ExpoAço movimentou negócios, apresentou tendências e promoveu networking ao público visitante.
O último dia do encontro, 08 de agosto (sexta-feira), evidenciou a complexidade dos desafios e as diversas perspectivas sobre como a reindustrialização pode ser alcançada no Brasil. Trouxe, ainda, a urgência de adoção de medidas concretas para revitalizar a indústria nacional e fortalecer sua posição no cenário global.
Moderado por Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina e Conselheiro do Instituto Aço Brasil, teve a participação de Márcio Fernando Elias Rosa, secretário- executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) , como Keynote Speaker, e os debatedores José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Léo de Castro, presidente do Conselho Temático de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e Armando Monteiro, conselheiro emérito da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Jorge Oliveira destacou a discrepância no crescimento industrial entre países: —Enquanto os Estados Unidos dobraram de tamanho e a China cresceu 47%, o Brasil aumentou apenas 20%—. Enfatizou também a necessidade de fortalecer a competitividade sistêmica da indústria e apresentou o Plano Mais Produção, voltado para setores como aço e químico.
Márcio Fernando Elias Rosa sublinhou a importância do diálogo com o governo e a necessidade de políticas industriais estratégicas. —A indústria deve ser vista como um meio para promover o desenvolvimento econômico e social. O Brasil oferece opções de sustentabilidade que outros lugares do mundo não têm. Ou aproveitamos essa oportunidade ou perdemos uma grande chance histórica—.
José Ricardo Roriz Coelho ressaltou a necessidade de ação imediata, mencionando a revolução tecnológica e os desafios ambientais enfrentados pela indústria europeia e a competitividade dos EUA e da China. —O uso de instrumentos de política industrial cresce mais nas economias emergentes. Produzir no Brasil custa mais do que na média dos países da OCDE. A reforma tributária é uma importante oportunidade para melhorar nosso cenário—.
Léo de Castro discutiu a concorrência global e o atraso do Brasil em determinadas áreas. —Subsídio é um palavrão no Brasil, mas precisamos convencer a sociedade de que apoiar a indústria é benéfico. Política industrial não é uma agenda de curto prazo, precisa continuar independente do governo—.
Armando Monteiro reiterou a necessidade de defender a indústria perante a sociedade. —Precisamos recolocar o tema da indústria na agenda do país e defender sua importância estratégica. A reforma tributária nos aproxima de um sistema tributário de classe mundial—.
Cenário Político — A conferência especial do dia ficou a cargo de Fernando Schuler. O cientista político declarou ser urgente uma reforma tributária eficaz para o desenvolvimento econômico do Brasil. Destacou que o sistema tributário atual é complexo e penaliza a competitividade das empresas brasileiras. —Uma reforma tributária bem estruturada pode simplificar os tributos, reduzir a carga tributária e aumentar a eficiência econômica.—afirmou Schuler.
Em relação à reforma da previdência, observou que, embora tenham sido feitos avanços significativos, uma nova mudança e reestruturação serão necessárias em breve. Ele explicou que o envelhecimento da população e a sustentabilidade do sistema previdenciário continuam sendo desafios críticos.
A polarização política no Brasil foi citada como fator de desvio de foco das questões realmente importantes. Sobre a atual gestão, Schuler ponderou que, apesar de trazer uma perspectiva política de duas décadas atrás, o atual governo tem sido hábil em suas articulações. Isso tem afetado diretamente a prosperidade da indústria do aço, pois se concentra em articulações externas e negligencia a proteção do mercado interno. Considerou essa visão antiquada para enfrentar os desafios contemporâneos, especialmente no que tange à proteção do mercado interno e ao estímulo da prosperidade industrial.
—É essencial que a indústria se una para pressionar por reformas administrativas que organizem as contas públicas e coloquem em pauta as necessidades fiscais urgentes —disse Schuler. Segundo ele, é fundamenta colocar em pauta as necessidades fiscais e a colaboração com o governo para proteger o mercado interno e fortalecer o PIB.
Schuler concluiu a conferência enfatizando que o Brasil deve focar em políticas públicas que incentivem o crescimento interno, evitando políticas de boa vizinhança que geram instabilidade nos negócios internos.
Perspectivas para a indústria do aço — O último painel do evento trouxe a visão dos CEOs a respeito das perspectivas para a indústria do aço.
Moderado pelo presidente Executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, contou com a participação de líderes do setor. Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração LATAM; Gustavo Werneck, Conselheiro do Instituto Aço Brasil e diretor-presidente e CEO da Gerdau; Marcelo Chara, Conselheiro do Instituto Aço Brasil e presidente da Usiminas; e Silvia Nascimento, conselheira do Instituto Aço Brasil e presidente da AVB fizeram parte dos debates.
Marco Polo iniciou sua fala traçando um panorama atual da indústria do aço, destacando dados significativos da indústria do aço em 2023 e 2024, e mencionando o investimento projetado de R$100,2 bilhões para o setor, entre 2023 e 2028.
O painel começou com o questionamento aos CEOs sobre as expectativas para o fechamento de 2024 e perspectivas para 2025.
Jefferson De Paula expressou uma visão cautelosa. “2024 vai ser um ano difícil. O ano passado já foi muito difícil.” Destacou o impacto significativo das importações, com a entrada de 5 milhões de toneladas de produtos, além de outros 5 milhões em importação indireta, como carros e eletrodomésticos. Jefferson mencionou que, apesar das dificuldades do início do ano, espera uma melhora no consumo no segundo semestre, impulsionada por programas como “Minha Casa Minha Vida”.
Marcelo Chara observou que a primeira parte do ano foi marcada por um “tsunami de importações,” que afetou de 25 a 30 mil empregos diretos e indiretos no Brasil. Ele ressaltou a eficiência do parque siderúrgico brasileiro e expressou otimismo quanto à melhoria da competitividade do setor.
Silvia Nascimento destacou a importância do sistema cota-tarifa como reconhecimento do governo sobre os problemas enfrentados pelo setor. “Acho que o segundo semestre será menos ruim,” afirmou Silvia, otimista quanto a uma melhora gradual até 2025, embora reconheça que 2024 ainda não seja ideal devido ao curto período de implementação do sistema.
Gustavo Werneck enfatizou a necessidade de apoio contínuo ao programa Nova Indústria Brasil (NIB). Também salientou que a redução do custo brasileiro é crucial para a competitividade do setor industrial.
Os debatedores concordaram que, apesar dos desafios, há um caminho promissor para o setor. Destacaram, dentre outros focos prioritários, a defesa comercial, aumento do consumo de aço, reforma tributária, transição energética, descarbonização e o crescimento econômico.
A colaboração entre o setor, governo e sociedade é vista como essencial para enfrentar os obstáculos e promover um ambiente mais competitivo e sustentável para a indústria do aço no Brasil.
O presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, Sérgio Leite de Andrade, trouxe considerações finais e encerrou a 34 edição do Congresso Aço Brasil convidando os presentes para a próxima edição do evento, que acontece nos dias 26 e 27 de agosto de 2025, em São Paulo.