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14/09/2024

Complexo de Energias Boaventura da Petrobras vai ofertar 21 milhões de m³ de gás natural

O empreendimento irá aumentar a oferta de gás para o mercado brasileiro e gerar emprego para a região.

A Petrobras inaugurou no dia 13 de setembro (sexta-feira), —depois de 18 anos — o agora batizado, “Complexo de Energias Boaventura”. O empreendimento, localizado em Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro, é composto pela maior unidade de processamento de gás natural (UPGN) do país e pelo gasoduto “Rota 3”, que transportará gás do pré-sal da Bacia de Santos.

Quando estiver em pleno funcionamento, o Complexo de Energias Boaventura vai viabilizar o escoamento de até 18 milhões de metros cúbicos por dia, pelo Projeto Integrado “Rota 3”; e o processamento, pela UPGN, de até 21 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural. O ativo já conta com mais de 600 profissionais, entre próprios e terceirizados, envolvidos diretamente na operação, manutenção de equipamentos e suporte operacional do gasoduto e das plantas de processamento de gás e de utilidades.

No evento de inauguração, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, destacou o significado do nome do novo ativo e frisou como o gás natural será essencial para o processo de uma transição energética.

— O Complexo de Energias Boaventura é um passo importante da Petrobras em direção à missão de ampliar a oferta de gás ao mercado nacional, e de minimizar nossas importações de GLP e de diesel. O empreendimento também está alinhado ao nosso objetivo de fazer a transição para uma matriz energética mais renovável, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. O nome ‘complexo de energias’ coube muito bem para esse projeto pois transmite o esforço contínuo e crescente da Petrobras rumo à diversificação energética, com sustentabilidade e inovação —afirmou Magda.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou, durante o evento, que quer transformar a Petrobras na maior empresa de energia da América Latina. —O dia que acabar o petróleo, a Petrobras será a maior empresa produtora de biocombustíveis, será a maior produtora de etanol desse país, será a maior produtora de hidrogênio verde desse país. A Petrobras é mais do que uma indústria de óleo e de petróleo, ela é uma indústria de energia e ela vai produzir o que for necessário — disse.

Na visão do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a inauguração do Complexo disponibilizará gás natural para a produção de fertilizantes, petroquímicos e outros setores que dependem desse insumo na sua cadeia produtiva. O Gasoduto “Rota 3” tem 355 quilômetros de extensão e capacidade para escoar até 18 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. E é a prova que o Brasil voltou para o caminho certo. A Petrobras voltou para o caminho que nunca deveria ter saído— detalhou.

Além do gasoduto implantado para o escoamento de gás natural e da UPGN, a Petrobras está trabalhando em outros projetos no Complexo, que incluem duas termelétricas a gás, para participação nos leilões previstos pelo setor elétrico, e unidades de refino para produção de combustíveis e de lubrificantes. Visando atingir emissão zero de carbono pela companhia, também está sendo estudada a implementação de uma planta de biocombustível dedicada, que produzirá diesel e QAV 100% renováveis. Outra frente importante do ativo será a captura de carbono, conectando-o ao projeto piloto do hub de CCUS no Rio de Janeiro.

A estimativa é que cerca de dez mil postos de trabalho sejam gerados durante a fase de obras de expansão do Complexo e aproximadamente três mil empregos permanentes para a operação e atividades de suporte.

Por meio do Programa Autonomia e Renda Petrobras, a companhia irá qualificar cerca de 20 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social e moradoras das áreas de abrangência das operações. O programa, que receberá cerca de R$ 350 milhões em quatro anos, tem como objetivo ampliar as oportunidades de empregabilidade no setor de Óleo e Gás.

R$ 20 bilhões para o estado do Rio de Janeiro — A Petrobras prevê investimentos de aproximadamente R$ 20 bilhões no setor de refino no estado do Rio de Janeiro nos próximos anos. No Complexo de Energias Boaventura serão investidos R$ 13 bilhões, na implantação de plantas de produção de lubrificantes, diesel e QAV. Outros R$ 7 bilhões serão investidos em melhorias na Refinaria Duque de Caxias (Reduc).

Após a conclusão das obras de todo o Complexo de Energias Boaventura, o conjunto de unidades terá capacidade aproximada de produzir 12 mil barris por dia (bpd) de óleos lubrificantes de Grupo II, 75 mil bpd de diesel S-10 e 20 mil bpd de querosene de aviação (QAV-1). A planta vai operar em sinergia com a Refinaria Duque de Caxias (Reduc).

