A COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, terminou com a promessa de que os países desenvolvidos destinarão 300 bilhões de dólares por ano, até 2035, para ajudar as nações em desenvolvimento a enfrentarem os impactos das mudanças climáticas. À primeira vista, esse montante pode parecer expressivo, mas será que ele é suficiente diante da magnitude da crise climática global?
Economistas renomados, como Nicholas Stern, Vera Songwe e Amar Bhattacharya, que integram o Grupo de Alto Nível sobre Finanças Climáticas (IHLEG), não acreditam que seja. Desde 2021, eles participam das negociações da Conferência do Clima e recomendaram um financiamento anual de 1,3 trilhão de dólares — mais de quatro vezes o valor acordado em Baku. Essa diferença não é apenas uma questão numérica, mas evidencia o abismo entre o que foi prometido e o que realmente é necessário para uma resposta climática efetiva.
Para compreender melhor o impacto desse financiamento é útil dividir o valor entre as 45 nações mais vulneráveis do mundo. Cada uma receberia, em média, 6,6 bilhões de dólares por ano. Parece muito, mas, no contexto de desastres climáticos cada vez mais frequentes e intensos, esse valor é insuficiente. Um exemplo concreto pode ser visto no Brasil: a recuperação das recentes enchentes no Rio Grande do Sul foi estimada em 17 bilhões de dólares, mais de duas vezes e meia o valor anual que cada país vulnerável receberia sob esse acordo.
Esse financiamento também é particularmente crítico para países insulares e os menos desenvolvidos, que enfrentam os maiores impactos das mudanças climáticas com os menores recursos. Não surpreende, portanto, que muitas dessas nações tenham abandonado as negociações da COP29, insatisfeitas com a falta de ambição e comprometimento.
Outro ponto importante é a origem desses recursos. O documento final da COP29 prevê que o financiamento venha de diversas fontes, como fundos públicos, privados, bilaterais e multilaterais. No entanto, é fundamental que os países mais pobres recebam esse apoio majoritariamente em forma de doações, e não de empréstimos, para evitar que se afundem ainda mais em dívidas. Acreditar que essas nações conseguirão enfrentar os desafios climáticos enquanto lidam com altos níveis de endividamento é, no mínimo, ilusório.
Diante desse cenário, a COP30, a ser realizada em Belém, no coração da Amazônia, será um marco crucial. Mais do que uma nova reunião de líderes mundiais, o evento traz a oportunidade de alinhar ações concretas às metas do Acordo de Paris. O Brasil, como anfitrião, terá um papel central, podendo apresentar soluções inovadoras em áreas como biodiversidade, adaptação climática, energia renovável e mercado de carbono.
Ainda assim, os desafios são enormes. A COP30 precisará abordar não apenas a implementação do financiamento de 300 bilhões de dólares, como também a possibilidade de elevar essa meta para o 1,3 trilhão recomendado por especialistas. Isso exigirá uma mobilização global sem precedentes, com transparência, colaboração e senso de urgência.
No fim, a pergunta que deve ser feita não é apenas se 300 bilhões de dólares é muito ou pouco, mas se estamos agindo com a rapidez e a ambição necessárias para enfrentar a crise climática. A rota de Baku a Belém não pode ser apenas uma trajetória de promessas; precisa ser uma jornada de ações concretas que garantam a sobrevivência de comunidades, ecossistemas e gerações futuras.
Belém nos aguarda, e com ela, a chance de transformar compromissos em realidade. Que não percamos esta oportunidade.
• Por: Fernando Beltrame, mestre em compostagem pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.