renata-bento2

10/01/2025

Ansiedade nos Dias Atuais

O Impacto das Redes Sociais e o Padrão do “Sempre Dar Certo”.

Em um mundo cada vez mais conectado, a ansiedade tem se tornado um dos maiores desafios da saúde mental contemporânea. Ao lado dessa crescente preocupação, as redes sociais desempenham um papel fundamental, tanto no agravamento quanto na tentativa de alívio desse mal. O cenário atual, marcado por constantes interações digitais, impõe uma pressão constante sobre os indivíduos, gerando um ciclo vicioso de expectativas irreais, comparações e a constante busca pela validação.

As redes sociais criaram uma realidade paralela onde, muitas vezes, apenas os momentos mais felizes e bem-sucedidos são compartilhados. Nesse ambiente virtual, o conceito de perfeição ganha contornos cada vez mais distantes da realidade, alimentando a ideia de que todo aspecto da vida precisa ser moldado segundo um padrão de sucesso absoluto. A foto perfeita, a viagem dos sonhos, a carreira sem falhas: são essas as imagens que se destacam nas plataformas digitais, criando um cenário onde a comparação constante se torna inevitável.

Este “padrão de sempre dar certo”, promovido pelas redes sociais, não apenas intensifica a sensação de que a vida dos outros é mais realizada e feliz, mas também coloca uma pressão significativa sobre o próprio indivíduo. A busca incessante por reconhecimento, seja por meio de curtidas, comentários ou seguidores, passa a ser associada ao valor pessoal de cada um. Esse fenômeno é ainda mais evidente entre jovens e adolescentes, que, muitas vezes, veem suas experiências de vida sendo validadas ou desqualificadas com base no feedback digital que recebem.

A ansiedade, nesse contexto, surge como uma resposta a essa desconexão entre a vida real e o que é projetado nas redes sociais. A constante necessidade de estar à altura das expectativas externas e o medo de ser deixado para trás, de não estar “fazendo o suficiente”, criam uma pressão psicológica que gera sentimentos de inadequação e insegurança. Além disso, o fluxo interminável de informações e estímulos também contribui para o aumento da ansiedade, uma vez que o cérebro é forçado a processar constantemente novas informações, muitas vezes contraditórias ou desconectadas da realidade.

Ao mesmo tempo, o fenômeno do “sempre dar certo” reforça a ideia de que a falha não é uma opção. Com o culto ao sucesso a qualquer custo, as falhas, dificuldades e momentos de vulnerabilidade acabam sendo minimizados ou até mesmo ocultados nas redes sociais. Isso pode levar à internalização de uma narrativa de que a vida deve seguir uma trajetória linear de conquistas, o que é, naturalmente, irreal. Todos, em algum momento, enfrentam desafios, fracassos e períodos de incerteza, mas, nas plataformas digitais, esses momentos parecem ser uma exceção.

No entanto, é importante destacar que a ansiedade alimentada por esse cenário não é uma característica intrínseca às redes sociais, mas sim um reflexo de como a sociedade lida com a vida digital e suas implicações. A busca pela perfeição e a validação externa podem ser desafiadas e desconstruídas por meio de uma reavaliação do uso dessas ferramentas. Em vez de ser uma fonte constante de pressão, as redes sociais podem ser usadas de maneira mais saudável, permitindo que os indivíduos compartilhem suas histórias de forma autêntica e sem medo de se mostrar vulneráveis.

Portanto, a ansiedade nos dias atuais, exacerbada pela lógica das redes sociais e o padrão do “sempre dar certo”, exige um novo olhar para a saúde mental. A conscientização sobre os efeitos dessa dinâmica, a promoção de um uso mais equilibrado das redes e a aceitação de que a vida é feita de altos e baixos podem ser passos fundamentais para a construção de uma convivência digital mais saudável e menos ansiosa. A chave está em abraçar a imperfeição e reconhecer que, em um mundo tão conectado, todos têm o direito de viver suas experiências à sua própria maneira, sem a pressão de atender a um padrão inatingível.

Por: Renata Bento, Psicanalista – Psicóloga .Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/RJ – RJ. Assistente Técnica em processo judicial. Especialista em familia, adulto, adolescente.