“Sem ordem não há problema a ser resolvido. Porque o problema é exatamente construir uma ordem, ainda invisível, de uma desordem visível e imediata.” Rubem Alves, com essa frase, captura um dos desafios mais profundos enfrentados por líderes e estrategistas globais: como transformar o caos aparente em uma nova lógica, capaz de dar sentido ao presente e abrir caminhos para o futuro?
Longe de ser teórica, a pergunta está incorporada na rotina pessoal e empresarial. Crises sanitárias, disrupções climáticas e choques econômicos tornaram o caos uma constante no mundo. Para aqueles que o enxergam não como um inimigo, mas como matéria-prima para a transformação, essas crises representam oportunidades. Durante a pandemia da Covid-19, por exemplo, negócios locais se reinventaram em plataformas digitais quase da noite para o dia, assim como indústrias inteiras transformaram cadeias de produção para atender demandas emergenciais. Fábricas de cerveja adaptaram suas linhas para produzir álcool em gel.
Esse movimento, no entanto, não surge por acaso. Ele reflete um ciclo natural em que a desordem abre espaço para uma nova ordem, algo que Carl Jung descreveu como cosmos – a ordem que só pode ser construída a partir do caos. Caos e o cosmos não apenas se sucedem, mas coexistem. São arquétipos, forças complementares que convivem em um mesmo espaço, dialogando entre o potencial da desordem e a realização de uma nova lógica. Entendo que aceitar essa convivência é um exercício de liderança e de estratégia.
Para Jung, o caos também é uma etapa inevitável para quem busca transformação. Essa visão encontra paralelo no conceito de antifragilidade, de Nassim Taleb, que vai além da resiliência. Resilientes são aqueles que resistem à crise e retornam ao estado anterior. Antifrágeis, por outro lado, são os que crescem com o impacto. Não porque tinham respostas prontas, mas porque estavam dispostos a redesenhar o cosmos a partir do caos.
Há ainda outro ponto importante: enquanto mudanças são externas, moldadas pelo contexto e pelas circunstâncias, transformações são internas. Exigem resiliência – a paciência e a força de olhar para dentro e questionar o que precisa ser recriado. Isso significa que a capacidade de alterar o caos em cosmos nasce tanto de uma visão clara do futuro, quanto de uma coragem, às vezes silenciosa, de enfrentar o desconforto.
É, Rubem Alves estava certo! Resolver problemas não é apenas enfrentar a desordem visível, mas imaginar a ordem invisível que ainda não existe. É no desconforto da desordem e da incerteza que encontramos as maiores oportunidades de inovação e transformação.
• Por: Luciana Zanini, diretora executiva de Finanças, Pessoas e Estratégia (CFO) no Inhotim, Luciana Zanini tem uma sólida trajetória em finanças, mercado de capitais, relações com investidores e governança corporativa. Com uma visão estratégica orientada a resultados, é reconhecida por sua habilidade em liderar transformações organizacionais de alto impacto, alinhando o desenvolvimento de pessoas à excelência financeira. A executiva adota uma visão humanizada das finanças, acreditando que o valor de uma organização está em seu capital humano. Sua experiência inclui passagens por grandes instituições, como Itaú BBA, EY, Bloom Energy, Fialho Salles Advogados, LOG Commercial Properties e Seven Capital. Possui um MBA pela Tuck School of Business at Dartmouth, o que fortalece sua sólida formação em finanças e negócios e agrega uma visão global e estratégica ao seu perfil de liderança.