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19/02/2025

As exportações recuaram 5,7% e as importações aumentaram 12,2%, em valor, diz Secex

O saldo da balança comercial brasileira de janeiro de 2025 foi de US$ 2,2 bilhões, inferior em US$ 4,0 bilhões a igual período do ano anterior.

As estatísticas do mês de janeiro da balança comercial para as exportações e importações totais registram comportamento similar ao observado a partir de meados de 2024. Na comparação interanual de janeiro de 2024 e 2025, as exportações recuaram 5,7% e as importações aumentaram 12,2%, em valor. O volume exportado caiu 4,9% e o importado cresceu 14,6%. Os preços exportados recuaram 4,9% e os importados caíram 2,0%. Com esses resultados, o saldo da balança comercial brasileira de janeiro de 2025 foi de US$ 2,2 bilhões, inferior em US$ 4,0 bilhões a igual período do ano anterior.

A queda nas exportações foi liderada pelas commodities que registraram queda no volume (1,5%) e nos preços (9,5%). As não commodities registraram aumento no volume (1,2%) e nos preços (5,4%), Gráfico 2.

A queda das exportações de commodities está associada ao desempenho da agropecuária e da extrativa (Gráfico 3). Em termos de volume, a agropecuária registrou um recuo de 16,0% e nos preços de 0,7%. O principal produto exportado foi o café não torrado, com aumento na quantidade (medido em tonelada) em 9,5% e nos preços de 63,8%. Em seguida, o milho recuou 26,3%, o algodão aumentou em 66,1%, mas a soja teve queda de 64,4%. Todas as variações se referem à quantidade, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), entre os meses de janeiro de 2024 e 2025.

Na extrativa, o volume aumentou 5,4% e os preços recuaram em 18,1%. A quantidade em toneladas do petróleo bruto aumentou em 9,3% e do minério de ferro em 5,9%, mas os preços desses dois produtos recuaram em 16,1% e 26,3%, respectivamente.

A queda no volume das commodities foi liderada pela agropecuária e dos preços pela extrativa. A indústria de transformação registrou queda de volume (-0,5%) e aumento nos preços (+2,1%).

O aumento das importações em valor é explicado pelo desempenho da agropecuária (+21,3%), seguido da indústria de transformação (+13,4%). Nos dois casos, como ilustrado no Gráfico 4, houve aumento no volume importado, 21,9% na agropecuária e 15,3% na transformação. O recuo em valor da extrativa está associado à queda nos preços (10,6%).

Os dois principais produtos importados da agropecuária, 42,1% do total das importações do setor, registraram aumento na quantidade em toneladas: trigo (16,8%) e cacau (159,2%), nesse último caso aumento de preços de 94,9%. Na extrativa, os dois principais produtos registraram queda de preços — petróleo bruto (5,7%) e carvão (21,8%) — mas a quantidade aumentou em 8,4% para o petróleo e ficou estável para o carvão. Esses dois produtos explicam 78,5% das importações do setor.

A pauta de importações é diversificada e os cinco principais produtos explicam 22% do total importado. Todos registraram aumento na quantidade importada: óleo combustível (10,7%); adubos (9,05%); máquinas e motores não elétricos (39,3%); partes e peças para veículos (26,3%) e válvulas (28,9%).

A desagregação por categoria de uso na indústria de transformação mostra que o aumento das importações em volume foi liderado pelos bens de capital (22,7%), bens semiduráveis (21,4%) e bens intermediários (16,8%). As outras categorias registraram queda. Na agropecuária, aumentaram as importações de bens de capital (13,8%) e de bens intermediários (14,6%).

A análise da balança comercial por mercado de destino mostra um déficit com a China de US$ 582 milhões, o que pode ser explicado, em parte, pelo efeito sazonal da soja que não começou o embarque. Desde 2009, quando o Brasil passou a ter superávit com a China, a série histórica do mês de janeiro registrou 11 episódios de déficit nesse mês. A variação das exportações de soja entre os meses de janeiro de 2024/2025 foi uma queda de 68,0%. O petróleo, principal produto, recuou 38,0%, enquanto minério de ferro diminuiu 27,0%. Entre os principais produtos, a celulose registrou variação positiva (+53,0%) e a carne (+5,3%). Como mostra o Gráfico 5, as exportações para a China caíram em valor, volume e preços.

Outro destaque é o caso da Argentina, com superávit de US$ 326 milhões, impulsionado por um aumento das exportações de 57,9%, em valor, liderado pelo aumento no volume de 72,0%. As vendas de automóveis (+173%, em valor) e partes e peças de automóveis (+25,5%), que somaram 20,2% das exportações para esse país, ajudam a explicar esse resultado. A valorização do peso argentino em relação à moeda brasileira influencia nesse resultado.

Com os Estados Unidos o déficit foi de US$ 230 milhões, com queda no volume exportado. O petróleo, que explica 16% das exportações para esse país, registrou recuo de 31,0%. Os semiacabados de ferro e aço, que serão atingidos se entrar em vigor o imposto de 25% anunciado por Trump, aumentaram 25,6% e o café, 35,5%.

Na União Europeia, o déficit foi de US$ 93,2 milhões, com aumento em valor (28,4%) e volume das exportações (29,4%). São destaques as variações em valor do petróleo (28% das exportações com variação de +61,7%), café (participação de 16% e variação de +92,1%) e a celulose (participação de 5,8% e variação de +60,2%).

No caso das importações, observa-se que aumentam em valor para todos os mercados e a maior variação é registrada na China. Nesse caso em termos de valor (+19,6%) e volume (+25,4%).

