bruna-coimbra

26/06/2024

Fertilidade possível

Muito se fala sobre a infertilidade e, quando o tema é mencionado, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é que este é um problema das mulheres. Essa crença é um mito e precisamos falar sobre ele. A infertilidade conjugal é um diagnóstico do casal. Fatores masculinos podem estar isolados ou associados a fatores femininos em até 50% dos casos. Em homens, condições como varicocele, criptorquidia (posicionamento abdominal dos testículos ao nascer), infecções (em especial pela caxumba), fibrose cística, obstrução dos ductos deferentes, alterações hormonais e uso prévio de anabolizantes bem como uso das substâncias minoxidil e finasterida podem levar à infertilidade.

O principal exame no homem para a avaliação da infertilidade masculina é o espermograma. Através desse exame conseguimos avaliar a concentração e a qualidade dos espermatozoides no ejaculado. Assim conseguimos indicar avaliação especializada pelo andrologista em casos de alterações espermáticas e optar por diferentes técnicas de reprodução assistida, adequadas a cada caso.

A investigação da infertilidade feminina já costuma ser bem mais complexa. São necessários exames para avaliação do útero, da permeabilidade das trompas, da função ovariana e da reserva folicular. Mulheres realmente contam com uma janela de fertilidade bem menor do que a dos homens. A natureza determinou que o banco de óvulos do corpo feminino é finito. Enquanto os homens produzem espermatozoides até o final da vida, as mulheres já nascem com todos os seus óvulos e não é possível produzir novos gametas. Isso nos leva ao famoso impacto da idade na fertilidade feminina, com impacto significativo a partir dos 35 anos e ainda mais expressivo após os 40 anos.

Na maior parte das vezes, postergar a gestação, como acontece muito frequentemente nos dias atuais, é o maior risco para a concretização do sonho de ter filhos. A dica de ouro é não aguardar os 35 anos para começar a pensar sobre o congelamento de óvulos. Via de regra, toda mulher por volta dos 30 anos já deveria receber orientações sobre fertilidade no consultório médico. Ainda hoje estamos longe de tornar essa recomendação uma realidade, porém a exposição midiática de temas como endometriose e ovários policísticos têm aumentado a consciência tanto de médicos quanto de pacientes quanto à necessidade de se falar sobre fertilidade.

Hoje já não é raro que pacientes procurem atendimento ginecológico para perguntar sobre aspectos relacionados à fertilidade e buscar informações sobre sua capacidade reprodutiva. Em relação aos casos oncológicos, percebemos também aumento no encaminhamento de pacientes pelos oncologistas responsáveis para congelamento de óvulos ou sêmen ainda antes do início do tratamento, o que é muito positivo.

Ainda sobre esses casos é importante registrar os avanços médicos das últimas décadas na reprodução assistida, os quais hoje permitem que tratamentos sejam realizados mesmo para pacientes que tiveram falência ovariana precoce ou necessidade de remoção cirúrgica do útero/testículo por exemplo. A doação de gametas e do uso de um útero de substituição se tornam excelentes alternativas não apenas nessas condições, mas também para o tratamento de casais homoafetivos.

Em relação às chances de sucesso dos tratamentos, não tem como generalizar, cada caso é um caso. Para se prever as possibilidades de uma gestação para cada casal dependemos de diversas informações, como por exemplo: a presença do diagnóstico de infertilidade, o tempo transcorrido desde o início das tentativas, a causa da dificuldade para engravidar quando identificada, a existência de filhos anteriores do casal ou de cada um dos envolvidos, a frequência de relações sexuais e as possibilidades de facilitar os encontros do casal na fase fértil, a idade dos parceiros, a resposta a tratamentos prévios, a técnica de reprodução assistida utilizada e o histórico médico pessoal dos pacientes. De posse de todas essas informações, dentre várias outras, pode-se estimar as chances de sucesso para cada casal utilizando-se tabelas ou algoritmos e calculadoras validadas por órgãos de medicina reprodutiva.

Ainda assim, medicina não é matemática e alguns casos fogem das nossas expectativas e nos surpreendem tanto positiva quanto negativamente. No fim das contas, na corrida pela fertilidade, vence a agilidade. Quanto mais precoce for o diagnóstico e o tratamento adequado de doenças associadas a fertilidade, quanto mais cedo os pacientes forem orientados sobre questões associados às suas condições reprodutivas, quanto mais cedo for realizado o congelamento de óvulos, melhor. A recomendação é sempre a mesma: não postergar a gestação ou garantir o congelamento dos gametas, preferencialmente ainda antes dos 35 anos. Pense nisso!

. Por: Dra. Bruna Coimbra, Ginecologista, especialista em reprodução humana da Clínica Origen BH.