Espaço cultural e turístico — Durante o evento de inauguração, foi firmado um protocolo de intenções pela Petrobras, Ministério da Cultura, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, Instituto Cultural Cidade Viva e Instituto BR Arte para avaliar a implantação de um espaço cultural e turístico junto às ruínas do Convento São Boaventura, voltado especialmente aos moradores da região e demais interessados.

Localizadas na área do Complexo, as ruínas do Convento são os resquícios da edificação, construída no século XVII, e são um patrimônio histórico nacional e estadual tombado desde 1978. A Petrobras trabalha na manutenção e na conservação da estrutura original do convento e arredores, de forma a garantir a sua preservação possibilitando que as novas gerações tenham acesso ao local.

Os próximos planos do projeto preveem a abertura do sítio arqueológico para a visitação da população, numa parceria entre poder público e sociedade.

Linha do tempo: após Petrobras rebatizar o Comperj e, com Lula, inaugura obra alvo da operação Lava Jato. Empreendimento, que passa a se chamar “Complexo de Energias Boaventura”, inaugurado com apenas uma de suas estruturas em funcionamento: a unidade de processamento de gás, que vai receber o insumo do pré-sal por meio do gasoduto “Rota 3”.. Polícia Federal investigou sobrepreço nas obras.

O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) foi inicialmente concebido em 2006, no primeiro mandato do governo de Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva onde o Comperj teria uma Unidade Petroquímica Básica (UPB) e Unidades Petroquímicas Associadas (UPA), com uma única refinaria. O custo global do projeto seria de US$ 6,2 bilhões;. As obras de terraplanagem foram iniciadas em 2008. Mas o projeto sofreu várias alterações desde sua concepção, de acordo com relatório do Tribunal de Contas da União (TCU).

Depois, na fase de desenvolvimento, o custo aumentou para US$ 8,4 bilhões sem grandes alterações no projeto. Em 2010, a Petrobras passou a prever duas refinarias. As obras incluíam a refinaria “Trem 1”, com previsão de entrega em 2013; unidades petroquímicas, com previsão para 2015; e a refinaria “Trem 2”, com entrega em 2016. Além desses empreendimentos, o Comperj passou a incluir também uma Central de Utilidades, responsável por abastecer as refinarias e unidades petroquímicas. O Comperj passou então a custar US$ 26,9 bilhões. Em 2014, a Petrobras cancelou a construção das unidades petroquímicas. Em 2016, a estatal cancelou a construção da refinaria “Trem 1” do Comperj. Depois, em 2019, a estatal também abandonou o plano de construir uma refinaria no Comperj em parceria com a petroleira China National Petroleum Corporation (CNPC). Restou ao Comperj apenas o projeto de construção da unidade de processamento de gás natural, que receberá o gás do gasoduto “Rota 3”. O projeto foi então batizado de “Polo Gaslub”. Outras ideias para aproveitamento do espaço foram ventiladas desde então, como loteamento das áreas do Comperj à iniciativa privada, com protocolo de intenções assinado com o estado do Rio de Janeiro em 2021, mas os planos não foram adiante.

A operação Lava Jato investigou indícios de sobrepreço nas obras do Comperj por atuação de cartel, que teria incentivado a ampliação do escopo do empreendimento.

—Tornou-se de conhecimento público que a decisão de ampliar o escopo do Comperj partiu de gestores corrompidos, no âmbito de um complexo esquema de corrupção denunciado na operação Lava jato —diz relatório do TCU.

Prejuízo de US$ 12,5 bilhões nas obras do Comperj — Em 2017, a Corte de Contas apontou um prejuízo de US$ 12,5 bilhões nas obras do Comperj — dos quais US$ 9,5 bilhões seriam atribuídos a ex-gestores e ex-diretores da Petrobras. Segundo o TCU, havia indícios de indefinição do projeto conceitual, —evolução inadequada— do projeto, negligência de análise de riscos e outros.

Mais recentemente, em agosto de 2024, o tribunal arquivou o processo contra ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli sobre as fraudes nas licitações das obras Comperj. Embora a área técnica tenha recomendado a inabilitação de Gabrielli para exercer cargo público por oito anos, o TCU resolveu acolher a defesa do ex-presidente da Petrobras.

Presidente da Petrobras entre 2005 e 2012, Gabrielli foi fiscalizado por suspeitas de —viabilizar a atuação do cartel e contribuir para a fraude às licitações do Comperj—, ao não adotar providências para apurar as irregularidades. Os ministros do Tribunal entenderam não haver como comprovar que Gabrielli sabia do esquema revelado pela operação Lava Jato.