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01/08/2024

Copom mantém Selic em 10,50% ao ano

O cuidado com desinflação mais lenta, a desancoragem das expectativas de inflação e cenário global desafiador. Uma certa vigilância e moderação, e por unanimidade dos seus membros.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu no dia 31 de julho (quarta-feira) manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, Unanimemente, resolveram que o ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e sobre as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A desinflação medida pelo IPCA cheio tem arrefecido, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

Projeções inflacionárias — . Inflação para 2024 e 2025 4,1% e 4,0% respectivamente — As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,1% e 4,0%, respectivamente.

. Inflação para o primeiro trimestre de 2026 em 3,4% — As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta. O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

A comunicação da projeção para seis trimestres à frente, correspondendo ao primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, está em consonância com a nova sistemática de meta para a inflação estabelecida pelo Decreto 12.079/2024 com vigência a partir de 1º de janeiro de 2025.

Relatório Focus — Em seu cenário de referência, no qual a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,55/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom para os anos-calendário situam-se em 4,2% para 2024 e 3,6% para 2025. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 5,0% em 2024 e 4,0% em 2025. No cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025. Em ambos os cenários, o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.

. Comentários e Análises: .- Incertezas fiscais comprometem redução sustentável da taxa Selic, diz Firjan — A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) ressalta que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,5% reflete o cenário atual de incertezas econômicas e pressões inflacionárias.

Para a Federação, o principal entrave para a retomada sustentável do ciclo de cortes de juros é a incerteza quanto ao equilíbrio das contas públicas. Embora o recente anúncio de congelamento no orçamento de 2024 tenha gerado certo alívio, a ausência de uma agenda estrutural de corte de gastos eleva o risco-país, desvaloriza a moeda local e deteriora as expectativas inflacionárias.

Portanto, a Firjan reforça que um ajuste fiscal bem-sucedido diminuirá as pressões cambiais e contribuirá para a recuperação da confiança dos empresários com relação à economia brasileira. Apenas dessa forma será possível promover um crescimento econômico sustentável, com inflação e juros baixos.

– Decisão do Copom é preocupante, afirma CNI — Para Ricardo Alban, presidente da instituição, a manutenção da taxa continua penalizando a economia e, principalmente, os brasileiros com menos empregos e renda.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vê com preocupação a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano. O elevado nível em que a Selic se encontra faz o Brasil ter uma das maiores taxas de juros real do mundo e explica parte significativa do alto custo do crédito, situação que implica severas restrições à atividade econômica brasileira.

—Esperamos que a Selic volte a ser reduzida o quanto antes. A retomada de cortes é fundamental para a redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda— reforça o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Segundo a CNI, ainda que houvesse um corte de 0,25 ponto percentual na Selic, levando a taxa para 10,25% ao ano, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação esperada para os próximos 12 meses) seria de 6,2% ao ano. Portanto, estaria 1,5 ponto percentual acima da taxa de juros real neutra – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada pelo BCB em 4,75% ao ano – sendo compatível com o atual quadro inflacionário.

Mesmo com esse corte de 0,25 ponto percentual, o Brasil seguiria ocupando a incômoda terceira posição entre as maiores taxas de juros real do mundo.

Os reflexos dessa política monetária tão restritiva são claros quando se observa o comportamento do mercado de crédito e da atividade econômica. A Selic alta eleva o custo de captação dos recursos para as instituições financeiras. Para piorar, essas instituições ofertam crédito com spread bastante elevado. O Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, sendo mais um fator que encarece empréstimos e financiamentos.

Somando isso à baixa oferta de crédito, há uma situação bastante adversa, tanto para os consumidores, que precisam de crédito para comprar bens de maior valor, quanto para as empresas, que precisam de crédito para investir, inclusive no âmbito do processo de neoindustrialização, orientado pela Nova Indústria Brasil (NIB). O consumo e o investimento são elementos centrais para o crescimento econômico.

