No dia 26 do mês passado, portanto, dois dias antes da Eleição (Golpe) na Venezuela, escrevi um artigo clamando por coerência por parte de alguns esquerdistas (independente do partido político) que compararam Maduro ao Bolsonaro em razão das críticas tecidas por aquele ao sistema eleitoral brasileiro, que proferiu inverdade ao afirmar que no Brasil não havia auditagem das urnas eletrônicas.
Terminada a eleição na Venezuela, com resultado divergente de todas as pesquisas eleitorais, sem a certificação das atas das urnas eletrônicas e a proibição de observadores internacionais, restou, praticamente, comprovado que houve um golpe do ditador venezuelano.
Dezenove países, inclusive os EUA, não reconheceram a vitória de Maduro na eleição. O Brasil, talvez dado a amizade entre o Presidente da República e o ditador Maduro, não tomou nenhuma posição, estando na linguagem popular, “em cima do muro”.
O partido do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), em nota assinada pela executiva nacional, por sua vez, firmou que o processo eleitoral da Venezuela teve uma “jornada pacífica, democrática e soberana”.
Com o passar do tempo, em que pese a investida do presidente Maduro contra seu próprio povo e demais evidências do golpe eleitoral, alguns representantes e filiados de partidos de esquerda, que apresentam discursos democráticos, reconheceram o resultado da eleição presidencial venezuelana, em absoluta incoerência com os supostos ideais democráticos.
Já outros, sentindo-se pressionados pelo evidente golpe e a repercussão mundial, preferiram atrelar a posição de Maduro com a do ex-presidente Bolsonaro, como se esse ou seus seguidores pretendessem dar um golpe no país. Esquecem, talvez propositalmente, que Bolsonaro como dito no artigo anterior, vetou a entrada de Maduro e seus auxiliares no Brasil, através de uma portaria assinada em novembro 2019.
O senador do Partido dos Trabalhadores, Randolfe Rodrigues, após dizer que “eleições que não se submetem à verificação e ao acompanhamento de observadores internacionais não são eleições legitimas”, em entrevista ao UOL, tentou fazer a esdrúxula comparação de Maduro aos bolsonaristas.
Disse ele: “Tudo que eles criticam na Venezuela era que eles queriam no Brasil. Eles queriam no Brasil, a oposição queria (Sic!) no Brasil um regime de Maduro com Bolsonaro, e o que o Maduro está querendo na Venezuela é um regime Bolsonarista com Maduro. Então um é contra face do outro, um é cara coroa do outro. Você vê a miúde, Sakamoto, são cópias. La o mesmo questionamento ao processo eleitoral que faziam aqui para deslegitimar o processo eleitoral. (…) o mesmo aparato bélico para intimidar eleitores que o Maduro faz na Venezuela, é o que o Bolsonarismo faz aqui. Acho muito cara de pau da oposição Bolsonarista, que é tão identificado como o regime do Maduro, quanto aos métodos que tentaram utilizar aqui. (…)”
A narrativa construída não condiz com a realidade, pelas seguintes razões: 1) críticas ou a defesa de urnas auditáveis por impressão física nada tem a ver com golpe; 2) O Poder Judiciário no Brasil é independente do executivo; 3) A Governança anterior nunca utilizou ou apresentou armamento bélico para intimidar a população; 4) Bolsonaro reconheceu o resultado da eleição.
Com todo respeito, a estapafúrdia e esdrúxula comparação, apenas e tão somente apenas, traduz em uma falsa narrativa para tentar encobrir a falta de posicionamento do presidente Lula contra a ditadura, tentando responsabilizar bolsonaristas como se fossem farinha do mesmo saco.
Tenho dito!!!
• Por: Bady Curi Neto, advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e professor universitário.