O processo de criopreservação de gametas – óvulos, espermatozoides ou embriões -, um tratamento coadjuvante dos processos de reprodução humana, vem passando por inovações e atualizações desde que começou a ser adotado na década de 1980 para ajudar mulheres que tinham condições de saúde frágeis a engravidar. Inicialmente, foi adotado para preservar óvulos de pacientes que eram submetidas a tratamentos que envolviam medicamentos mais agressivos, como a quimioterapia.
De lá para cá, em pouco mais de 40 anos, lidamos hoje com novos protocolos e novas abordagens do congelamento de gametas, que abrem perspectivas melhores para mulheres, homens e casais que têm o sonho de ter filhos, mas querem adiar esta realização para o futuro.
Uma das grandes inovações na atualidade é a adoção da inteligência artificial associada à tecnologia de time lapse no cultivo dos embriões. A time lapse é uma incubadora que permite melhorar ainda mais as condições de cultivo dos materiais coletados – tanto na avaliação quanto na classificação dos gametas e dos embriões. Essa dobradinha é capaz de predizer a taxa de fertilização, a taxa de formação de blastocisto e a taxa de gravidez. E, nós, da Origen BH, temos orgulho em sermos pioneiros na pesquisa com uso dessas tecnologias em incubadoras úmidas (Geri Genea) e também de estarmos conduzindo projetos com esse foco, como o uso da ferramenta Chloe Fairtility, que dá suporte de decisão a médicos, embriologistas e equipe clínica baseada em inteligência artificial, melhorando vários resultados da fertilização in vitro.
Outra novidade da criopreservação diz respeito às novas indicações para congelamento de espermatozoides, principalmente em portadores de doenças virais sexualmente transmitidas. Até pouco tempo atrás não era possível armazenar sêmen de pacientes soropositivos devido ao risco de contaminação cruzada dentro das unidades de reprodução assistida que guardam esses materiais. A questão foi resolvida com a autorização de uso de contâineres de nitrogênio separados para cada paciente. Também está sendo amplamente adotada a preservação de fertilidade social em homens acima de 45 anos e para indivíduos transgênero.
Tudo isso indica um amadurecimento dos profissionais envolvidos com a reprodução assistida e, claro, da própria evolução da medicina reprodutiva ao longo de décadas. Se o indivíduo – mulher, homem ou pessoa trans – não tem um parceiro para realizar a fertilização e congelar embriões, que tem as melhores chances de gravidez, ele tem a possibilidade de congelamento de óvulos ou espermatozoides. É importante lembrar que os embriões são propriedade legal de ambos os genitores, já os gametas podem ser utilizados sem autorização do parceiro. Não existem limites de idade para o congelamento de gametas, mas os melhores resultados estão entre 25-35 anos para mulheres e abaixo de 45 anos para homens. Os gametas coletados não têm prazo para serem mantidos congelados.
A criopreservação por meio da vitrificação de gametas ou embriões é a melhor técnica disponível atualmente no mundo, com taxas de sobrevivência e aproveitamento acima de 95%. O método faz uso de substâncias crioprotetoras, que, ao submergir à temperatura negativa de 196 °C, consegue interromper o metabolismo do gameta (óvulo, espermatozoide ou embrião) sem danos à célula quando descongelada. Esse fluido crioprotetor impede a formação de cristais de gelo na estrutura das células no momento da solidificação pelo nitrogênio líquido.
Daqui para um futuro bem próximo, devemos ter ainda mais novidades, pois novos processos no âmbito da criopreservação, como o congelamento de ovários ou testículos, ainda sob protocolo de pesquisas científicas, vêm sendo estudados.
• Por: Rodrigo Hurtado, médico ginecologista da clínica Origen e professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).