Como fica o PIB? Quanto à atividade econômica, os prejuízos da política monetária restritiva também são perceptíveis. As previsões apontam para um crescimento do PIB menos intenso este ano em comparação ao ano passado: 2,9% em 2023, contra previsão de 2,2% em 2024, segundo o Relatório Focus, do Banco Central. Além disso, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) sinalizam que o Brasil deve crescer menos que os demais países em desenvolvimento: enquanto estima que o PIB brasileiro deve crescer 2,1% em 2024, nos países em desenvolvimento o crescimento do PIB deve ser, em média, de 4,2%.

Ajuste fiscal com redução de despesas contribuirá com a redução da taxa de juros — Um dos fatores que tem justificado o patamar elevado da Selic é a preocupação com a sustentabilidade das contas públicas. Embora o novo arcabouço fiscal seja uma medida relevante, fez com que o cumprimento das metas de resultado primário e o controle da dívida pública passassem a depender fortemente do aumento da arrecadação.

Como o Brasil já tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, onerando profundamente o setor produtivo e os consumidores, é essencial que o ajuste fiscal foque na redução das despesas.

Outros elementos que o Banco Central deveria considerar — Por fim, a CNI aponta outros elementos importantes que o Banco Central também deve levar em consideração em sua avaliação, além das expectativas de inflação. No cenário doméstico, os núcleos de inflação — índices que desconsideram os itens mais voláteis do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — mostram desaceleração: a média de cinco núcleos do Banco Central que estava em 4,3%, em dezembro de 2023, registrou 3,4% em junho deste ano.

No cenário internacional, é preciso levar em conta que as incertezas globais quanto ao afrouxamento do aperto monetário nas economias centrais se reduziram. Nos EUA, o comportamento mais benigno da inflação deve levar o Fed (Banco Central dos EUA) a realizar dois cortes na taxa de juros norte-americana ainda em 2024 — conforme sinalização dada na decisão anunciada hoje. Na Europa, o BCE (Banco Central Europeu) já fez uma primeira redução nos juros, em junho. Isso possibilita que o Brasil reduza a Selic sem risco de, via diferencial de juros perante as economias desenvolvidas, especialmente os EUA, haver pressão sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre a inflação doméstica.

Essas informações devem ser monitoradas com atenção, porque apontam parte do caminho que está sendo pavimentado para o Banco Central retomar a tão necessária trajetória de redução da Selic.

– Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master: em comentário rápido sobre a adesão do Copom de manter os juros em 10,5%, sem surpresas conforme esperado, mas o comunicado veio mais rock, alguns elementos ali chamam a atenção, especialmente a menção a questão de que o Copom pode ficar mais vigilante no futuro se as variáveis de mercado piorarem ou se as expectativas de inflação piorarem, ficar mais vigilante pode ser lido como vai subir juros, acho que não tem outra maneira de ler isso, não entendo ficar mais vigilante que não seja subir juros, além disso eles fazem menção explicitamente a questão da persistência da desvalorização cambial, tem um efeito inflacionário muito forte como a gente sabe, ou seja, essas duas coisas estão preocupando muito o Banco Central e ele vai ficar mais vigilante se isso persistir, além disso eles passam a mirar o primeiro trimestre de 2026 com uma inflação estimada, no cenário deles de 3.2%, acima portanto da meta de 3%. E no cenário de referência, que usa as variáveis do focus, portanto uma Selic não tão alta, essa inflação do primeiro trimestre de 2026 está em 3.4%, também acima da meta. O cenário alternativo do Copom é o cenário em que a Selic fica mantida em 10,5% até lá. Então o que o Copom está dizendo é, se a gente deixar a Selic em 10,5% até o final de 2025, a projeção do modelo para a inflação do primeiro trimestre de 2026 é de 3.2%, portanto acima da meta. Além das preocupações dessas chamadas variáveis de mercado, e aqui é basicamente o juro futuro e o câmbio mais depreciado, além das preocupações com as expectativas inflacionárias desancoradas, tudo isso deve levar a “aumento de vigilância do Banco Central”, que possivelmente será um aumento de taxa Selic. Eu acho que ele subiu um degrau nesse tom em relação ao comunicado da última reunião, que também foi uma manutenção unânime, registrar que a votação também foi unânime na decisão de hoje.

