Na recente Superquarta, tanto o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, quanto o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) dos Estados Unidos, anunciaram suas decisões sobre as taxas de juros, influenciando mercados e a economia em geral.
No Brasil, o Copom elevou a taxa Selic em um ponto percentual, atingindo 14,25% ao ano, o maior nível desde 2016. Essa decisão visa conter a inflação persistente e alinhar as expectativas inflacionárias às metas estabelecidas. O mercado espera com expectativa a ata do comitê, que será divulgada nos próximos dias e fornecerá mais detalhes sobre os fatores que influenciaram essa decisão, incluindo avaliações sobre a atividade econômica, expectativas de inflação e o cenário fiscal. Essas informações podem ajudar a ancorar as previsões para a próxima reunião em maio, sinalizando se já estamos em um final de ciclo de aperto monetário, visto que essa medida tem um efeito colateral sensível para a economia e na vida das pessoas.
No cenário externo, mais especificamente na maior economia do mundo, o FOMC manteve as taxas de juros norte-americanas no intervalo de 4,25% a 4,50%, adotando uma postura cautelosa diante do atual cenário. Essa decisão pode impactar o mercado brasileiro de diversas formas. Destaco os fluxos de capital e o mercado de câmbio.
A manutenção das taxas nos EUA pode manter o diferencial de juros favorável ao Brasil, atraindo investimentos estrangeiros e deixando o dólar mais barato, cenário que impacta negativamente os exportadores e positivamente os importadores.
Cabe uma crítica sobre o contrassenso do Poder Executivo. Enquanto a política monetária adota uma postura restritiva para conter a inflação, a política fiscal busca equilíbrio por meio do aumento de impostos e de gastos públicos. Algumas dessas medidas são consideradas populistas e ineficientes, detalhadas a seguir.
A isenção de imposto de renda para a classe média, considerados os que ganham menos de R$ 5.000 por mês, beneficia cerca de 10 milhões de contribuintes. Porém, para compensar a perda de receita, pretende-se aumentar os impostos sobre os mais ricos em até 10%. Essa medida busca melhorar a popularidade do governo, mas pode não ser sustentável a longo prazo, visto que pode espantar ainda mais o capital do investidor.
O governo aprovou um pacote de ajuste fiscal com aumento de gastos públicos sem corte de despesas, inicialmente avaliado em quase R$ 70 bilhões, contudo, após diversas alterações, o valor final foi significativamente menor, levantando a dúvidas sobre a eficácia das medidas para conter o déficit público que é coberto por mais dívidas do governo.
O aumento da taxa Selic encarece o crédito, afetando especialmente setores que dependem intensamente de financiamento. Os destaques ficam para a construção civil, para o varejo de bens duráveis e para o agronegócio.
Na construção civil, os projetos imobiliários podem ser adiados ou cancelados devido ao aumento dos custos de financiamento. Essa é uma área que emprega bastante, dá oportunidade para pessoas adquirirem sua moradia e movimenta muitos outros setores relacionados às residências.
No varejo de bens duráveis, a venda de itens como eletrodomésticos, veículos e tudo que “se paga em vezes” tende a diminuir, já que os consumidores enfrentam crédito mais caro.
No agronegócio, os produtores rurais podem encontrar dificuldades em financiar safras e investimentos em tecnologia agrícola. Sementes, fertilizantes e principalmente maquinários dependem de crédito. Como o ciclo de produção não é como o de uma padaria, esse crédito precisa ser longo e competitivo para se adequar às demandas do setor. Com os juros mais caros, ficam complicados novos investimentos na área.
Cabe dizer que além dos aumentos diretos de preços, os consumidores enfrentam a “reduflação”, que é a redução do tamanho ou quantidade dos produtos sem a correspondente diminuição de preço. Essa prática é uma forma de inflação disfarçada, na qual o consumidor paga o mesmo por menos. Observe nas refeições como o tamanho das porções e dos produtos estão cada vez menores. O preço pode eventualmente estar o mesmo, mas a quantidade está menor.
Como é importante traduzir o linguajar técnico para algo que faça sentido para não especialistas, imagine que sua vida financeira é como navegar em um barco. Quando a taxa Selic sobe, é como se o mar ficasse mais agitado, você precisa ajustar as velas (reavaliar gastos) e segurar firme o leme (poupar mais) para manter o curso estável. Se o endividamento for inevitável, é como carregar carga extra no barco. Nesse caso, é essencial distribuir o peso de forma equilibrada (planejar o pagamento das dívidas) e garantir que o barco esteja em boas condições (manter uma reserva financeira) para enfrentar possíveis tempestades.
Em resumo, a elevação da taxa Selic busca controlar a inflação, mas traz desafios para diversos setores econômicos e exige cautela nas decisões financeiras pessoais.
• Por: Maurício Takahashi, docente de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville.| *O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.| Universidade Presbiteriana Mackenzie — A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.