Procedimento exigido na União Europeia e aplicado pela vinícola envolve análise aprofundada dos riscos e oportunidades relacionados a questões ambientais, sociais e de governança, considerando tanto o impacto na sociedade e no meio ambiente como sobre a própria empresa e seu desempenho econômico.
A Vinícola Aurora, uma das primeiras cooperativas do setor vitivinícola do Brasil a adotar uma estratégia ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) seguindo padrões consagrados de sustentabilidade corporativa e também exigidos na União Europeia, avança para a fase final de implementação desse projeto. A partir deste mês, iniciará a execução desses planos na quarta fase, colocando em prática as diretrizes baseadas na matriz de Dupla Materialidade.
Finalizada na segunda fase do projeto, essa matriz é fundamental para a identificação e gestão dos impactos ambientais, sociais e de governança, tanto para os stakeholders como para a empresa. A dupla materialidade é um conceito que avalia tanto o impacto financeiro que as questões ESG têm sobre a companhia como o efeito que os negócios e as atividades da organização geram nesses aspectos para a sociedade e o meio ambiente.
De acordo com Renê Tonello, presidente do Conselho de Administração da Cooperativa Vinícola Aurora, a aprovação da matriz pelo recém-criado Comitê de Sustentabilidade, composto por sete membros, destaca o compromisso da companhia com a sustentabilidade. —A matriz é usada para identificar e mapear esses impactos duplos, direcionando o caminho para os compromissos ESG mais relevantes. Esse processo envolve uma análise aprofundada dos riscos e oportunidades relacionados a questões ambientais, sociais e de governança, considerando tanto o impacto que tem sobre a sociedade e o meio ambiente como sobre a própria empresa —afirma Tonello.
Na área ambiental, por exemplo, a Aurora busca mapear o conjunto de emissões de gases para diminuir a pegada de carbono nos processos e atividades. Uma empresa de engenheiros da região já foi contratada para fazer o inventário de gases do efeito estufa e rever toda a cadeia de logística.
Nas áreas social e de governança, a vinícola desenvolve mudanças nos processos de avaliação de sua cadeia de valor e fornecedores, além de ter criado o Comitê de Sustentabilidade formalmente na estrutura da cooperativa, com o objetivo de coordenar e assessorar o Conselho de Administração, a presidência e demais diretorias.
De acordo com o consultor do Cabanellos Advocacia, Bruno Peixoto, a Aurora dá um passo pioneiro ao adotar uma estratégia ESG alinhada a padrões consagrados sobre sustentabilidade corporativa, inclusive aplicados hoje na União Europeia, sendo um dos primeiros exemplos desta prática no setor vitivinícola do Brasil. “Essa iniciativa não apenas reforça seu compromisso com a sustentabilidade, mas também a posiciona em linha com o mercado global, onde as estratégias e as diretrizes ESG são cada vez mais essenciais para garantir a competitividade e a longevidade dos negócios”, afirma.
A quinta e última fase do projeto prevê a publicação do Relatório de Sustentabilidade em conformidade com os padrões GRI (Global Reporting Initiative) – uma das estruturas de relatórios de impactos ESG mais amplamente adotadas e reconhecidas globalmente -, com lançamento previsto para o segundo semestre de 2025.
Boas Práticas Agrícolas e Compliance —Desde 2023, a Aurora tem intensificado suas práticas sustentáveis, destacando o desenvolvimento do Programa de Boas Práticas Agrícolas (BPA). O programa é voltado para a capacitação dos 1.100 viticultores cooperados que operam em 11 municípios da Serra Gaúcha. A implementação dessas boas práticas, que segue as normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), visa garantir o trabalho decente e a sustentabilidade na agricultura familiar.
Paralelamente, a cooperativa está revisando e aprimorando suas normas de compliance em colaboração com a Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). O foco está nas relações com colaboradores, parceiros e terceirizados, garantindo que todas as operações estejam em conformidade com os mais altos padrões éticos e legais. A conclusão desse trabalho está prevista para janeiro de 2025, alinhando-se com as metas de longo prazo da Aurora para sustentabilidade e governança.
A cooperativa possui três parques industriais em Bento Gonçalves e uma unidade de produção em Pinto Bandeira, com uma capacidade total de estocagem de 88 milhões de litros. Além de ser líder de mercado nas categorias de vinhos finos, suco de uva integral e coolers, a Aurora exporta seus produtos para 17 países, com a China, Paraguai e Gana sendo os principais destinos. A vinícola está lançando diversos vinhos e bebidas zero álcool, também em linha com as diretrizes de responsabilidade e propósitos seguidos por novos consumidores e mercados atuais. A cooperativa também é reconhecida por seu compromisso com a energia renovável, com a disposição de planta industrial com uso de energia fotovoltaica, na Unidade do Vale dos Vinhedos.
Vinícola Aurora —Fundada em 1931, a Aurora é a maior cooperativa vinícola do Brasil, composta por cerca de 1.100 famílias cooperadas na Serra Gaúcha. Com uma área cultivada de 3 mil hectares, a cooperativa processa anualmente entre 10% e 15% da safra de uvas do Rio Grande do Sul, utilizando práticas sustentáveis em toda a sua operação. Em 2023, a Aurora registrou faturamento recorde de R$ 786,2 milhões, com crescimento de 4% em relação ao ano anterior. A expectativa é que o faturamento alcance R$ 1 bilhão até 2026.