólar, o comércio e os investimentos diretos se tornaram armas silenciosas em um jogo de hegemonia.

E nesse jogo, podemos sair da arquibancada. Mas precisamos nos mover.

Para além das declarações diplomáticas e dos ciclos eleitorais, o país tem uma oportunidade rara: ser o elo neutro e confiável entre blocos que buscam redesenhar suas relações produtivas e logísticas, mas isso exige escolhas claras e rápidas.

Posicionar o Brasil como parceiro confiável nas cadeias globais significa estabilidade jurídica, previsibilidade tributária e uma diplomacia que compreenda o novo jogo de interesses globais. Soft Power não enche navio.

Muitas multinacionais querem sair da China – mas não para ir para outro problema. Precisamos oferecer não apenas incentivos fiscais, mas infraestrutura funcional, mão de obra qualificada e políticas industriais articuladas.

É ilusório querer disputar lugar em cadeias globais sem resolver gargalos logísticos e déficits de formação técnica. Há demanda de menos planos e mais corredores bioceânicos, menos discursos e mais técnicos em automação, dados e energia limpa.

O mundo procura alternativas verdes e sustentáveis. Nossa bela terra já tem ativos naturais, agora precisa transformá-los em vantagens competitivas por meio da bioeconomia, da eletrificação da frota pesada e da rastreabilidade de carbono. Há uma janela e ela está aberta agora.

Se o Brasil não se reposicionar, perderá relevância na nova economia. Ficará preso a exportações primárias, vulnerável a decisões tomadas fora e limitado a assistir, mais uma vez, ao bonde da história passar.

Mas se nossas instituições agirem com estratégia, articulação público-privada e ousadia diplomática, podemos deixar de ser apenas uma peça no tabuleiro – e nos tornarmos um dos jogadores.

Em suma, posicionar-se como parceiro estratégico confiável em cadeias produtivas globais, atrair empresas estrangeiras que buscam sair da China, investir em infraestrutura logística, educação técnica, diplomacia comercial proativa e estimular o desenvolvimento tecnológico e a transição verde como plataformas de inserção internacional.

Por: Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.|*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie. | Universidade Presbiteriana Mackenzi — A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.