Finalmente, e felizmente, a sociedade cada vez se abre mais para discutir o preconceito mais universal dentre todos os outros: o etarismo, ou seja, a discriminação contra a idade. Diferente do que muitos pensam, o etarismo não é a intolerância apenas contra a pessoa idosa. Jovens também são vítimas dele, ou vocês nunca ouviram a frase “Ele é muito jovem para esse cargo” ? Agora, sem dúvida, a principal vítima é a pessoa idosa, até porque nossa sociedade celebra o que é novo e despreza o que é velho. Mas como combater esse preconceito? Sempre digo que a luta começa dentro da gente.
Uma das formas mais cruéis desse preconceito é o autoetarismo. A sociedade tanto renega, desvaloriza e diminui a pessoa idosa que acabamos nos convencendo que “nossa época já passou”. Acabamos sendo preconceituosos com nós mesmos. Uma atitude autolimitante que nos tira a oportunidade de continuar procurando colocação no mercado de trabalho e, muito provavelmente, novos relacionamentos. Sem sermos produtivos – apesar de muitas vezes termos saúde para isso -, e sem dar espaço para novas relações, o que sobra é um possível estado de solidão e improdutividade. Talvez por isso exista uma verdadeira epidemia de depressão envolvendo a pessoa idosa.
Então a primeira frente de batalha contra esse preconceito está dentro de cada um. Isso não quer dizer que, uma vez ganhando autoestima contra o etarismo, as próximas batalhas serão fáceis. Não serão, mas iremos fortalecidos para elas. E que batalhas serão essas? Creio que uma das principais seja o mercado de trabalho. Estamos vivendo cada vez mais e melhor e isso quer dizer que teremos pela frente, a partir dos 60 anos, pelo menos mais 20 a 30 anos com capacidade de produzir. Para que o mundo profissional perceba na pessoa que já chegou à velhice essa capacidade produtiva ainda presente, ela deve estar preparada para o desafio de continuar produzindo.
O primeiro passo é acreditar que a experiência acumulada ao longo da carreira é muito importante e valorosa para que novas portas se abram no mercado de trabalho. Dito isso, é trabalhar com afinco para construir novas habilidade que o atual mercado de trabalho exige, como se abrir para o aprendizado de novas habilidades (já pensou em aprender uma nova língua?), fazer uma atualização e adaptação para o mercado digital a ponto de demonstrar sua familiaridade com algumas das mais diversas ferramentas (como Inteligência Artificial). E assim passar a mensagem que você, pessoa 60+, tem a capacidade de se adaptar a um novo ambiente corporativo.
Nenhuma sociedade, mesmo com toda força do preconceito, irá conseguir, invisibilizar uma pessoa idosa caso ela consiga vencer o preconceito contra a idade primeiramente dentro de si. Vencendo essa batalha e se preparando para o que virá, a pessoa idosa terá armas suficientes para enfrentar o mais universal de todos os preconceitos que é o etarismo.
• Por: Ney Messias Jr., especialista em gerontologia, professor de Educação Física, autor do livro De volta ao começo: uma jornada pelo envelhecimento (Latitude) e instrutor de Mindfulness.