Há nove anos, uma Assembleia Geral organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) traçou um plano global bastante ambicioso com o foco em estruturar um futuro sustentável ao planeta. Contando com 17 pontos focais, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) têm um prazo limite até 2030 para que os países cumpram as metas traçadas, que basicamente tratam sobre questões de desenvolvimento social e econômico. Entre eles, o chamado ODS 7 se caracteriza por assegurar que todos tenham acesso a energia acessível, confiável, sustentável e moderna.
Restando apenas seis anos para o vencimento do tratado, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para atingir plenamente a meta da ODS 7, principalmente devido a desafios de infraestrutura e acessibilidade em áreas remotas e menos desenvolvidas. Atualmente, o custo da energia elétrica no Brasil é o segundo mais caro do mundo, segundo dados da Abrace, ficando atrás apenas da Colômbia. Somente nos últimos cinco anos, o preço aumentou em 47% no país.
A dimensão continental do Brasil e a complexidade logística são grandes obstáculos para a expansão e modernização da infraestrutura energética, visto que levar energia a regiões isoladas é um desafio financeiro significativo, tornando difícil fornecer serviços de forma barata e sustentável. No entanto, certamente existem formas de superar esses entraves por meio de investimentos em alternativas de energia mais acessíveis e fáceis de implementar, como a energia solar.
Historicamente, o Brasil se destaca no uso de fontes renováveis, com uma matriz energética no qual as hidrelétricas representam 46%, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Nos últimos anos, o país também avançou no uso de energia solar e eólica, estimulados por incentivos e avanços tecnológicos. Hoje, a energia solar fotovoltaica representa cerca de 20% da matriz elétrica nacional, mas ainda há muito espaço para aumentar a sua participação, em especial nas regiões que ainda dependem de combustíveis fósseis ou enfrentam limitações de infraestrutura.
Por ser uma fonte renovável e cada vez mais acessível, a energia solar se posiciona como uma opção estratégica para garantir o acesso universal. Além do próprio fato dos equipamentos fotovoltaicos terem aperfeiçoado a sua eficiência nos últimos anos, hoje o ecossistema conta com ampla participação de startups e empresas inovadoras capazes de viabilizar o financiamento dos painéis, assim como a entrega e instalação dos equipamentos mesmo em regiões distantes e vulneráveis.
Outro ponto fundamental envolve a criação de um ambiente regulatório mais favorável. Incentivos consistentes e uma política menos burocrática podem estimular o desenvolvimento da energia solar e atrair tanto startups quanto grandes empresas para atuar no mercado, contribuindo para a expansão do fornecimento energético pelo país.
Além disso, para alcançar o ODS 7 até 2030, o Brasil precisa investir de forma pesada em infraestrutura e tecnologia, especialmente em soluções de armazenamento de energia que permitam maior estabilidade. Políticas públicas e incentivos fiscais serão cruciais para atrair empresas e consumidores ao mercado de energia solar e outras fontes renováveis. Hoje, a instabilidade regulatória ainda afasta investimentos importantes, comprometendo o avanço necessário para tornar o Brasil um exemplo em energia sustentável.
Aparando as arestas, o Brasil tem potencial para se tornar um modelo de sustentabilidade e acessibilidade. Com investimentos estratégicos e uma regulação favorável, é possível expandir o uso de fontes limpas, como a energia solar, em todas as regiões do país. A união da esfera pública e o setor privado podem transformar essa visão em realidade e fazer do Brasil um exemplo de inovação verde.
• Por: Luca Milani, CEO e fundador da 77Sol, maior e mais completo ecossistema de energia solar brasileiro. Já Guilherme Feltre é coordenador de novos negócios, sendo também responsável pela frente de ESG na empresa.