Você já se perguntou como uma pessoa cega ou com deficiência visual navega pela internet ou usa seu smartphone? Mesmo em uma era de avanços tecnológicos surpreendentes, essa questão ainda ecoa de forma recorrente em nossa sociedade. A resposta está nos leitores de tela, uma das ferramentas de tecnologia assistiva que garante o acesso ao conteúdo digital para esse público e revoluciona a experiência online para milhões de pessoas ao redor do planeta.
O salto tecnológico das últimas décadas tem transformado radicalmente as nossas vidas, o mercado de trabalho e a comunicação. Pagar contas, fazer compras, estudar e até passar por consultas médicas, tudo de maneira online, revela que hoje o ambiente digital não é apenas uma opção, mas uma necessidade. Esse contexto dá o tom da importância dos leitores de tela, pois eles garantem às pessoas com deficiência visual a participação em igualdade de condições nesse mundo cada vez mais conectado.
Com mais de 285 milhões de pessoas com deficiência visual globalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) dados de 2023, a relevância dessas tecnologias é inegável. Diante disso, precisamos conhecê-las um pouco melhor.
Os leitores de tela são softwares que podem ou não vir embarcados de forma nativa nos sistemas operacionais, sendo alguns pagos e outros gratuitos. Há muitas alternativas disponíveis, e todas elas funcionam de maneira semelhante, utilizando um sintetizador de voz para informar audivelmente os elementos exibidos em tela.
Eles são utilizados principalmente por pessoas cegas, mas não se limitam apenas a esse público. Pessoas com dislexia e com baixa visão também podem lançar mão desse recurso para tornar sua navegação mais confortável e acessível. Esses leitores também beneficiam as pessoas surdocegas, quando em conjunto com uma linha braile acoplada ao computador ou smartphone transformam o conteúdo exibido em tela em informação tátil utilizando a escrita braile.
Para os smartphones, destacamos dois principais leitores de tela: o VoiceOver, desenvolvido pela Apple, rodando nativamente no sistema iOS do iPhone, e o TalkBack, desenvolvido pelo Google, também nativo, rodando no sistema Android.
No universo dos leitores de tela para computadores, o sistema Windows se destaca com duas ferramentas poderosas: o NVDA (Non-Visual Desktop Access) e o JAWS (Job Access With Speech). O NVDA, desenvolvido pela NV Access, é um software gratuito muito popular, enquanto o JAWS, da empresa Freedom Scientific, apesar de oferecer muitos recursos interessantes, é um software pago, com um valor considerado alto para os padrões brasileiros.
Para o sistema operacional Linux, O Orca, um software de código aberto e gratuito, está disponível em muitas das distribuições, atuando como leitor e ampliador de telas. No macOS, encontramos novamente o VoiceOver, que é operado basicamente por gestos no trackpad, e muitos desses gestos são idênticos aos utilizados no iOS.
A operação dos leitores de tela dos sistemas Windows e Linux acontece de forma semelhante, essencialmente via comandos a partir do teclado, dispensando, portanto, o uso do mouse. Já nos leitores para smartphones, comumente a utilização ocorre por meio de gestos (arrastos e toques com um ou mais dedos sobre a tela) e, guardadas as especificidades, alguns gestos são bastante semelhantes entre eles.
Em suma, os leitores de tela revolucionaram o acesso digital para milhões de pessoas ao redor do mundo. Essas ferramentas não são apenas uma conveniência tecnológica, mas uma necessidade que permite a comunidade cega e baixa visão à participação plena na sociedade digital atual.
A variedade de opções disponíveis, desde softwares gratuitos até versões premium, democratiza o acesso à tecnologia assistiva. Enquanto os programas pagos oferecem recursos avançados, seu custo elevado pode ser um obstáculo para muitos. É aqui que os leitores de tela gratuitos, tanto para smartphones quanto para computadores, se destacam, oferecendo funcionalidades comparáveis às versões pagas.
Esses softwares têm um impacto transformador, facilitando a inclusão de pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho, no sistema educacional, no acesso à informação e nas redes sociais. Eles não apenas “dão voz” à internet, mas também abrem portas para o desenvolvimento pessoal, profissional e intelectual desses indivíduos.
• Por: Jonathan Inacio, Analista de Testes de Acessibilidade Digital da GFT Technologies.