Executivo de RH aponta que os desafios tributários e econômicos podem complicar a adoção do modelo no Brasil.
Embora a semana de trabalho de quatro dias esteja ganhando adeptos e apresentando resultados promissores no Brasil, o modelo enfrenta desafios no contexto econômico e social do país. A proposta de reduzir a carga horária sem afetar salários mostra melhorias na produtividade e qualidade de vida, mas muitos negócios lidam com questões que complicam a adoção em larga escala.
No Brasil, 22 empresas participaram de um piloto da 4 Day Week Brazil, em parceria com a 4 Day Week Global. Após três meses, as empresas notaram ganhos de produtividade e engajamento, mas Marcos Tonin, executivo de RH, aponta os obstáculos tributários e custos de contratação elevados, especialmente para pequenas e médias empresas. Ele questiona se, para manter a produtividade com menos dias, as empresas precisarão contratar mais, elevando custos com encargos trabalhistas como INSS, FGTS e 13º salário.
Tonin observa que a alta rotatividade nas empresas brasileiras, superior a 20% em alguns setores, também torna o modelo desafiador. Como exemplo, ele cita uma empresa com três mil funcionários, onde 17% das vagas estão em aberto devido à dificuldade de retenção, o que gera altos custos de recrutamento e recontratação. Segundo a SHRM, o custo de substituir um colaborador pode chegar a 200% do salário anual, dependendo do cargo.
Outro ponto é a possível redução de benefícios. Tonin sugere que, para compensar o aumento de custos, algumas empresas podem diminuir incentivos como planos de saúde e bônus, o que pode prejudicar o bem-estar dos colaboradores. Ele alerta que, em um cenário extremo, a empresa poderia até reduzir salários para acomodar uma jornada mais curta, o que afeta o poder aquisitivo.
Além dos custos para as empresas, o modelo não resolve o problema do desemprego estrutural no Brasil. Segundo Tonin, sem políticas públicas que estimulem a criação de empregos, a jornada de 4 dias pode não ser a solução mais eficaz para a alta taxa de desemprego.
Por fim, a ideia de reduzir a jornada de trabalho gera debate sobre o valor do trabalho na sociedade. Tonin observa que a percepção de que “trabalhar menos” é ideal pode criar um estigma ao redor do trabalho em um país onde ele é central para a sobrevivência de muitos.
Equilibrando os prós e contras Embora a jornada de 4 dias traga ganhos em produtividade e qualidade de vida, Tonin acredita que ela exige cautela. A alta carga tributária, os custos de contratação, os desafios da rotatividade e a necessidade de gerar mais empregos são fatores importantes a considerar para a viabilidade do modelo no Brasil. Ele defende que o debate sobre a redução da jornada deve envolver uma análise profunda do papel do trabalho no país e sua adaptação às necessidades sociais e econômicas.