A publicidade brasileira ganhou, em 1988, o Leão de Ouro em Cannes com um comercial produzido para o jornal Folha de São Paulo pela agência W/Brasil. A peça publicitária relatava os feitos de um homem que “pegou uma nação destruída, recuperou a sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Nos quatro primeiros anos, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. ‘Este homem’ fez o PIB crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou o lucro das empresas e reduziu uma hiperinflação. ‘Este homem’ adorava música e pintura e, quando jovem, imaginava seguir a carreira artística”. A propaganda trazia uma imagem de bolas brancas e pretas e quando o movimento do zoom da câmera terminava era possível ver a face de Adolf Hitler. O comercial, então, concluía: “é possível contar um monte de mentiras, dizendo só a verdade”. O filme teve Washington Olivetto, que faleceu no passado, como o diretor de criação e Nizan Guanaes como roteirista.
A publicidade premiada, na França, nos traz uma importante reflexão sobre a verdade e a ética na prática. A Ética da verdade passa a compor aquilo que cada pessoa poderá enxergar como algo que, quando praticado por outros, refletirá positivamente em sua vida. Em resumidas palavras, como podemos explicar e/ou conceituar o que é Ética na prática? Simples, afinal, no fundo, todo mundo consegue definir o que é bom e ruim em determinada situação quando vai agir.
Então, para conceituar Ética na prática, devemos antes definir o que seria uma ação antiética: é toda conduta praticada por uma pessoa ou grupo de indivíduos que seu resultado irá refletir em qualquer forma de prejuízo a outro cidadão ou grupo de pessoas.
Assim sendo, entender que a Ética nos remete a verdade, é tecer a ideia de “verdade” como única. No conceito de Ética na prática, verdade é verdade, tal como deve ser, o fato é bom ou ruim, o ato praticado fez bem ou mal, foi positivo ou negativo, seguiu ou não as regras, sejam elas normas sociais ou escritas na forma de leis. Neste caso, em hipótese alguma se utilizará do prisma de “várias verdades”, como utilizam, muitas vezes, para julgar ou analisar um caso, e daí, tem-se comumente a ideia de que a aproximação da verdade por si já é suficiente.
Este nosso entendimento de que a Ética na prática está embrionariamente associada a plena verdade, é comungar do pensamento que toda e qualquer ação promovida por uma pessoa ou um grupo deverá resultar sempre positivamente na vida pessoal e/ou profissional de outro (s).
A verdade quando observada como real e efetiva na prática da Ética, conduzida por meio do pertencimento, real participação da construção de uma sociedade por meio da sua forma de agir e pensar, é algo que transcende as barreiras e cria um ambiente onde todos são atuantes e responsáveis por uma edificação coletiva. É o que temos buscado, todos os dias, no Instituto Ética Saúde, onde as pessoas jurídicas, materializadas pelo “pertencer” individual das pessoas físicas lideram trabalhos no aperfeiçoamento de códigos setoriais que tem como objetivo principal expurgar o arquétipo do mal, aquele exemplo brilhantemente retratado no comercial da W/Brasil, das relações econômico-financeiras do setor da saúde, traduzido pela corrupção, fraudes, subornos, propinas, pagamentos indevidos e tantas outras práticas antiéticas que, no observar da Ética na prática como verdade única, acabam por prejudicar com risco de morte a vida de indivíduos.
• Por: Filipe Venturini Signorelli, diretor executivo do Instituto Ética Saúde. Advogado, professor, autor e pesquisador.