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09/01/2025

O desafio da desigualdade salarial entre negros e brancos no Brasil

A desigualdade salarial entre negros e brancos continua a ser um dos maiores desafios enfrentados pela sociedade brasileira. Mesmo com os avanços nas políticas públicas voltadas para a inclusão racial, a discriminação no ambiente de trabalho persiste, refletindo-se em salários desiguais. Esse problema, que é um reflexo de um longo histórico de desigualdade social e econômica, tem implicações diretas no bem-estar e na mobilidade social da população negra no Brasil. A partir da análise dos dados do Relatório de Transparência Salarial de 2024, publicado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, é possível evidenciar uma realidade que ainda limita as possibilidades de progresso e desenvolvimento para uma parcela significativa da população.

No Brasil, a disparidade salarial entre negros e brancos é reflexo de um sistema de relações raciais ainda profundamente marcado pela exclusão social. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros recebem, em média, 55% do valor salarial dos brancos, mesmo possuindo o mesmo nível de escolaridade e qualificação. Esses dados revelam um abismo que, apesar de algumas tentativas de redução, continua a se aprofundar com o passar do tempo. A situação das mulheres negras é ainda mais grave, com elas recebendo 43% a menos do que os homens brancos em cargos similares, um reflexo do acúmulo de preconceitos de raça e gênero.

O Relatório de Transparência Salarial de 2024 revela que, além da disparidade salarial entre homens e mulheres em geral (onde as mulheres recebem 19,4% a menos), as mulheres negras enfrentam uma desvantagem ainda maior. A publicação de tais dados é um importante passo para o reconhecimento das disparidades de gênero e raça no mercado de trabalho, trazendo à tona a necessidade urgente de políticas públicas que possam mitigar essa desigualdade. O relatório aponta que a transparência salarial é uma ferramenta fundamental para garantir que as empresas assumam um papel ativo na redução das disparidades e na promoção da igualdade racial.

No entanto, a simples divulgação dos dados não é suficiente para transformar a realidade das pessoas negras, especialmente das mulheres negras, no mercado de trabalho. Para que haja mudanças concretas, é necessário que as empresas e os governos tomem medidas práticas para promover a inclusão e a equidade salarial.

Na minha opinião, como especialista em gestão de carreira e observadora da realidade social brasileira, o primeiro passo para a transformação desse cenário é uma compreensão profunda de que não somos todos iguais. Esta frase, aparentemente simples, precisa ser desdobrada para entender que a sociedade brasileira, estruturada por um sistema de poder, é marcada por desigualdades profundas e o racismo é uma ferramenta histórica de dominação. O racismo não se limita à discriminação individual, mas é um mecanismo de controle social que mantém grupos historicamente marginalizados em posições de desvantagem. Reconhecer essa estrutura de desigualdade é essencial para a construção de políticas públicas eficazes e para a promoção de uma verdadeira equidade no mercado de trabalho.

A desigualdade salarial entre negros e brancos é um reflexo da estrutura social desigual que persiste no Brasil. Embora o país tenha avançado em termos de políticas públicas de inclusão, a realidade do mercado de trabalho ainda é marcada por profundas desigualdades raciais. Para que essa realidade se modifique de fato, precisamos reconhecer que vivemos em uma sociedade desigual, onde o racismo é uma ferramenta estrutural de dominação e isso exige ações concretas, tanto do poder público quanto das organizações privadas, para a construção de um mercado de trabalho verdadeiramente inclusivo e equitativo.

Por: Cintya Alessandra Santos Pessoa, Coaching de carreira, escritora, consultora de DHO e professora no Centro Universitário Internacional Uninter