– Marcio Saito, CFO da Entrepay: —Há pouco, o Comitê de Política Monetária optou pela manutenção da Selic, em 10,5%. Nos próximos meses, não vemos a possibilidade de redução da taxa básica de juros, ainda que exista pressão do governo por cortes, a fim de estimular o consumo, melhorar a geração de empregos e salários. Em contrapartida, a manutenção é necessária para controle da inflação.

Acreditamos que um dos principais impactos seja nas taxas de empréstimos, que ficam altas e pouco atrativas. Pensando na geração e manutenção de negócios, a maior preocupação é de que isso deixe o financiamento das empresas mais caras, e pensando na cadeia de atendimento, a conta para o consumidor também fica mais alta.”

– Felipe Queiroz, economista-chefe da APAS (Associação Paulista de Supermercados) — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (Bacen) anunciou, em sua reunião de 31 de julho de 2024(quarta-feira), a manutenção da taxa básica de juros da economia brasileira ‘Taxa Selic’ em 10,5% ao ano (a.a.). O resultado da decisão do Copom não surpreendeu o mercado, uma vez que a maior parte dos agentes já projetavam estabilidade na taxa de juros nesta reunião.

No entanto, apesar de a decisão do Copom já ser aguardada pelos agentes econômicos, a Associação Paulista de Supermercados (APAS) entende ainda que havia espaço para novos cortes da Taxa Selic sem o comprometimento dos fundamentos econômicos e da meta de inflação determinada para o ano corrente, que deverá encerrar dentro da banda de flutuação determinada pelo Comitê Monetário Nacional (CMN).

O crescimento da economia brasileira no período recente tem sido sustentado, principalmente, pelo consumo das famílias, e a manutenção da taxa de juros no atual patamar — uma das maiores taxas reais de juros do mundo — poderá prejudicar tanto o consumo das famílias quanto os investimentos, colocando em xeque o crescimento da economia brasileira.

Vale enfatizar que, apesar da melhora nas expectativas dos agentes econômicos para o crescimento do PIB neste ano, a economia brasileira tem crescido abaixo do seu potencial. Neste sentido, a APAS entende que o hiato do produto permite que a autoridade monetária adote uma política monetária menos rígida sem o comprometimento dos fundamentos econômicos e da meta de inflação.

– Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset —O comunicado do Comitê de Política Monetária, o Copom, que manteve a taxa de juros inalterada em 10,5% ao ano, foi mais hawkish do que o anterior, na medida em que levantou uma variável que até então não havia sido levantada antes, que é exatamente a desvalorização do real ou a valorização do dólar frente ao real.

Essa questão cambial foi expressamente mencionada no comunicado e como um fator inflacionário assim como também como um fator que altera a expectativa de inflação.

Por conta disso, o Banco Central irá monitorar o comportamento dessas variáveis, o câmbio, para então determinar juntamente, com todas as outras variáveis que eles normalmente acompanham, as próximas decisões de política monetária nas próximas reuniões do Copom.

Só para pontuar, o comunicado dessa reunião de julho foi praticamente idêntico ao da reunião passada de junho, com exceção exatamente de uma inclusão referente a essa nova modalidade, a nova metodologia de acompanhamento da meta de inflação, e com essa inclusão, no meu entender, hawkish, na medida em que a gente está vendo uma desvalorização acentuada e uma volatilidade muito grande no câmbio, não só desde o início do ano, mas principalmente a partir de abril e com destaque para junho e julho.

Comunicado hawkish, taxa estável e dependendo de condições dessas variáveis, principalmente no meu entender do comportamento do câmbio, a gente pode ter, talvez não para 2024 ainda, mas poderemos ter, sim, alterações para cima na taxa Selic.

– Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital — Os principais destaques, na minha opinião, foram em relação a alta da inflação, que não está sendo tão controlada como era previsto. As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.

A política fiscal, que ainda está em desajuste, impacta diretamente a política monetária. E é citada também como uma preocupação.

O tom do comunicado foi mais hawkish, muito em linha com o que os últimos relatórios do banco central têm vindo com o aumento de projeção da inflação para o final deste ano e 2025, além dos gastos do governo ainda altos, e o dólar no patamar de R$ 5,60.

