Em 2023, o Brasil registrou 2.222 incêndios em estruturas comerciais, como shoppings, hospitais e escolas, segundo o Instituto Sprinkler Brasil (ISB). Esses incidentes são causados, em grande parte, por falhas em equipamentos, falta de manutenção, erros nos projetos e falta de treinamento adequado. Embora a legislação estadual de prevenção e combate a incêndios seja avançada, ainda há falhas em sua aplicação. No Paraná, por exemplo, as exigências de instalação de sistemas de incêndio são rigorosas, mas não existem fiscalizações suficientes dos órgãos públicos, o que coloca em risco o funcionamento e a eficácia desses sistemas quando mais necessários.
A prevenção de incêndios não deve ser vista como custo, mas sim como um investimento em responsabilidade social, reputação da marca e economia a médio e longo prazos. Quando os estabelecimentos não estão preparados, os danos podem ser irreparáveis, como na tragédia da Boate Kiss, em 2013, que resultou na morte de 242 pessoas e em indenizações de R$ 60 milhões. O incêndio no Museu Nacional em 2018, que destruiu peças valiosas e causou prejuízos de R$ 69 milhões em reconstrução, é outro exemplo de como a falta de um bom sistema de prevenção pode levar a perdas incalculáveis.
Esses casos chamam a atenção para a necessidade de maior fiscalização e responsabilidade na prevenção de incêndios. Em países como Japão e Alemanha, a tecnologia tem avançado, com sistemas de inteligência artificial e sensores térmicos. No Brasil, no entanto, muitos estabelecimentos ainda dependem de sistemas básicos, como extintores e hidrantes, que são obrigatórios desde a década de 1970. No entanto, uma pesquisa do Instituto Ipsos revelou que apenas 36% das empresas brasileiras com mais de 250 funcionários possuem sprinklers – dispositivos automáticos que combatem incêndios ao detectar calor e liberar água.
Os sprinklers atuam rapidamente para controlar ou extinguir incêndios, reduzindo danos e evitando sua propagação. Eles são ativados automaticamente, sem a necessidade de intervenção humana, o que garante uma resposta eficaz, mesmo em locais sem supervisão. Em comparação, extintores e hidrantes dependem da ação humana e, em muitos casos, o uso incorreto pode comprometer sua eficácia. Estudos indicam que a falta de treinamento no manuseio de extintores é alarmante, com cerca de 80% dos incêndios em ambientes comerciais sendo potencialmente controláveis com um extintor, mas muitas pessoas não sabem como usá-los corretamente.
Além dos sprinklers, outras tecnologias estão disponíveis para aumentar a segurança contra incêndios, como as compartimentações, o tratamento antichamas de estruturas e a implementação de sistemas de extração de fumaça, que removem rapidamente a fumaça tóxica, garantindo uma evacuação segura. A integração dessas tecnologias no planejamento de novos projetos estruturais é essencial para proteger clientes, funcionários e o patrimônio de uma empresa.
Portanto, investir em tecnologia de prevenção de incêndios não é apenas uma questão de compliance, mas uma estratégia inteligente para garantir a continuidade dos negócios e proteger a integridade de todos. Ambientes comerciais que priorizam a segurança oferecem mais confiança aos clientes, impactando diretamente no sucesso do empreendimento.
• Por: José Renato Nogaroli Filho, engenheiro civil, especialista em Engenharia de Segurança Contra Incêndio e Pânico e sócio gestor da Nogaroli Engenharia.