Quando se fala em sustentabilidade, um equívoco comum é a supervalorização de práticas ambientais ou sociais sem uma base econômica sólida. Por outro lado, ao focar exclusivamente em resultados financeiros, é frequente que se priorizem ganhos de curto prazo, negligenciando as dimensões ambiental e social.
Com isso, podemos pensar em uma equação que nos ajuda a compreender que nenhuma variável pode ser negligenciada: a “Fórmula da Sustentabilidade Corporativa”. Nela, os elementos Economic (E), Environmental (E), Social (S), e Governance (G) são multiplicados entre si (E x E x S x G = Sustentabilidade).
É fácil perceber que, se qualquer uma dessas variáveis for zero, o resultado será zero, independentemente do valor das outras variáveis. Além disso, se uma variável for negativa, ela pode comprometer o resultado das demais. Isso evidencia que as dimensões Econômica, Ambiental, Social e de Governança são interdependentes e essenciais para o sucesso de uma companhia.
Entretanto, quando se fala em ESG, observamos que, enquanto alguns se concentram mais nas questões ambientais e outros nas sociais, a Governança muitas vezes não recebe a atenção que merece. Uma boa Governança é essencial para prevenir práticas como o Greenwashing e o Social Washing (que embora menos discutido, é igualmente problemático). Além disso, o Governance Washing revela-se ainda mais enganoso, ocorrendo quando práticas de governança aparentemente adequadas externamente são, na verdade, corruptas ou ineficazes internamente. A integridade é mais do que uma métrica; é a base sobre a qual todas as outras práticas de sustentabilidade devem ser construídas.
A sigla ESG acabou deixando de fora o ‘E’ de Econômico. Alguns proponentes das práticas ESG argumentam que elas resultam naturalmente em bons desempenhos econômicos, o que nem sempre é o caso. Iniciativas sociais ou ambientais geralmente acarretam custos de curto prazo, com retornos financeiros incertos a longo prazo. Por isso, a variável Econômica também deve ser incorporada ao ESG, sendo necessário falar em EESG, ou, simplesmente, em Sustentabilidade.
Um desafio é medir os aspectos EESG de maneira transparente, comparável e auditável. Existem muitos padrões de relatórios ESG, como Relato Integrado (RI), Global Reporting Initiative (GRI), diferentes normas ISO, Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), Corporate Sustainability Due Diligence (CSDD), entre outros. Destaco os padrões IFRS S1 e S2, criados pelo International Sustainability Standards Board.
O IFRS S1 é importante porque exige que as empresas divulguem informações sobre riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade, incluindo governança, estratégia, avaliação de riscos e desempenho econômico. O IFRS S2 foca em como as empresas gerenciam riscos climáticos, tanto físicos quanto de transição, adaptando-se às necessidades de cada setor, com tudo sujeito a auditoria.
O Brasil se sobressai por ser pioneiro ao exigir a divulgação obrigatória dos relatórios S1 e S2 de sustentabilidade por empresas de capital aberto a partir de 2026, sendo que essas divulgações já podem ser feitas de forma voluntária. Quando totalmente implementados, os relatórios serão auditados e divulgados junto com, ou antes, das demonstrações financeiras. Essa medida aumenta a confiabilidade e a visibilidade desses relatórios, fortalecendo a integridade e a transparência das práticas corporativas de sustentabilidade no país.
Com esse avanço na mensuração e reporte das práticas EESG, é crucial lembrar que o essencial é cuidar diligentemente dos quatro elementos da Fórmula da Sustentabilidade Corporativa. Não se trata de uma equação a ser resolvida, mas de um conceito para orientar nossas ações, promovendo uma atuação consciente e responsável que englobe os aspectos econômicos, ambientais e sociais, sob a ótica de uma boa governança e integridade.
• Por: Charles Laganá Putz, membro do Conselho de Administração do IBEF-SP, do Grupo Dierberger, do Chartered Institute of Arbitrators em Londres, e da Make-A-Wish, e sócio fundador da Verena Ventures. Foi Professor da EAESP-FGV, e CFO e CEO de grandes empresas. Atuou como Presidente de Conselho e Conselheiro de Administração e Coordenador de Comitê de Auditoria e Finanças de empresas do Brasil, nacionais e multinacionais, de capital aberto e fechado e estatais, sendo certificado pelo IBGC CCA+ e CCoaud+. Graduou-se e pós graduou-se na EAESP-FGV, fez mestrado no IMD, Suíça, e cursos de especialização em Harvard, Wharton e outras instituições. IBEF-SP — O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) é uma organização sem fins lucrativos, formada por profissionais do ecossistema de finanças e administração, cujo faturamento das empresas administradas representa 25% do PIB brasileiro. O IBEF-SP promove eventos técnicos, programas de certificações, pesquisas, premiações e eventos sociais, que proporcionam networking qualificado e ambiente de negócios. Em novembro de 2023, o instituto completou 50 anos. Seu objetivo principal é promover o compartilhamento de conteúdo atual e relevante à comunidade de finanças. | ibefsp.com.br