Acredito que podemos esperar amanhã um dia de grande volatilidade na bolsa, já que tivemos uma decisão de juros nos EUA, no qual também os juros foram mantidos, o que quer dizer que os ativos de riscos ainda não são tão interessantes, na minha visão, já que ainda temos uma taxa de juros alta.

No final do comunicado o comitê afirmou que vai se manter vigilante e cauteloso, quanto ao cenário econômico, e principalmente com relação a manter a inflação na sua meta. Ou seja, é esperado um cenário de manutenção de juros até o fim do ano, se não houver mudanças.

Como ficam os investimentos agora? Lucas de Caumont, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset — Podemos até o final do ano ainda ter uma surpresa com a alta da Selic.

Na renda fixa, estamos mais alocados em pós fixados pra diminuir risco. Acredito que vale a pena também a posição em juro real em NTNBs. Todas estão pagando mais que 6% de prefixado. Nós sabemos do interesse político na queda da taxa de juros e uma vez que Campos Neto sairá e teremos presidente indicado por Lula no BC, sabemos que podemos ter uma taxa de juros sendo cortada fora da expectativa do mercado, antes da hora do que deveria ser cortada. Se isso se concretizar, quem pegou IPCA juro real, está protegido. Mas caso isso não aconteça é bom estar no pós fixado. Vértice 2035 está com melhor retorno atualmente. Já em relação aos prefixados, a volatilidade tende a manter bem alta. Pra quem tem apetite a risco, vale fazer trade de prefixado mais longo, mas tem que ter estômago.

Na bolsa, uma vez que mantemos os juros, o dólar provavelmente vai continuar forte. Então, eu olharia para empresas dolarizadas. Para controlar o câmbio teríamos que subir juros e não sabemos se isso vai acontecer. Olhando para o descontrole do câmbio, eu ficaria de olho nessas empresas. Em commodities, temos a Vale e a Gerdau, por exemplo. Em petróleo, temos PRIO e Petrobras.

Um setor que se prejudica nesse cenário é o de Varejo, que continua defasado. Se Governo não fizer lição de casa e não baixar juros e continuarmos com um cenário de descontrole fiscal, o varejo vai continuar sendo descontrolado.

Na comparação com mercado local, vale a pena se manter dolarizado. Bolsa americana não está tão barata como estava antes, mas tem mais segurança do que risco Brasil. Techs esticaram um pouco, mas ainda tem espaço pra subir, mas como já subiram é mais pra quem tem apetite a risco. Ainda acho que o S&P está extremamente atrativo.

Ana Paula Carvalho, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital — a expectativa de que nas próximas reuniões o Copom mantenha a taxa em 10,50%aa até o fim do ano, apesar de não descartar altas à frente a depender da sinalização do governo com relação ao cenário fiscal.

Para aplicações de até 1 ano, os papeis atrelados ao CDI como o CDB, LCA e LCI são os mais apropriados, com preferência às duas últimas opções caso o prazo seja superior a 9 meses, período mínimo para cumprir a carência dessas modalidades de investimentos

Elas contam com a isenção de imposto de renda e se estiverem pagando acima de 85% CDI já serão bem melhores que os CDBs, que na média pagam 100%CDI mas que cobrará IR, sendo alíquota de 15% a menor cumprindo o prazo de dois anos investidos.

Os títulos prefixados estão com taxas interessantes, faz sentido alocar uma pequena parte da carteira a depender do perfil do investidor, pois é uma opção mais arriscada diante das incertezas com relação à trajetória dos juros.

Já os ativos atrelados ao IPCA são indicados para os títulos de prazos mais longos, superiores a 2 anos. Esses papeis protegem o investidor das variações da inflação, já que parte da remuneração do título é corrigida pelo IPCA.

O investidor pode investir em títulos públicos através da NTN-B ou títulos de créditos privados, como as debêntures, CRA, CRI e os papeis emitidos pelos bancos como CDB, LCA, LCI ou Letra Financeira.

Nos níveis atuais, o investidor consegue encontrar títulos pagando taxas acima de 6%+IPCA. Um ponto importante é sempre avaliar a classificação de risco do emissor do título.