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07/08/2024

O que as Olimpíadas têm a ensinar sobre logística?

Uma operação logística é sempre complexa, independentemente do porte da empresa, do tipo de carga e do modal escolhido. Em alguns casos, no entanto, é ainda mais desafiadora, como é o caso da logística militar, humanitária ou de grandes eventos, como as Olimpíadas.

Os jogos olímpicos são um exemplo claro da importância da colaboração, da integração e do planejamento logístico. Garantir a mobilidade, a segurança e o abastecimento de milhares de atletas e turistas, além de gerenciar grandes volumes de equipamentos e alimentos não é tarefa simples.

Por mais trabalhoso que seja, é possível garantir o sucesso de eventos desse porte. Basta utilizar a tecnologia disponível para otimizar processos logísticos, integrar sistemas, compartilhar dados e melhorar a visibilidade, o controle e o monitoramento.

Importância do planejamento estratégico na logística— São mais de 10,5 mil atletas de várias partes do mundo, dirigentes, treinadores, chefes de estado e mais de 15 milhões de turistas visitando Paris em menos de um mês. Esse é o número de pessoas que, de uma forma ou outra, saíram de casa para as Olimpíadas 2024 e vão precisar de transporte, hospedagem, suprimentos, atendimento médico ou farmacêutico, hospedagem, segurança, alimentação etc.

Muito mais do que garantir que os atletas e visitantes circulem em Paris e cheguem a tempo nos locais de prova, as Olimpíadas exigem um esforço logístico gigantesco do país-sede e de todas as delegações participantes.

Ao todo, 205 delegações participam das competições em Paris, incluindo o Brasil. E ainda que não esteja entre as maiores delegações, a logística demandada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é um exemplo claro da complexidade de eventos como esse.

Como o Brasil fez o planejamento logístico para as Olimpíadas 2024 —O COB fez uma verdadeira “operação de guerra” para garantir a infraestrutura necessária aos mais de 270 atletas brasileiros classificados para os Jogos de Paris.

Ao todo foram transportadas mais de 20 toneladas de equipamentos eletrônicos, itens para treinos de força e condicionamento, insumos médicos e farmacêuticos, materiais esportivos e de marketing, uniformes, mobiliários, 23 embarcações para as competições, etc.

Antes de atravessar o oceano, o COB trabalhou, durante mais de dois anos, em um planejamento rigoroso. Para entregar na França todo o necessário, o Brasil utilizou três modais de transporte: terrestre, aéreo e marítimo. Cerca de 10 contêineres viajaram carregados.

A carga saiu de sete países diferentes (China, Paquistão, Suécia, República Checa, Portugal, Itália e Brasil) com destino a Paris, na França, onde o COB alugou um armazém de 800 m2, por cerca de três meses.

No local foi centralizado todo o material destinado à Vila Olímpica, à Saint-Ouen (base do COB), às instalações dos atletas e à Casa Brasil. A movimentação na cidade-sede dos jogos envolveu 60 caminhões.

Isso tudo diz respeito apenas à logística da delegação brasileira. Agora, multiplique por outras 205 delegações. Os números são grandiosos e, sem uma logística eficiente, seria praticamente impossível fazer um gerenciamento bem-sucedido.

Principais desafios da logística em Olimpíadas —A logística das Olimpíadas envolve a coordenação de uma infinidade de detalhes para garantir o fluxo adequado dos materiais e equipamentos. Os aspectos que tornam a tarefa tão complexa são:

Escala: a magnitude dos jogos olímpicos exige um planejamento meticuloso e a coordenação de inúmeros recursos, desde a construção de estádios e alojamentos até o transporte de equipamentos e alimentação dos atletas.

Tempo: a organização de um evento como as Olimpíadas requer anos de planejamento e preparação, com prazos apertados e a necessidade de lidar com imprevistos.

Grande volume de pessoas: a presença de milhares de atletas, oficiais, jornalistas e espectadores gera uma demanda enorme por transporte, hospedagem, alimentação e segurança.

Infraestrutura: a construção e adaptação de infraestruturas, como estádios, vilas olímpicas e sistemas de transporte representam um desafio logístico significativo.

Segurança: a proteção de atletas, espectadores e instalações é uma prioridade máxima, exigindo um planejamento rigoroso de segurança e a coordenação de diversos órgãos.

Sustentabilidade: a preocupação com o meio ambiente e com a sustentabilidade tem se tornado cada vez mais importante em grandes eventos, exigindo soluções logísticas que minimizem o impacto ambiental.

Transporte: a movimentação de atletas, espectadores, equipamentos e materiais esportivos requer um planejamento eficiente para o transporte de cargas e de passageiros.

