O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na noite de quarta-feira 18, uma nova alta da Selic (a taxa básica de juros da economia brasileira, determinada pelo governo), chegando agora ao índice de 10,75%. Isso representa em uma alta de 0,25%.
Com a alta, o que mais se fala é no impacto disso nos investimentos, que tende a ser positivo. Mas, infelizmente a grande maioria da população não é investidora, mas sim endividada, e os reflexos dessa mudança são em todo o mercado. E, no dia a dia da população consumidora, esses impactos são na maioria das vezes negativos.
Isso acontece porque, quando a taxa Selic aumenta, a tendência é que outras taxas de juros também aumentem. Ou seja, quem precisa fazer parcelamentos, financiamento ou tem que fazer dívidas tendem a pagar juros maiores, pagando consequentemente uma conta maior.
E o resultado dessa alta pode ser ainda mais alto, podendo impactar também nas dívidas já existentes. Assim, imaginem os juros de cheque especial ou de cartão de crédito, por exemplo, que já são exorbitantes? Esses devem aumentar ainda mais.
A alta também impacta na realização de sonhos como o do carro novo e da casa própria, aumentando os juros de crédito da população, como empréstimos e financiamentos, complicando e limitando a capacidade de consumo. A orientação nessa hora é analisar bem as contas e começar a trabalhar para uma maior estabilidade financeira, não criando complicações futuras.
E esse processo passa por uma mudança de comportamento em relação ao uso e à administração do dinheiro, o que implicará no fim da era do consumo exacerbado e impulsivo. O momento é de muita cautela e precaução, pois a saúde financeira e a realização dos sonhos das famílias dependerão dessa conscientização. É preciso reestruturar o orçamento financeiro e assumir o controle da situação, antes que se torne insustentável.
Investimentos— Agora, como dito no começo, aos que não estão endividados e, melhor ainda, possuem o costume de poupar para realizar seus objetivos de vida, a alta da Selic é uma boa notícia. Ficando mais rentáveis as aplicações de renda fixa em que o rendimento é atrelado a essa taxa, como os CDBs pós-fixados, os fundos DI, as Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e títulos negociados via Tesouro Direto.
É hora de repensar os investimentos, pois até pouco tempo atrás com a queda da taxa Selic a recomendação era para buscar linhas que não estavam atreladas a essa. Agora essa orientação muda. O que não significa que, quem tem um dinheiro em mãos para investir, deve colocar integralmente nessas modalidades.
Sempre lembro que a aplicação deve ser escolhida de acordo com o prazo do que você quer realizar com esse dinheiro: curto (até um ano), médio (de um a dez anos) e longo prazo (acima de dez anos). Em uma primeira análise, posso afirmar que, para investimentos de curto prazo, é bastante interessante colocar o seu dinheiro nestas opções. Lembrando que a tendência dos juros ainda será de alta nos próximos meses, podendo chegar em um médio período a 10%.
Poupança— Uma característica a parte é a poupança, sendo que já atingiu sua trava. Para entender melhor é preciso lembrar que no passado o Governo Federal criou uma trava na relação entre a poupança e a Selic.
Assim, quando a Selic ultrapassa 8,5% ao ano, a poupança rende um teto de 0,5% ao mês mais a taxa referencial (uma taxa calculada diariamente, também pelo governo, tendo como base as taxas cobradas pelas 20 maiores instituições financeiras do país). Ou seja, independentemente da Selic estar em 8,5%, 12% ou 20% o rendimento continuará sendo 0,5%, mais a TR.
Contudo, isso significa que a poupança deixou de ser um investimento interessante? Isso é relativo, temos que lembrar que a parcela da população que investe no Brasil é mínima e que grande parte dessas pessoas buscam a caderneta de poupança, assim, por mais que o rendimento não seja tão interessante, falar que as pessoas não devem aplicar o dinheiro nessa linha de investimento pode ser um ‘tiro no pé’.
A população não tem educação financeira ainda, infelizmente em sua grande maioria, e não se sente segura para investir, a poupança é um caminho seguro para essas pessoas, que deve ser incentivado em conjunto com ensinamentos sobre o mundo financeiro, que permitirá que as pessoas optem de forma inteligente por outras linhas.
Além disso, melhor investir o dinheiro em uma linha de rendimento baixo do que deixar parado no banco ou em casa, o que faz com que as perdas sejam muito maiores. Ou seja, á preciso muito cuidado antes de criticar a poupança, isso deve ser feito de forma inteligente, ensinando rumos e não descontruindo uma linha de tão grande relevância para o brasileiro.
• Por: Reinaldo Domingos, PhD em Educação Financeira e está à frente do canal Dinheiro à Vista. Presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira. Autor de diversos livros sobre o tema, como o best-seller Terapia Financeira.