Perspectivas — O texto a seguir reproduz uma parte da seção do Setor Externo da edição de fevereiro do Boletim Macro FGV/IBRE a ser divulgado durante a presente semana.

Projeções da balança comercial no início do ano tendem a ser revistas frequentemente ao longo do ano. Na divulgação da balança comercial de 2024, a Secretaria de Comércio Exterior estimou que o saldo para 2025 poderá ficar entre US$ 60 bilhões a US$ 80 bilhões. O Relatório Focus de 10 de fevereiro projetou saldo de US$ 76,8 bilhões.

O cenário é de incertezas no comércio mundial, com as medidas do governo Trump: o anúncio de imposição de uma tarifa de 25% incidente sobre produtos do México e do Canadá, depois suspensa por um mês; a imposição de 10% de tarifas de importações incidentes sobre produtos chineses, em vez dos 60% ameaçados; o anúncio de um aumento de 25% sobre as importações americanas de aço e alumínio de todas as origens, a vigorar a partir de 12 de março.

A medida mais recente, publicada em 13 de fevereiro, foi o “Reciprocal Trade and Tariffs”, em que se cita, como um dos exemplos de sua motivação, o imposto de importação de 18% que o Brasil pratica em relação ao etanol, em comparação aos 2,5% dos Estados Unidos. Não se discute a qualidade do etanol brasileiro, que seria produzido de forma menos poluente do que a do milho, usado para produzir etanol nos Estados Unidos. É bom lembrar também que, para atender a demanda dos produtores de milho americanos, foram impostos direitos compensatórios na década de 1980 sobre o etanol brasileiro, que reduziram as vendas do produto brasileiro. O exemplo do etanol, portanto, reflete os lobbies protecionistas dos Estados Unidos.

Avaliar o efeito dessa medida não é imediato. Existem 5735 linhas tarifárias ao nível de 6 dígitos do Sistema Harmonizado (SH) nos Estados Unidos e o país pratica até 12 dígitos do SH. Qual será a comparação? Um exemplo são três produtos do capítulo de máquinas elétricas e equipamentos e produtos em que Brasil e Estados Unidos registraram importações no comércio bilateral em 2022. As tarifas praticadas pelo Brasil em relação às importações dos EUA eram de 18,0% (SH 851110), 12,8% (SH 853521 e SH 851690), enquanto a tarifa incidente sobre o produto brasileiro nos EUA era de 2,5% (85110) e zero para os outros dois. Esses são dados do banco de dados de tarifas da UNCTAD .

Nota publicada pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (AMCHAM ) chamou atenção para o fato de que, apesar de a tarifa média nominal brasileira para o mundo ser de 12,4%, a tarifa média efetiva ponderada pelas importações americanas é de apenas 2,7% (supõe-se que seja para o ano de 2023 ou 2024). Na base de dados do WITS , para 2022, a tarifa média simples aplicada pelo Brasil às importações dos EUA foi de 11,3%, e a ponderada pelas importações de 4,7%. Nos EUA, a média incidente sobre as importações brasileiras foi de 2,2%, e a ponderada pelas importações oriundas do Brasil de 1,3%.

As diferenças ocorrem pela composição das importações e, no caso brasileiro, pelos regimes especiais de importação, como os ex-tarifários, que permitem isenções de tarifas quando o importador, por razões de prazos de entrega, qualidade e falta de similar nacional, requer a isenção. Além disso há o Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado(Recof), que é um regime aduaneiro especial que permite a importação, ou aquisição no mercado nacional, de mercadorias destinadas à industrialização, com suspensão do pagamento de tributos federais. E mais ainda o “drawback”, que suspende os tributos incidentes sobre a aquisição, no mercado interno ou via importação, de mercadorias para emprego ou consumo na industrialização de produto a ser exportado.

Esses são argumentos a serem apresentados no caso de negociações com os Estados Unidos. No entanto, não se elimina o grau de incerteza, pois como são regimes especiais, nada garante que os Estados Unidos não insistam em considerar as alíquotas nominais de importação em vigor. Outra questão que pode surgir é se a reciprocidade se refere apenas a produtos que fazem parte da pauta bilateral ou se poderão ser considerados outros produtos, desde que a diferença tarifária ocorra. A alegação pode ser que a tarifa impede a exportações dos Estados Unidos para o Brasil.

Existe o argumento de que o Brasil não está na lista de prioridades, pois é deficitário com os Estados Unidos. Em 2024, o Brasil foi o 7º maior superávit registrado no comércio bilateral dos Estados Unidos, no valor de US$ 7,3 bilhões, segundo a Amcham. É um fato relevante, mas, como já analisamos na Seção em Foco do Boletim Macro IBRE de janeiro, as decisões são influenciadas pelos lobbies de setores que concorrem com as importações brasileiras, caso de siderurgia, etanol, e possivelmente carnes, sucos e segmentos de outros setores.

Por enquanto, o efeito mais visível é o grau de incerteza que o governo Trump trouxe para a governança do comércio mundial. A China avisou que vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Brasil, idem. A crítica de que não vai resolver nada, pois a OMC está paralisada, não impede que os países chamem a atenção para a importância das regras. A defesa de uma coalizão entre União Europeia, América Latina e Ásia tem sido defendida como forma de isolar os EUA. Não é uma tarefa simples, mesmo porque há divergências entre essas regiões. Ademais, questões de segurança prevalecem em muitos países, como os aliados da OTAN.