Alimentação: a alimentação de todos os participantes passa pela distribuição de grandes quantidades de alimentos – um tipo de carga com diversas particularidades.

Gestão de estoque e inventário: a logística de suprimentos inclui o transporte e armazenamento de equipamentos esportivos, alimentos e bebidas, materiais promocionais, entre outros. Fazer o inventário evita desperdícios e garante a disponibilidade.

Como melhorar a eficiência logística em grandes eventos e operações complexas —Sem dúvidas, o sucesso de eventos como as Olimpíadas passa pela logística de excelência, em especial nas etapas de armazenagem, gestão de estoque e controle de inventário, gestão de frotas e de pátios, transporte e entrega.

Mas como garantir que o planejamento seja bem executado, que as operações estejam visíveis do início ao fim, que as cargas sejam monitoradas e as entregas rastreadas, que a roteirização seja bem-feita, que os sistemas logísticos estejam integrados e que todos os elos da cadeia logística entendam a importância da colaboração?

A resposta está no uso de tecnologia e de soluções especializadas para otimizar a logística. É isso o que vai garantir o gerenciamento eficiente de todos os recursos.

Sistemas de gestão de inventário — As plataformas avançadas de gestão de empresas, de armazéns, de estoques e inventários, como ERP e WMS, permitem o rastreamento e o gerenciamento dos materiais em tempo real. Essas ferramentas ajudam a monitorar níveis de estoque, prever necessidades futuras e evitar excessos ou faltas.

Etiquetagem RFID e código de barras — As tecnologias de identificação, como RFID e códigos de barras, facilitam o rastreamento e a gestão de materiais. Elas permitem a identificação rápida e precisa de itens, além de agilizar processos de recebimento, armazenagem e distribuição.

IoT (Internet das Coisas) — Sensores IoT podem ser usados para monitorar condições ambientais (como temperatura e umidade) de cargas sensíveis (como alimentos, por exemplo), garantir a segurança de itens de alto valor e fornecer dados em tempo real sobre a localização e o status dos produtos.

Plataformas de planejamento de recursos empresariais — Sistemas integrados gerenciam diversos aspectos da logística de materiais, desde o pedido até a entrega, facilitando a coordenação entre diferentes departamentos e fornecedores. Na logística, soluções como ERP, TMS, WMS e YMS se tornam imprescindíveis.

Automação de armazéns — Tecnologias de automação podem acelerar e tornar mais eficiente a movimentação de materiais dentro dos armazéns, reduzir o tempo de processamento, diminuir o headcount necessário às atividades e evitar prejuízos e retrabalhos causados por erros humanos.

Software de roteirização e otimização de transporte — Ferramentas de roteirização ajudam a planejar rotas de transporte mais eficientes, o que resulta em economia de tempo e de custos. Além disso, sistemas de otimização e consolidação de cargas garantem a utilização máxima do espaço disponível nos veículos de transporte.

Análise de dados e machine learning — Análises avançadas e algoritmos de machine learning podem prever demandas futuras com base em dados históricos e tendências, ajudando a planejar melhor o abastecimento e a distribuição de recursos.

Blockchain — A tecnologia blockchain pode ser utilizada para criar um registro imutável e transparente de transações e movimentos de materiais, aumentando a confiança e a segurança na cadeia de suprimentos.

Sistemas de gestão de fornecedores — Plataformas para gestão de fornecedores facilitam a comunicação e a coordenação com múltiplos fornecedores, garantindo a entrega pontual das cargas e permitindo a avaliação contínua do desempenho dos fornecedores.

Aplicativos móveis — Apps logísticos específicos permitem o acesso a informações em tempo real sobre inventário, status de pedidos, transporte e entrega, facilitando ainda a comunicação e a resolução de problemas.

Realidade Aumentada (AR) — Tecnologias de AR podem ser usadas para treinar trabalhadores em procedimentos logísticos, auxiliar na montagem e organização de materiais em armazéns e fornecer instruções visuais em tempo real.

A integração eficiente de tecnologia, comunicação eficaz, visibilidade integral da cadeia logística, flexibilidade, colaboração e capacidade de adaptação rápida a mudanças são essenciais. Algumas das principais “lições olímpicas” para quem atua na logística são: fazer um planejamento estratégico eficiente, garantir coordenação e colaboração entre os stakeholders, uso de tecnologia avançada, fazer gestão de riscos, garantir eficiência operacional, sustentabilidade, flexibilidade e adaptabilidade, promover engajamento e treinamento de equipes e inovação com melhorias contínuas.

Ao aprender e implementar as lições deixadas pelas Olimpíadas, as empresas brasileiras podem aperfeiçoar significativamente suas operações logísticas.

Por: Thiago Villa, CRO da nstech.